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Psyllium, glucomanano e companhia: existe ‘Ozempic natural’?

Influenciadores começam a promover supostas alternativas à nova geração de medicamentos emagrecedores

Por Mauro Proença*
24 jun 2025, 10h00

Que a semaglutida (mais conhecida pelo seu nome comercial, Ozempic) revolucionou o combate à obesidade e trouxe esperança tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde, todos sabemos.

Infelizmente, devido a tamanha notoriedade, também surgiu uma nova tendência de marketing que afirma que certos produtos voltados ao emagrecimento seriam equivalentes naturais da semaglutida — e, por isso, mereceriam a alcunha de “Ozempic natural”.

Na prática, trata-se apenas de suplementos — na maioria das vezes, encapsulados — compostos por substâncias ricas em fibras solúveis com efeito sacietogênico (ou seja, que promovem a saciedade).

Entre os mais populares, destacam-se:

  • Psyllium – também chamado de “Ozempic de pobre”, é a casca da semente de plantas do gênero Plantago, um grupo de espécies cultivadas principalmente na Índia. No Brasil, há registro de 16 espécies, sendo 12 encontradas no sul do país. Seu uso deve-se ao alto teor de fibras solúveis viscosas, que formam um gel ao entrar em contato com líquidos — propriedade explorada tanto para o alívio da constipação intestinal quanto para o aumento da saciedade.
  • Glucomanano – semelhante ao psyllium, é uma fibra solúvel extraída da Amorphophallus konjac, planta perene nativa do Sudeste Asiático. Assim como o psyllium, as fibras do glucomanano formam géis com facilidade, favorecendo o trânsito intestinal e promovendo saciedade.

Chega a ser ridículo, além de irresponsável, tentar criar um paralelo entre esses produtos e a semaglutida, ou qualquer outro medicamento indicado para o tratamento da obesidade. Pior ainda é dar a entender que essa “contraparte natural”, além de ser tão eficaz quanto os fármacos, estaria isenta dos “terríveis” efeitos colaterais.

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Em vídeo publicado no TikTok, um médico seguido por 2,2 milhões de pessoas recomenda um “combo” — isento de evidências científicas — de quatro substâncias: três supostamente para controlar a glicemia e reduzir a vontade de comer doces, e um (o glucomanano que comentei anteriormente) para gerar saciedade. Tudo isso como substituto do Ozempic.

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Por óbvio, além dos mecanismos de ação serem completamente distintos, os efeitos obtidos também diferem drasticamente. Enquanto suplementos como psyllium e glucomanano atuam “dilatando” o estômago ao formar géis, promovendo uma sensação de saciedade mecânica, a semaglutida atua em nível hormonal, ajudando a regular os níveis de glicose no sangue, a fome e a digestão.

E os resultados refletem essa diferença: alguns estudos com glucomanano mostraram, ao final do tratamento, uma perda de peso próxima a 1 kg, enquanto estudos com semaglutida demonstram uma média de redução de 8 kg. Claro, trata-se de contextos distintos, com desenhos metodológicos, amostras e durações variáveis — o que abordarei em mais detalhes em breve.

Poderia facilmente encerrar o artigo com a seguinte afirmação: suplementos de fibras têm um pequeno — e digo, pequeníssimo — potencial para ajudar no emagrecimento. Eles não se comparam, de forma alguma, aos medicamentos aprovados para o tratamento da obesidade. A esdrúxula alcunha de “Ozempic natural” é apenas jogada de marketing.

Ainda assim, dada a procura crescente por esses produtos, acredito que valha a pena discutir o que essas substâncias de fato conseguem oferecer — e, principalmente, evidenciar suas diferenças cruciais em relação aos medicamentos antiobesidade.

As estratégias anteriores

Antes da semaglutida, outros medicamentos já vinham sendo indicados no tratamento da obesidade, como o orlistate, a sibutramina, a naltrexona, entre tantos outros. Cada um apresentava seu próprio mecanismo de ação, magnitude de efeito na perda de peso e, claro, efeitos colaterais — alguns toleráveis, outros preocupantes.

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Para contextualizar por que a semaglutida recebeu tanta atenção, acredito ser interessante falarmos um pouco sobre a história dos medicamentos antiobesidade. Como base teórica para esta seção, utilizei os artigos Anti-obesity drugs: past, present and future e Anti-obesity drug discovery: advances and challenges, além do capítulo An Historical Review of Steps and Missteps in the Discovery of Anti-Obesity Drugs, presente no livro Endotext.

