A obesidade pode atingir 50% das crianças e adolescentes brasileiros em 2035 se medidas não forem adotadas para frear a escalada da doença. O alerta é da edição de 2024 do Atlas Mundial da Obesidade, que projeta que a população com essa condição pode saltar de 15,6 milhões (2020) para 20,4 milhões em 11 anos. Para os adultos, a estimativa é de que o número de pessoas que vivem com a doença aumente 1,9% por ano.
O levantamento, realizado pela Federação Mundial de Obesidade (WOF, na sigla em inglês) e que está na sexta edição, utilizou dados de 186 países e estima que 3,3 bilhões de adultos podem ser afetados pela condição até 2035, um quadro que pode sobrecarregar sistemas de saúde, tendo em vista que a obesidade está ligada a doenças como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares e câncer.
O cálculo para determinar a obesidade tem como base o peso e a altura, utilizados para se chegar ao índice de massa corporal (IMC). Em adultos, considera-se que o paciente se enquadra no diagnóstico de obesidade quando o IMC é maior ou igual a 30kg/m².
“Nós temos observado há décadas um avanço crescente da obesidade. Esse olhar ficou muito focado nos adultos, mas o Atlas da Obesidade deste ano reafirma a preocupação que devemos ter com o excesso de peso entre as crianças”, diz Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). “Isso demonstra que, no futuro enfrentarão, problemas associados ao excesso de peso cada vez mais precocemente, o que certamente impactará sobre o desenvolvimento de diabetes, pressão alta e na sobrevida desta parcela da população”, completa.
Os riscos da obesidade
O levantamento mostra que governos e populações terão grandes desafios para evitar que a epidemia continue crescendo. Um deles é a ampla oferta de alimentos ultraprocessados, principalmente no dia a dia das grandes cidades.
Um estudo publicado no fim do mês passado no periódico BMJ Global Health apontou a relação entre esses produtos e 32 problemas de saúde. Os pesquisadores concluíram que eles “prejudicam a saúde e encurtam a vida.”
“A obesidade gera uma pressão enorme sobre o sistema de saúde e, portanto, aumento dos custos a longo prazo. Então, é importante que os governos entendam isso para focar em estratégias de prevenção e tratamento que podem ter um custo inicial, mas podem também salvar muito no futuro se forem bem sucedidos” afirma Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
Mundo tem mais de 1 bilhão de casos de obesidade
Uma análise global publicada no periódico The Lancet mostrou que o número de pessoas que vivem com obesidade passou de 1 bilhão e comprovou o cenário epidêmico da condição, principalmente entre os mais jovens: no período de 1990 a 2022, as taxas de obesidade quadruplicaram entre crianças e adolescentes. Entre adultos, as taxas saltaram de 8,8% para 18,5% em mulheres e quase triplicaram nos homens, passando de 4,8% para 14%.
Segundo o levantamento, 159 milhões de crianças e adolescentes, da faixa etária de 5 a 19 anos, e 879 milhões de adultos viviam com obesidade no ano de 2022. Para realizar o estudo, mais de 1.500 investigadores se debruçaram nas medidas de peso e altura, usadas para calcular o índice de massa corporal (IMC), de 220 milhões de pessoas com 5 anos ou mais de 190 países.