Uma nova declaração científica da Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês) coloca a saúde cardiovascular das grávidas no centro da discussão sobre a necessidade de ampliar os cuidados com as doenças cardíacas entre as mulheres. Com base em estudos atualizados, a entidade alertou sobre a relação entre problemas que aparecem na gestação, como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, e complicações futuras, incluindo acidente vascular cerebral (AVC) e ataque cardíaco.
Problemas cardiovasculares são a principal causa de morte em mulheres e estudos têm apontado que isso está ligado a episódios de negligência com as pacientes, tanto na avaliação dos sintomas como no tratamento. Segundo a AHA, condições cardiovasculares se apresentam de formas diferentes em homens e mulheres, mas elas são menos propensas a receber terapias baseadas em evidências.
Diante desse cenário, a entidade se aprofundou em situações que antecedem as doenças crônicas, como pressão alta e diabetes, e que podem se manifestar durante a gravidez. O desafio era se debruçar em um período da vida feminina que acaba sendo excluído de pesquisas científicas, já que as gestantes não costumam participar.
A estimativa é de que entre 10% e 20% das mulheres apresentam complicações ao longo da gravidez, caso da hipertensão, diabetes gestacional ou parto prematuro, quadros ligados a alterações metabólicas e vasculares que podem ocorrer durante o período. O que pouco se fala, e a entidade quer amplificar, é que essas condições são fatores de risco para complicações em longo prazo. Insuficiência cardíaca, doença renal crônica e AVC estão entre elas.
A análise de dados atualizados mostrou que, nos últimos 20 anos, os episódios de pré-eclâmpsia aumentaram 25%. Essa condição leva à elevação da pressão arterial e dos níveis de proteína na urina da gestante.
Segundo a entidade, a hipertensão arterial é o problema cardiovascular mais prevalente entre grávidas. Essa condição eleva o risco de desenvolver hipertensão crônica entre dois e sete anos após o parto em até quatro vezes. Outro achado é que mulheres que tiveram diabetes gestacional têm oito vezes mais probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2 do que grávidas que não apresentaram o quadro.
“Os resultados adversos da gravidez podem ser um alerta para uma jovem de que ela pode correr risco de doença cardíaca e derrame mais tarde na vida. Ao identificar essas mulheres em idades mais jovens, seremos capazes de agir mais cedo para prevenir e tratar fatores de risco e promover mudanças saudáveis no estilo de vida”, disse, em comunicado, Jennifer Lewey, professora assistente de medicina no Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, que participou da elaboração da declaração científica.
Intitulado “Oportunidades no período pós-parto para reduzir o risco de doenças cardiovasculares após resultados adversos na gravidez”, o comunicado foi publicado na revista Circulation.
Cuidados após o parto
O diagnóstico precoce e o tratamento dos fatores de risco após a gravidez são medidas fundamentais para evitar ataques cardíacos e AVC com o avanço da idade, de acordo com a AHA. A entidade colocou o primeiro ano depois do parto como o “momento crítico” para avaliar o risco de problemas cardiovasculares e implementação de mudanças no estilo de vida, principalmente entre mulheres que desejam engravidar de novo.
Também destacou a atenção à saúde no “quarto trimestre”, período de 12 semanas após o parto, como fundamental para sustentar os cuidados com a saúde cardiovascular ao longo da vida.
As estratégias devem ter como foco manter o acompanhamento de condições que elevam o risco, como obesidade, e oferecer suporte às populações mais afetadas pela falta de atendimento especializado e acesso a tratamentos, como mulheres negras e em situação de vulnerabilidade.