No século 17, o médico e anatomista suíço Théophile Bonet publicou um tratado descrevendo algumas estratégias que, ouvira dizer, seriam capazes de tratar obesidade. Por exemplo:

“Chiapinius Vitellius, Mestre-de-Campo Geral, um homem de meia-idade, engordou tanto que foi forçado a sustentar a barriga com uma faixa que passava pelo pescoço. Tendo ciência de seu estado, absteve-se de vinho e passou a beber vinagre enquanto viveu; com isso, perdeu 87 libras de peso (o equivalente a 39,5 kg).”

Outros exemplos seguem essa mesma linha de experiências anedóticas, variando entre o uso de purgativos e misturas curiosas, como uma fórmula composta por tártaro (um sal ácido branco, inodoro e insípido, bastante usado em receitas culinárias), canela, gengibre e açúcar.

Felizmente — ainda que apenas em parte — essas abordagens rudimentares foram sendo abandonadas à medida que o conhecimento em fisiologia, farmacologia e outras áreas evoluiu.

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Em 1893, iniciou-se o uso do hormônio tireoidiano como tratamento para a obesidade, sendo considerado o primeiro fármaco adotado com base racional para esse fim.  Paralelamente ao uso do hormônio tireoidiano, no final do século 19 e início do século 20, foi observado que trabalhadores franceses de fábricas de munição apresentavam perda de peso devido ao contato direto com o dinitrofenol (DNP) — um composto orgânico utilizado na produção de corantes, medicamentos, herbicidas, fungicidas e explosivos.

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Com base nessas observações, pesquisadores da Universidade de Stanford iniciaram, em 1931, experimentos com o DNP em animais. Os resultados confirmaram uma perda de peso acentuada, porém acompanhada de efeitos colaterais significativos.

Como a margem entre os efeitos terapêuticos e tóxicos do DNP era estreita, os ensaios clínicos conduzidos em humanos foram realizados com cautela. Em um deles, 20 homens e 150 mulheres com obesidade receberam doses diárias de aproximadamente 300 mg de DNP, combinadas a uma dieta moderadamente restritiva. Após um período médio de 88 dias, a perda de peso média foi de 7,8 kg, com apenas cinco pacientes sem resposta significativa. Efeitos adversos leves foram observados em 28 participantes.

No entanto, nos anos seguintes, começaram a surgir relatos de eventos adversos graves, incluindo três mortes e inúmeros casos de neuropatia e catarata — estima-se que cerca de 2.500 pessoas tenham perdido a visão.

A FDA baniu o DNP em 1938, classificando-o como perigoso demais para uso humano.

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Nesse mesmo período, outra substância começou a ganhar notoriedade por seus efeitos colaterais inesperados: a anfetamina. Embora tenha sido sintetizada pela primeira vez em 1887, suas propriedades estimulantes só foram reconhecidas em 1929, quando o químico Gordon Alles ressintetizou o composto e o testou em si mesmo para avaliar se competiria com a efedrina no tratamento de asma e alergias.

Alles relatou que, naquela noite, sofreu de insônia e experimentou uma intensa sensação de bem-estar. Diante disso, teorizou que a substância poderia ajudar pacientes com narcolepsia — o que foi confirmado por estudos clínicos subsequentes. Curiosamente, os pacientes tratados para esse distúrbio do sono também apresentaram perda de peso.

Estudos posteriores constataram que a anfetamina — ou o sulfato de benzedrina, um composto patenteado por outra farmacêutica, porém de composição idêntica — auxiliava no tratamento da obesidade por três principais mecanismos: reduzir o apetite, ajudando o paciente a manter a dieta; promover uma sensação de bem-estar; e aumentar a atividade física.

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Contudo, havia problemas. Um editorial do Journal of the American Medical Association (JAMA) alertou para o risco de dependência associado ao uso prolongado, especialmente por seus efeitos nocivos ao sistema circulatório. Esse alerta mostrou-se pertinente, pois, por volta de 1937, estudantes universitários já utilizavam esses comprimidos para sentir bem-estar e permanecer acordados. Em razão do abuso e vício generalizados, a anfetamina passou a ser um medicamento de prescrição rigorosamente controlada. Ainda assim, o vício — sobretudo da metanfetamina — continua a representar um grave problema de saúde pública.

