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Nova classificação visa ampliar diagnóstico e tratamento da obesidade

Documento de entidade europeia pretende ampliar escopo da avaliação, considerando não apenas o IMC mas também outros indicadores de saúde

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 jul 2024, 13h38

A obesidade é uma condição crônica que afeta mais de 1 bilhão de pessoas globalmente, e sua classificação e tratamento têm sido temas de constante debate. Nesta sexta-feira, 5, a Sociedade Europeia para o Estudo da Obesidade (AESO) publicou um novo documento na revista científica Nature, propondo mudanças significativas na forma como a obesidade é diagnosticada e tratada.

Essas mudanças têm o potencial de impactar profundamente a abordagem médica em relação à doença, que acomete cerca de 20% dos brasileiros, segundo o mapa da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

Atualmente, a obesidade é classificada principalmente com base no Índice de Massa Corporal (IMC). Este índice é calculado dividindo o peso da pessoa (em quilos) pela sua altura (em metros) ao quadrado. Um IMC de 25 a 29,9 é considerado sobrepeso, enquanto um IMC de 30 ou mais é classificado como obesidade.

No entanto, tal abordagem tem sido criticada por sua simplicidade e por não levar em conta outras medidas importantes de saúde, como a distribuição de gordura corporal, especialmente na região da barriga, e a presença de comorbidades​​ como diabetes e hipertensão.

As propostas da AESO

O novo documento europeu sugere um olhar mais abrangente e baseado em evidências para a classificação da obesidade. Em vez de depender exclusivamente do IMC, a AESO propõe que o diagnóstico leve em consideração outras métricas, caso da relação cintura/quadril (a proporção da circunferência da cintura pela circunferência dos quadris) e da adiposidade total (quantidade total de gordura corporal).

Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), exlica que esse consenso pode implicar um diagnóstico mais abrangente e fidedigno para a condição. “Pessoas com IMC acima de 25, hoje com diagnóstico de sobrepeso, podem ser diagnosticadas com obesidade, caso tenham uma relação cintura/quadril alterada ou caso a gente leve em consideração também o excesso de adiposidade”, explica o médico. “A proposta é não se basear mais necessariamente apenas no IMC acima de 30”.

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Para o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Abeso, a diretriz é inovadora ao aumentar o escopo de definição da obesidade para pessoas de ascendência europeia, que tenham um IMC acima de 25 e com uma circunferência abdominal aumentada. Ou seja, são parâmetros mais precisos para averiguar o paciente e as potenciais ameaças à saúde.

“Se a circunferência abdominal de uma pessoa for mais do que metade da sua altura, ela pode ser considerada de alto risco agora. E, se tiver alguma condição médica, funcional ou psicológica e um IMC entre 25 e 30, podemos constatar a obesidade” esclarece Halpern. “O que seria sobrepeso em outras classificações aqui seria obesidade, e a diretriz considera que o tratamento de pessoas nessa situação deve ser exatamente igual ao das outras“, conclui. 

Nova perspectiva no controle

Além da proposta da AESO, a SBEM e a Abeso publicaram uma nova diretriz que recomenda uma classificação adicional baseada no histórico de peso máximo atingido na vida e na porcentagem de perda de peso alcançada.

Essa abordagem oferece uma nova perspectiva para o manejo clínico da obesidade, destacando os benefícios clínicos de uma modesta perda de peso e ajudando pacientes e profissionais de saúde a focarem na manutenção em vez de uma redução adicional, muitas vezes difícil de alcançar devido a adaptações metabólicas e fatores ambientais.

Vale ressaltar que classificação não pretende substituir outras existentes, mas servir como uma ferramenta adjunta, útil em ensaios clínicos para avaliar possíveis diferenças nos resultados terapêuticos entre indivíduos com IMCs semelhantes, mas trajetórias de peso distintas.

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Ela busca disseminar melhor os benefícios à saúde advindos de uma perda de peso clinicamente alcançável e enfatiza a importância de obter um histórico preciso da trajetória de peso do indivíduo durante a avaliação e controle da obesidade e distúrbios relacionados.

Panorama da obesidade no Brasil e no mundo

Globalmente, mais de 1 bilhão de adultos apresentam obesidade, segundo análise publicada no periódico The Lancet. No Brasil, a situação é alarmante: 41,2 milhões de adultos estão nessas condições, o que representa cerca de um quarto da população adulta​​.

O quadro está associado a uma série de complicações de saúde, incluindo diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer. Além disso, a obesidade é uma das principais causas de mortalidade evitável no país​​.

A proposta da AESO procura proporcionar um diagnóstico mais preciso, permitindo uma melhor personalização do tratamento. Isso pode levar a uma maior adesão ao plano terapêutico e melhores resultados para os pacientes, que muitas vezes se sentem desmotivados pela atual classificação baseada apenas no Índice de Massa Corporal.

Além disso, ao considerar não apenas o IMC, mas também outros indicadores de saúde, os médicos podem reconhecer a obesidade em um estágio mais inicial, o que diminuiria o risco de complicações graves associadas à doença no médio e longo prazo.

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