Fumei durante 20 anos, dos 16 aos 36, e tentei parar algumas vezes, sem sucesso. A crise de abstinência, em meu caso caracterizada principalmente pela ansiedade, me fazia voltar. A vitória só começou quando reconheci o fato mais importante em torno desse hábito, muitas vezes ignorado: fumar é um vício e, como em qualquer vício, o fumante não tem nenhum controle. É a nicotina quem está no comando. E, se depender dela, a gente dura menos e sofre mais. Isso já está mais do que provado. E mesmo assim, dos que tentam parar, uma porcentagem mínima consegue.
Decidido a vencer a batalha desta vez, comecei a procurar freneticamente por informações que me ajudassem a parar, e me surpreendi com a quantidade de ajuda disponível na internet. Foi lá que li o ex-fumante Drauzio Varella atestando que a nicotina tem mais poder de criar dependência rapidamente do que a cocaína e o crack. Foi muito importante saber o tamanho do inimigo – assim conheci a força necessária para superá-lo.
Foi na internet também que descobri o chiclete de nicotina, que me ajudou nos três primeiros meses. Ele dá uma aliviada na abstinência química enquanto largamos o hábito psicológico. E outro recurso indispensável é a prática de esportes. Literalmente saí correndo do vício.
Só parei de mascar o chiclete quando meu queixo começou a doer. Mas nesses três meses aprendi que o apoio de remédios não passa de um pequeno empurrão, e a verdadeira solução tem de partir de nós mesmos. Existem milhares de dicas por aí, mas as que mais me ajudaram foram do grupo Nicotina Anônimos. É lá que se aprende que, para vencer um vício, nada como um dia de cada vez. “Só por agora não fumarei”, “Evite o primeiro trago e você evitará todos os outros” foram alguns dos lemas que adotei. Já se passaram mais de dois anos e todo dia eu “não fumo”. Lembro-me até hoje da sensação agradável das tragadas de fumaça, mas agora tenho plena consciência de que aquele “prazer” era apenas o alívio da abstinência perpétua que todo fumante sofre entre um cigarro e outro. Uma verdadeira cilada.
Alguns podem não querer enxergar o problema assim, mas acho que é justamente esse um dos grandes obstáculos para se parar de fumar – e um dos grandes aliados dos fabricantes de cigarros: a falta de consciência de que o tabagismo não é um hábito sem-vergonha, mas sim uma doença, caracterizada como tal pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Conhecendo-a, pude sobreviver a ela.