Recentemente, um vídeo começou a circular na internet revelando uma pílula que ao ser ingerida, se transforma em um balão gástrico e teria efeito semelhante ao da cirurgia bariátrica. Parece fake news? Mas não é! Segundo o serviço nacional de saúde do Reino Unido (NHS), a funcionalidade da pílula foi comprovada em um estudo realizado com 119 pacientes — em sua maioria mulheres.
O dispositivo é capaz de reduzir o volume do estômago e, consequentemente, a quantidade de alimento ingerido, colaborando com a perda de peso. Segundo especialistas, a medicação pode ser um método menos invasivo — em comparação com a cirurgia — capaz de controlar o peso em indivíduos com índice de massa corporal (IMC) elevado. A pílula também pode ser uma alternativa para pacientes obesos com comorbidades, como diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia (níveis de colesterol altos). A existência de outras doenças é uma das condições analisadas antes da cirurgia bariátrica.
Critérios
Para ser considerado, um candidato à bariátrica, o paciente deve ter entre 18 e 65 anos, IMC igual ou superior a 40 kg/m² (com ou sem comorbidades) ou entre 35 e 39,9 kg/m², com comorbidades como diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia, que melhoram quando a obesidade é tratada. Outra exigência é ter falhado no tratamento clínico realizado por pelo menos dois anos. Além disso, a pessoa não pode apresentar algumas situações específicas, como limitação intelectual, distúrbios psiquiátricos e etilismo atual ou recente.
No caso da pílula — que foi aprovada indivíduos com sobrepeso ou obesidade pelo Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) em 2014 —, a recomendação é para para pessoas com IMC de 27 acima que não tenham conseguido perder peso através de dieta e exercício.
‘Pílula bariátrica’
De acordo com o NHS, a pílula é composta por três balões leves que são colocados no estômago ao longo de 12 semanas. O número de balões usados depende do progresso da redução de peso: inicialmente apenas um balão é inserido, com adições posteriores a cada 30 dias, se necessário. O balão é ligado a um pequeno tubo que é usado para inflá-lo no momento em que chega ao estômago; em seguida ele é inflado com gás através de um tubo removível. Informações da Obalon, fabricante do produto, o procedimento leva cerca de 15 minutos e não é necessária sedação ou anestesia.
“Pacientes que apresentem contraindicações ou que não desejem a cirurgia bariátrica, mas se enquadrem nas indicações da pílula-balão podem sim serem beneficiados. De modo geral, esse balão se apresenta como uma alternativa, mas não substitui a cirurgia bariátrica em muitos casos”, explicou Marcos Belotto, gastrocirurgião do Hospital Sírio Libanês de São Paulo.
Durante o período de pesquisa, pouco menos da metade recebeu um segundo balão e outros seis um terceiro. A taxa de abandono foi de 7,6%, com 110 participantes completando pelo menos oito semanas de tratamento. A fabricante apontou que as mulheres obtiveram uma redução média de 8 quilos — o que representaria aproximadamente 50% da perda excessiva de peso. Esses resultados são semelhantes aos da cirurgia bariátrica, que resulta em 50% a 70% de redução. Segundo o jornal britânico The Guardian, Helene Fleckney, paciente que utilizou a pílula, relatou que o medicamento realmente a ajudou na luta contra a balança. “Eu ainda não estou completamente no processo de tratamento e já perdi 6 quilos”, disse.
Já Sally Norton, especialista em perda de peso, ressaltou que o produto tem efeitos colaterais mínimos, de fácil instalação e muito bem tolerado. “Ele dá aos pacientes um aumento inicial de perda de peso, mas também ajuda a mudar o comportamento alimentar, necessário para a perda de peso a longo prazo”, explicou ao The Guardian. Assim como na cirurgia bariátrica, o uso da pílula deve ser associado a uma boa alimentação e a prática de atividade física.
Riscos
No ensaio clínico, cerca de um em cada dez participantes relatou náusea, 6,7% relataram vômito e 7,6% solicitaram a remoção precoce dos balões, mas nenhuma complicação séria foi registrada. Apesar disso, profissionais de saúde recomendam o acompanhamento constante dos pacientes durante as 12 semanas para que seja possível detectar possível complicações, como: deflação do balão, que pode resultar em obstrução intestinal; refluxo, indigestão, dor de estômago e cólicas, prisão de ventre, diarreia, inchaço, úlcera gástrica e lesão no estômago ou esôfago.
“Por tratar-se de um corpo estranho no interior do estômago, o paciente pode apresentar quadros importantes e de risco à saúde do paciente, exigindo a retirada imediata dos balões”, comentou Belotto. O medicamento não é indicado para indivíduos com distúrbios gastro-esofágico, diabetes tipo 1 e mulheres que estão grávidas (ou pretendem engravidar) ou estejam amamentando.
Além disso, o Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos para a Saúde do Reino Unido alertou que a pílula não deve ser utilizada em altitudes superiores a 660 metros acima do mar já que menor pressão atmosférica pode resultar em inflação excessiva do balão.
(Com Estadão Conteúdo)