Em 1940, pouco depois do editorial do JAMA, surgiu uma nova abordagem terapêutica para o combate à obesidade: as chamadas “Rainbow Pills” — ou pílulas arco-íris — definidas como qualquer combinação de comprimidos (anfetaminas, laxantes e hormônios da tireoide), tipicamente de diferentes cores, ingeridos para reduzir o apetite e promover a perda de peso.

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Além desses ingredientes, as Rainbow Pills frequentemente continham diuréticos, digitalinas — medicamentos que induziam náusea e, consequentemente, perda de peso — e barbitúricos, sedativos-hipnóticos usados para mitigar os efeitos estimulantes da anfetamina, como ansiedade e insônia.

Porém, entre 1967 e 1968, diversas mortes atribuídas ao uso dessas pílulas levaram a uma investigação no Senado dos EUA e, posteriormente, à implementação gradual de restrições rigorosas sobre a comercialização de medicamentos para manejo da obesidade.

Outro exemplo de medicamento com desfecho trágico foi a fenilpropanolamina, uma droga simpaticomimética, ou seja, que estimulava o sistema nervoso simpático, elevando a pressão arterial e contraindo vasos sanguíneos, além de promover a perda de peso. Devido aos efeitos adversos cardiovasculares e à associação significativa com acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos, a FDA determinou, em 2000, a remoção da substância de todos os produtos farmacêuticos.

Outros casos notórios de drogas para o tratamento da obesidade que acabaram proibidas incluem:

A fenfluramina, desenvolvida na França na década de 1960,  semelhante à anfetamina. Em 1981, surgiram dois casos de hipertensão pulmonar associados ao seu uso, número que subiu para 12 até 1993. Apesar disso, a droga continuou sendo prescrita, especialmente em combinação com fentermina — supressor de apetite que eleva os níveis de serotonina, noradrenalina e dopamina —, promovendo perdas de peso significativas com menos efeitos colaterais.

O sucesso dessa combinação, conhecida como Fen-Phen, levou a mais de 500 mil prescrições e cerca de 4 milhões de usuários nos EUA em 1995. No entanto, em 1997, relatos de problemas cardíacos em usuários de Fen-Phen motivaram investigações que revelaram que até 30% dos pacientes tratados com fenfluramina, isolada ou combinada, poderiam ser afetados. Como consequência, fenfluramina e dexfenfluramina foram retiradas do mercado mundialmente em 1997

Como podemos observar, a farmacoterapia da obesidade possui uma longa e conturbada história, marcada por medicamentos promissores que acabaram sendo retirados do mercado devido a preocupações com a segurança. Entre aqueles que romperam essa barreira e continuam sendo utilizados, existe uma ampla variedade de mecanismos de ação, que vão desde a redução da absorção de gordura na digestão à ação sobre neurotransmissores que regulam o apetite.

Apesar das opções disponíveis, a verdadeira revolução — que também ganhou enorme destaque na mídia — foi a introdução da semaglutida, desenvolvida pela farmacêutica Novo Nordisk.

A revolução

Como descrito no artigo “The Discovery and Development of Liraglutide and Semaglutide, os ensaios clínicos bem-sucedidos com a liraglutida, um medicamento para diabetes que cumpre o mesmo papel do GLP-1 — um hormônio natural do corpo humano que produz sensação de saciedade, diminui o apetite e desacelera a absorção de calorias — levaram a um aumento do interesse por outras moléculas e terapias de base semelhante.

Como a substância precisava ser administrada diariamente para tratar tanto o diabetes tipo 2 (DM2) quanto a obesidade, a adesão foi um desafio para muitos pacientes. Isso motivou o desenvolvimento de análogos de GLP-1 de aplicação semanal.

Uma série de dificuldades – do risco de reações alérgicas à necessidade de fazer a substância permanecer ativa no organismo por vários dias, sem ser eliminada – foram sendo superadas, até que se chegasse à semaglutida.

Resultados da primeira etapa dos testes clínicos em humanos com a substância foram publicados em 2021 no New England Journal of Medicine com o título Once-Weekly Semaglutide in Adults with Overweight or Obesity. O estudo teve como objetivo testar a eficácia e a segurança da semaglutida, em comparação ao placebo, como adjuvante à intervenção no estilo de vida para a redução do peso corporal e o alcance de outros desfechos relacionados, em adultos com sobrepeso ou obesidade sem diabetes.

