Recentemente, a morte de centenas de crianças na Índia foi associada ao consumo de lichia. Segundo o estudo, publicado na revista científica The Lancet, a condição, que provoca convulsão, perda de consciência e pode levar ao óbito, é causada pela ingestão da fruta quando a criança está de estômago vazio. Mas, a lichia seria capaz de fazer mal? De acordo com a nutricionista Gisele Paiva, sim. Mas em condições extremas.
“A lichia tem uma substância chamada hipoglicina, que altera o metabolismo da glicose pelo corpo e faz com que os níveis de glicose no sangue caiam. Mas isso só vai ser um problema se os níveis de glicose já estiverem muito baixos e se você comer uma quantidade muito grande de lichia. Caso contrário, não há razão para se preocupar.”, explica Gisele, nutricionista da Clínica DrummonDermato.
Esse foi o caso das crianças na Índia. Segundo o estudo, a maioria das vítimas vivia em uma área pobre na região que é a maior produtora de lichia do país. As crianças que não estavam em boas condições nutricionais e já apresentavam baixos níveis de açúcar no sangue por não terem se alimentado nas últimas horas, comiam as frutas – provavelmente em grande quantidade – que caíram dos pés nas plantações.
De acordo com os relatos dos familiares, as crianças acordavam no meio da madrugada gritando, antes de sofrer convulsões e perder a consciência em função de inchaço no cérebro.
“A glicose é o nutriente mais importante do cérebro. A falta dele provoca fraqueza excessiva, tontura, perda de memória, sonolência e, quando atinge um nível muito baixo, pode levar à morte.”, diz Gisele.
Desde que os médicos passaram a recomendar que os moradores não deixem as crianças ficarem muitas horas sem se alimentar e restrinjam a quantidade de lichias consumidas por dia, o número de mortes começou a cair.
Surto no Caribe
Os pesquisadores que investigaram o caso também descobriram uma associação entre os pacientes indianos internados entre maio e julho de 2014 e um surto de uma doença que também provocava convulsão e inchaço do cérebro em crianças no Caribe. O surto caribenho foi provocado pela ackee, fruta parente do guaraná que contêm hipoglicina, substância que impede a produção de glicose – e também é encontrada na lichia.