O câncer de ovário é considerado desafiador para especialistas em saúde feminina. Altamente silenciosa, a doença pode escapar de testes de triagem, que ainda são considerados limitados para sua detecção precoce. O que acaba norteando os médicos para evitar que o quadro se manifeste de forma avançada é o monitoramento a partir de relatos sobre o histórico familiar, condição relacionada 25% dos casos da doença. Diante desse cenário, a entidade de pesquisa norte-americana Ovarian Cancer Research Alliance apresentou na última semana uma proposta radical para redução dos casos: a retirada das tubas uterinas (antes conhecidas como trompas de Falópio) mesmo por mulheres que não apresentam o risco genético de desenvolver o problema.
De acordo com a entidade, respeitada nos Estados Unidos, a indicação é para que mulheres com procedimentos cirúrgicos agendados – como operações para endometriose, retirada do útero ou de ciscos e laqueadura – levem em consideração também fazer a remoção das tubas.
“Como a trompa de Falópio é a origem da maioria dos cânceres serosos de alto grau, sua remoção demonstrou reduzir drasticamente o risco de um diagnóstico posterior de câncer de ovário”, diz o documento.
Isso não quer dizer que todas as mulheres devem buscar seus médicos para agendar cirurgias. A indicação é para aquelas que já tiveram filhos, tendo em vista a importância das estruturas para o processo reprodutivo, e sem a remoção os ovários, ligados à produção de hormônios que protegem a saúde feminina e são capazes, por exemplo, de reduzir riscos de doenças cardiovasculares.
“Não existe um método de prevenção e rastreamento desse tipo de câncer e, na última década, foi ficando claro que a doença começa na tuba uterina e acaba se desenvolvendo no ovário. Então, uma mulher que teve filhos e vai fazer ligadura de trompas ou a retirada do apêndice, pode remover as tubas”, explica Angélica Nogueira Rodrigues, coordenadora do comitê de Tumores Ginecológicos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Embora exista a discussão entre especialistas nos Estados Unidos sobre a possível adoção da diretriz no futuro, ela diz que o debate ainda não está avançado nas sociedades oncológicas brasileiras. Um dos motivos é o fato de que, apesar de ser traiçoeiro, o câncer de ovário pode ser considerado raro. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados 7.310 casos e 3.921 mortes pela doença por ano.
“Para podermos comparar, são estimados 74 mil casos anuais de câncer de mama. O de ovário é uma doença muito ligada ao risco familiar. Então, quando a mulher tem mutações genéticas, a indicação normalmente é de fazer a retirada não só das tubas, mas dos ovários”, diz Angélica.
Além de fazer acompanhamento de rotina com médicos ginecologistas, as mulheres devem ficar atentas a sintomas como dor ou inchaço na região abdominal, costas ou pernas, náuseas, indigestão, gases, alterações intestinais (prisão de ventre ou diarreia) e cansaço constante.