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Febre no TikTok, remédios para diabetes e obesidade não são para emagrecer

Especialistas alertam que Ozempic e Wegovy não devem ser usados apenas para perder peso, já que podem causar efeitos colaterais e dependência

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 nov 2022, 19h02 - Publicado em 27 out 2022, 19h39

Tudo começou quando o bilionário Elon Musk creditou à semaglutida – remédio para tratar a diabetes tipo 2, conhecido também pelos nomes comerciais Ozempic ou Wegovy –  sua dramática perda de peso. Logo depois, foi a vez de algumas celebridades aderirem ao tal “tratamento” para se manter em forma, até chegar ao TikTok com vários influenciadores publicando suas fotos de antes e depois em que mostram sua perda de peso após usá-lo. Na rede social, a hashtag #ozempic já alcança mais de 400 milhões de visualizações, enquanto a #wegovy, mais de 586 milhões.

De acordo com a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, esse burburinho todo sobre esses medicamentos criou uma escassez de ambos, causando alarme entre os pacientes com diabetes que dependem deles para ajudar a controlar o açúcar no sangue. E mais: especialistas alertam que os fármacos não são comprovados para a perda de peso e que há riscos em usá-los fora de sua real indicação médica.

“A semaglutida ajuda a baixar o açúcar no sangue imitando um hormônio que é naturalmente secretado quando os alimentos são consumidos”, diz Ariana Chao, diretora médica do Centro de Peso e Transtornos Alimentares da Universidade da Pensilvânia. “Quando administrado por injeção, ajuda as pessoas a se sentirem saciadas por mais tempo e a regular o apetite, reduzindo a fome e os desejos por comida”.

E há uma demanda significativa para a droga. Em 2019, mais de 11% da população norte-americana foi diagnosticada com diabetes, enquanto mais de quatro em cada dez adultos foram qualificados como pessoas com obesidade em 2020.

Em 2017, a FDA aprovou o Ozempic para uso em indivíduos com diabetes tipo 2. “Esses pacientes geralmente têm baixos níveis de insulina, um hormônio que ajuda a quebrar os alimentos e convertê-los em combustível que o corpo pode usar”, explica Ariana. O Ozempic sinaliza ao pâncreas para criar mais insulina, o que ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue e também reduz o glucagon, um hormônio que aumenta os níveis de açúcar. Isso pode resultar em perda de peso, mas os especialistas alertam que o remédio não foi aprovado para esse fim.

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Já o Wegovy foi aprovado no ano passado para pacientes com obesidade ou com sobrepeso. É o primeiro medicamento desde 2014 a ser aprovado para controle de peso crônico, em indivíduos com IMC acima de 27 e que possuem uma comorbidade relacionada, como pressão alta, ou acima de 30. A diferença entre as duas drogas é que o Wegovy é administrado em uma dose mais alta de semaglutida do que o Ozempic. “Ensaios clínicos mostraram mais perda de peso, mas apenas melhoras modestas no controle glicêmico com essa dose mais alta”, diz a médica.

Sem contar os efeitos colaterais. “Os mais comuns são problemas gastrointestinais, como náusea, constipação e diarreia, e, mais raramente, pancreatite, doença da vesícula biliar e retinopatia diabética”, enumera a especialista. Esses medicamentos foram amplamente estudados, porém, sua aprovação é relativamente recente, o que significa que os pesquisadores ainda não sabem quais podem ser os efeitos de tomá-los a longo prazo. Também há poucos dados sobre o que acontece quando as pessoas param de tomá-los de repente – o que muitos podem ser forçados a fazer em meio à escassez atual -.

“Em quase todos os estudos de perda de peso, isso realmente depende da sua base”, diz o endocrinologista de Stanford, Sun Kim. “Seus esforços no estilo de vida determinarão quanto peso você perde. Se você tem seus fundamentos como comida, exercício e sono, vai se sair bem. Caso contrário, você pode recuperar até 20% do peso perdido por ano”, acrescenta. Além disso, esses medicamentos podem ser incrivelmente caros, com uma injeção chegando a custar mais de US$ 1.000. (cerca de R$ 5,3 mil).

“Não há evidências científicas para mostrar se este medicamento será eficaz ou benéfico para aqueles que não se enquadram nos critérios das indicações do rótulo aprovadas pela FDA”, afirma Ariana. “Também não conhecemos os efeitos colaterais ou riscos nessas populações – pode haver reações medicamentosas desconhecidas -. A obesidade é uma doença crônica. Esses medicamentos não devem ser uma solução rápida”.

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Mesmo se você atender aos critérios, os especialistas alertam ainda contra a tentativa de obter o medicamento sem receita médica viajando para países que não os exigem. “Quando o medicamento não é usado sob a supervisão de um profissional de saúde, eles podem entrar em uso indevido e poderia haver mais eventos adversos graves que podem acontecer”, diz a médica.

Os especialistas também argumentam que, com o Ozempic se tornando difícil de encontrar, os pacientes com diabetes devem ser os primeiros da fila. “O que me preocupa, e espero que seja apenas temporário, é a questão da cadeia de suprimentos”, diz Kim. “Se eu tivesse que fazer a triagem e priorizar, favoreceria alguém que está controlando o diabetes para obtê-lo – prefiro que esteja disponível para as pessoas que precisam”.

A Novo Nordisk, que fabrica o Ozempic no Brasil, afirmou que “atualmente, não há qualquer questão de desabastecimento do medicamento no país”. Sobre o Wegovy, a empresa ressalta que ainda não é vendido no país pois está em fase de aprovação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “O Ozempic é indicado exclusivamente para o controle do diabetes tipo 2 e não para tratamento de sobrepeso e obesidade isoladamente. E a Novo Nordisk trabalha constantemente de forma a manter seus estoques e o abastecimento adequados para uso regular das pessoas que precisam do medicamento no país”, completou. Ainda segundo o fabricante, as pessoas podem pagar entre R$ 700 e R$ 970, participando do programa de pacientes da empresa, chamado Novo Dia. 

Robert Gabbay, diretor científico e médico da American Diabetes Association, diz que a organização está “muito preocupada” com a escassez de Ozempic. “A medicação tem sido uma ferramenta importante para as pessoas com diabetes”, diz ele. “Não apenas reduz a glicose no sangue e o peso, mas também diminui os eventos cardiovasculares – ataques cardíacos – uma das principais causas de morte para aqueles que vivem com a doença”, finaliza.

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