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Primeira vacina contra um verme está a um passo de virar realidade

Imunizante para esquistossomose criado no Brasil está em fase final de testes e poderá salvar milhões de pessoas em regiões mais carentes

Por Diego Alejandro
Atualizado em 19 jun 2023, 17h05 - Publicado em 19 jun 2023, 10h21

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está a poucos passos de concluir o processo de produção da vacina Schistovac contra a esquistossomose, doença causada por vermes que provoca grandes barrigas inchadas em crianças e adultos nas regiões mais pobres do hemisfério sul, incluindo o Brasil, mas especialmente na África.

Testes pré-clínicos do imunizante em animais de laboratório foram capazes de reduzir as infecções por Schistosoma masnoni em camundongos e coelhos em mais de 90%. Em humanos, a vacina se mostrou segura, sendo o principal efeito colateral a dor no local da aplicação. 

Trata-se da primeira vacina do mundo contra uma doença parasitária, uma causa antiga dentro da Fiocruz. Os estudos de vacinas começaram na década de 1980, quando o objetivo era proteger o gado de infecções parasitárias. Após décadas de desinteresse da indústria farmacêutica em países desenvolvidos e algumas tentativas frustradas, o projeto chegará à fase final este ano. 

Os últimos detalhes também estão sendo acertados com Organização Mundial da Saúde (OMS), para que se conceda à vacina o certificado necessário. Depois de testar o imunizante em 300 pessoas no Brasil, agora ela será avaliada em outras 2.000 no Senegal.

A expectativa é que o produto possa entrar para o rol do Sistema Único de Saúde (SUS) no final de 2025.

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Barriga-d’água

A esquistossomose, popularmente conhecida no Brasil como “barriga-d’água”, está intimamente ligada às más condições sanitárias e à falta de redes de esgoto e água potável. Por isso afeta mais as regiões e os países mais pobres.

A transmissão ocorre através das larvas dos ovos dos caracóis parasitas, que penetram na pele humana. Uma vez no sangue, as larvas se transformam e se instalam em órgãos como o fígado. Os vermes adultos podem acabar nas veias do intestino ou da bexiga, levando ao característico estômago inchado.

A vacina contém a proteína Sm14, presente no Schistosoma. Essas moléculas são fundamentais porque transportam as gorduras necessárias que garantem a sobrevivência do parasita. Mas a proteína da vacina é modificada e impede o transporte delas, evitando, assim, a proliferação do verme. 

A descoberta pode mudar drasticamente a paisagem em dezenas de países onde a doença é atualmente tratada com medicamentos. Nesta semana, pesquisadores do Instituto Butantan descobriram que os vermes só podem sobreviver na corrente sanguínea do hospedeiro se estiverem bem ‘acasalados’, com a fêmea vivendo dentro do macho e produzindo ovos. 

Ao estudar essa característica única, a equipe coordenada por Murilo Sena Amaral, pesquisador no Laboratório de Ciclo Celular do instituto, também concluiu que o silenciamento de um tipo específico de RNA, que realiza a síntese de proteínas das células do corpo, pode separar o casal de vermes, impossibilitando a liberação de ovos e a sobrevivência dos vermes. 

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Ou seja, esse pode ser um alvo para fins terapêuticos. Embora tenha uma baixa taxa de mortalidade, a esquistossomose reduz drasticamente a qualidade de vida. Afeta, por exemplo, o aprendizado das crianças nas escolas e o desempenho no trabalho de jovens adultos.

Segundo a OMS, estima-se que a cada ano 200 milhões de pessoas sejam infectadas pelo parasita, enquanto outros 800 milhões vivam em áreas de alto risco. Na África, a doença ocorre em 74 países e, na América Latina, 95% dos casos são notificados no Brasil. Em todo o mundo, é a segunda moléstia parasitária mais devastadora socioeconomicamente, perdendo apenas para a malária.

Doenças negligenciadas

No início do mês, o Ministério da Saúde anunciou a criação de uma força-tarefa, que envolve nove ministérios, para atuar na luta pela eliminação de oito doenças que atingem as populações de mais vulneráveis e medidas de controle de outras quatro até 2030.

Batizado como Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDS), a iniciativa inédita terá como alvo esquistossomose, doença de Chagas, malária, hepatites virais, tracoma (conjuntivite bacteriana), filariose (elefantíase), oncocercose (cegueira dos rios), geo-helmintíases (verminoses), tuberculose, HIV, hanseníase e sífilis – os três últimos serão alvo de ações para controle e redução seguindo as metas da Organização Mundial de Saúde (OMS) a serem atingidas até 2030.

As enfermidades foram selecionadas com base na estratégia prevista nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) de enfrentar doenças que se configuram como problemas de saúde pública, como malária, doença de Chagas e hepatites, e erradicar a transmissão vertical (da mãe para o filho) do HIV, sífilis e hepatite B.

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