Para isso, foi conduzido um estudo randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, em 129 centros de pesquisa de 16 países da Ásia, Europa, América do Norte e América do Sul. O estudo, com duração de 68 semanas, incluiu 1.961 participantes adultos que já haviam tentado, sem sucesso, métodos dietéticos para perda de peso.

Como resultado, entre junho e novembro de 2018, dos 1.961 participantes (1.306 no grupo semaglutida; 655 no placebo), 94,3% completaram o estudo, 91,2% tiveram avaliação de peso final e 81,1% aderiram ao tratamento.

A partir da quarta semana, o grupo semaglutida apresentou perda de peso progressiva, atingindo o ponto mais baixo na semana 60. Ao final do tratamento, a redução média de peso foi de -14,9% no grupo semaglutida e -2,4% no placebo.

A mudança no peso corporal do valor basal até a semana 68 foi de -15,3 kg no grupo semaglutida e -2,6 kg no grupo placebo.

A semaglutida também foi associada a reduções significativamente maiores em comparação ao placebo em diversos parâmetros: circunferência da cintura (-13,53 cm vs. -4,13 cm), IMC (-5,54 kg/m² vs. -0,92 kg/m²) e pressão arterial, entre outros.

No caso dos efeitos colaterais, estes foram relatados em percentuais semelhantes entre os grupos (89,7% no grupo intervenção vs. 86,4% no grupo controle), sendo que distúrbios gastrointestinais, como náusea, diarreia, vômito e constipação, foram os eventos mais frequentes e ocorreram em mais participantes que receberam semaglutida do que placebo (74,2% vs. 47,9%). A maioria desses eventos foi de gravidade leve a moderada e transitória.

É importante mencionar que o estudo foi financiado pela Novo Nordisk, e muitos de seus autores mantêm vínculos com a empresa, sendo funcionários, membros do comitê consultivo ou recebendo honorários por palestras em nome da farmacêutica

Só para contextualizar o quanto esses resultados são impressionantes, uma revisão sistemática com metanálise recente, publicada no Lancet e intitulada Safety and effects of anti-obesity medications on weight loss, cardiometabolic, and psychological outcomes in people living with overweight or obesity: a systematic review and meta-analysis, teve como objetivo resumir as pesquisas mais recentes sobre farmacoterapias para perda de peso.

Foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados publicados até 8 de junho de 2024 que avaliaram farmacoterapias aprovadas pela FDA ou pela EMA (Agência Europeia de Medicamentos) para o tratamento de sobrepeso ou obesidade. Entre eles, o “filhote” mais recente da onda GLP-1, a tirzepatida — mais conhecida pelo nome comercial Mounjaro — um medicamento que também cumpre o papel do GIP, hormônio que estimula a secreção de insulina em resposta à alimentação.

Todos os medicamentos demonstraram eficácia na redução do peso corporal. Contudo, observou-se que a tirzepatida resultou na maior redução média, com 11,69 kg, seguida da semaglutida, com 8,48 kg; e da liraglutida, com 4,18 kg.

O estudo, naturalmente, apresenta limitações relevantes, como a heterogeneidade nos desfechos e a possível presença de outros fatores que podem ter afetado os resultados.

Apesar disso, verificou-se que, antes da introdução da semaglutida — e de seu atual concorrente direto, a tirzepatida — a perda de peso proporcionada pelos medicamentos com maior eficácia e segurança variava entre 2,19 kg e 5,67 kg. Agora, pode-se chegar a mais de 10 kg.

Mas por que isso é importante? Simples: na última seção do artigo, investigaremos qual é a média de perda de peso ao utilizar o psyllium ou o glucomanano.

E os tais suplementos?

Começando pelo psyllium, acredito que o estudo mais elucidativo foi publicado em 2020 na revista Critical Reviews in Food Science and Nutrition.

Com o título The effects of psyllium supplementation on body weight, body mass index and waist circumference in adults: A systematic review and dose-response meta-analysis of randomized controlled trials, trata-se de uma revisão sistemática com metanálise de dose-resposta baseada em ensaios clínicos randomizados.

Inicialmente, foram identificados 533 artigos. Contudo, após uma triagem mais detalhada, restaram 22 estudos.

Todos foram publicados entre 1983 e 2018, totalizando 1458 participantes (730 no grupo intervenção e 728 no grupo controle), com idades variando entre 18 e 80 anos, e a maioria dos estudos foi conduzida em indivíduos com sobrepeso ou obesidade.

