Após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informar um terceiro surto de Candida auris no Brasil – um superfungo multirresistente aos antifúngicos existentes, altamente transmissível e responsável por infecções hospitalares – um estudo realizado em laboratórios da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, publicado pela revista Pharmaceutics, trouxe uma esperança: o óleo essencial extraído do Alecrim-pimenta (Lippia sidoides), planta abundante no Nordeste, se mostrou eficaz no combate ao fungo que causa uma doença com sintomas como febre alta, tontura, fadiga, aumento da frequência cardíaca, vômitos e sepse, e que pode ser fatal, detectada pela primeira vez em dezembro de 2020, em 50 países, inclusive no Brasil.
Coordenada pelos professores Wanderley Pereira Oliveira e Marcia Regina von Zeska Kress, em parceria com a doutoranda e pesquisadora Iara Baldim, o trabalho usou nanotecnologia para desenvolver um novo produto a partir da planta: uma nanocamada (escala molecular) feita “à base de sistemas lipídicos” que envolve esse óleo essencial com propriedades bactericidas e fungicidas. Segundo os pesquisadores, essa tecnologia maximiza o potencial de uso da substância ativa do alecrim-pimenta, diminuindo a toxicidade e aumentando tanto a estabilidade quanto a atividade antimicrobiana.
Mas, apesar das propriedades benéficas, o óleo essencial do alecrim-pimenta pode causar irritações na pele e reações alérgicas. Por isso, o Laboratório de P&D em Processos Farmacêuticos (LAPROFAR) da FCFRP realizou vários testes para mapear seu mecanismo de ação, especialmente contra esse superfungo. “Os resultados até o momento garantem que o óleo essencial do alecrim-pimenta é multicomponente e pode atuar de diferentes maneiras ao mesmo tempo, inibindo o crescimento do fungo e de outras bactérias”, diz Oliveira.
Os próximos passos são transformar o óleo essencial do alecrim-pimenta em terapia, já que “os sistemas produzidos têm se mostrado eficazes para o controle de patógenos resistentes a medicamentos”, completa o pesquisador. Estudos sobre o comportamento do produto no sistema gastrointestinal (para administração via oral) e permeação transdérmica (via tópica) estão em andamento, além da possibilidade de associação a fármacos tradicionais com a intenção de mitigar a resistência do fungo. “Diversas pesquisas também avaliam possíveis comportamentos sinérgicos entre as nanopartículas e medicamentos tradicionais na eliminação da resistência de microrganismos como é o caso da Candida auris”, informa Oliveira.