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Para não esquecer

Procedimento médico que recupera memória de pacientes é considerado um dos feitos mais promissores da neurologia nas últimas décadas

Por Adriana Dias Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 dez 2018, 07h00 - Publicado em 21 dez 2018, 07h00

Um ousado procedimento médico desenvolvido neste ano revelou-se capaz de impulsionar o mecanismo que forma e preserva as lembranças. O impacto surpreendeu a comunidade científica. Eletrodos implantados em uma área específica do cérebro, o hipocampo, recuperaram 15% da memória de pacientes testados. A taxa equivale ao que se perde em dois anos e meio com a degeneração provocada pelo ­Alzheimer, por exemplo. Ou ao que se esvai naturalmente em dezoito anos de vida de uma pessoa saudável. Traduzindo: quem tem 56 anos hoje poderia, em tese, voltar a ter a mesma memória dos 38 anos. Revelado pela revista Nature Communications em junho, o novo procedimento é considerado um dos feitos mais promissores da neurologia nas últimas décadas, desde a disseminação dos aparelhos de ressonância magnética, que revelam o cérebro em atividade.

Dezenas de eletrodos minúsculos, de 2,3 milímetros cada um, foram implantados no córtex lateral de 25 pacientes. O córtex lateral é a região do cérebro associada ao processamento de informações. A cirurgia para a implantação dos eletrodos durou, em média, três horas. Em seguida, os participantes foram orientados a memorizar uma lista com doze palavras aleatórias, como “bala”, “doce” e “carro”. Cada uma foi exibida em uma tela durante dois segundos. Pediu-­se a todos os pacientes, então, que fizessem contas simples, tarefa cujo único objetivo era distraí-los da anterior. Na sequência, eles tinham de dizer aos pesquisadores de quais palavras conseguiam se lembrar. Durante todo o procedimento, a atividade cerebral dos pacientes era registrada pelos eletrodos. Com isso, os cientistas conseguiram definir dois padrões de ondas cerebrais: um para os momentos em que a memória funcionava bem e o outro para quando ia mal. Com base nisso, os eletrodos foram programados para liberar pequenos choques elétricos no cérebro do paciente (que não sente nada) sempre que sua onda cerebral não funcionasse bem. Resultado: as lembranças melhoraram nas pessoas com eletrodos.

A memória é uma das funções mais complexas do cérebro. Ela está relacionada a dezenas de áreas do órgão, das quais o hipocampo é uma das mais decisivas. Em conjunto com o córtex, ele garante que o organismo colete, conecte e crie as lembranças a partir de experiências. É, portanto, o primeiro passo para a formação da memória. Mais recentemente, a medicina identificou que o mecanismo da memória é ainda mais intrincado do que se imaginava. Ele está associado também aos hábitos de vida. Hoje, sabe-se que 30% dos casos de perda de memória grave podem ser evitados com comportamentos saudáveis e exercícios de treinamento mnemônicos. O procedimento com eletrodos ainda é experimental, mas constitui um passo definitivo para o início de uma era memorável.

Publicado em VEJA de 26 de dezembro de 2018, edição nº 2614

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