Psyllium foi administrado em doses variando de 1,7g/dia a 15 g/dia, dentro de intervenções que duraram entre duas e 48 semanas.

A conclusão geral foi de que não foram observados efeitos significativos do consumo de psyllium sobre o peso corporal, IMC e circunferência da cintura em adultos. Os autores ressaltaram a necessidade de estudos adicionais, com maior escala, diferentes doses e períodos de intervenção mais longos para confirmar esses resultados.

Apesar de a conclusão e os achados me surpreenderem — eu acreditava piamente que o psyllium promoveria reduções mais expressivas — é preciso destacar algumas limitações importantes apontadas pelos autores. A primeira, e mais evidente, foi a alta heterogeneidade nas análises, decorrente das diferentes dosagens, períodos de intervenção, estados fisiológicos dos participantes, entre outros fatores.

Além disso, na maioria dos estudos, não foram realizados ajustes para potenciais fatores de confusão.

Também vale mencionar que, em alguns casos, o grupo controle recebeu intervenções com potencial terapêutico ao invés de placebo puro, o que possivelmente fez o psyllium sofrer na comparação e reduzindo o efeito observável.

Apesar dessas limitações, que de fato impedem afirmar com total confiança que o psyllium é ineficaz para perda de peso, os achados indicam que, apesar da tentativa de muitas empresas de suplementos e influenciadores de saúde de vendê-lo como um “Ozempic de pobre”, a substância é, no melhor cenário, um auxiliar marginal.

Em relação ao glucomanano, destaco o estudo “Effects of glucomannan supplementation on weight loss in overweight and obese adults: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials”, publicado em 2020 na revista Obesity Medicine.

Neste trabalho, foi conduzida uma revisão sistemática com metanálise para avaliar a eficácia da suplementação de glucomanano na redução do peso corporal, baseada em evidências provenientes de ensaios clínicos randomizados.

Foram incluídos somente estudos randomizados que compararam o efeito do glucomanano com placebo, envolvendo adultos maiores de 18 anos que não utilizaram outras intervenções concomitantes.

A busca inicial resultou em 134 publicações, porém, após a aplicação dos critérios de inclusão, a análise final contemplou seis estudos publicados entre 1984 e 2015, totalizando 255 participantes com sobrepeso ou obesidade. As doses de glucomanano variaram entre 1,24 g e 3,99 g, e a duração das intervenções ficou entre 5 e 12 semanas.

A metanálise demonstrou que o consumo de glucomanano levou a uma redução significativa no peso corporal, com uma diferença média de 0,96 kg em relação ao grupo controle.

No entanto, há relatos conflitantes sobre a eficácia, possivelmente causados por diferenças entre os estudos avaliados, como variações nas doses, características dos participantes, tamanhos amostrais, duração dos estudos e qualidade metodológica.

Por fim, não foi investigado se fatores externos, como padrões alimentares e estilo de vida, poderiam ter influenciado os resultados.

Apesar dos resultados do glucomanano (redução média de 0,96 kg) serem superiores aos do psyllium (sem redução significativa), ambos ficam fundamentalmente aquém do efeito observado com a semaglutida, que promove uma redução média de 8,48 kg. Isso sem considerar a diferença na qualidade metodológica entre os estudos: enquanto as pesquisas sobre os suplementos apresentam qualidade baixa a média, os estudos sobre o medicamento, apesar de suas limitações, são de alta qualidade.

Com base nisso, acredito que ficou claro que o termo “Ozempic Natural” ou quaisquer outras analogias semelhantes não passam de tentativas de marketing para “surfar” no sucesso de um medicamento eficaz, e, assim, vender produtos que não têm respaldo científico consistente até o momento.

Dito isso, cabe destacar que este artigo não defende o uso indiscriminado de agonistas de GLP-1. Esses medicamentos devem ser utilizados apenas quando houver uma indicação médica legítima, como obesidade ou diabetes mellitus tipo 2, e sob prescrição e acompanhamento rigoroso. O uso por conta própria pode acarretar riscos graves à saúde.

Mas isso significa que você não pode usar psyllium ou glucomanano? De forma alguma. Contudo, é importante ter consciência de que, em termos de benefícios para a perda de peso, é improvável que eles provoquem reduções significativas. Além disso, quaisquer reduções, provavelmente – para não dizer com toda a certeza – só ocorrerão na presença de uma dieta hipocalórica e no aumento dos exercícios físicos.

*Mauro Proença é nutricionista; Revista Questão de Ciência

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