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Cresce o número de casos de diabetes tipo 2 em jovens

O salto levanta o alerta: os hábitos de vida de crianças e adolescentes estão muito piores do que se imaginava

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 fev 2020, 10h13 - Publicado em 28 fev 2020, 06h00

O diabetes é uma doença de avanço lento e sorrateiro. Quando os primeiros sintomas aparecem, pode ser tarde demais, um atalho para insuficiência renal, infarto, derrames e outros efeitos devastadores. Na idade adulta, é um problema de saúde pública — há no Brasil 17 milhões de diabéticos, 90% deles com o diabetes do tipo 2, versão associada aos maus hábitos da vida moderna, à alimentação desregrada e ao sedentarismo. Entre os mais jovens, dada a exigência de rigoroso controle, o excesso de açúcar no sangue ganha contornos ainda mais preocupantes. A má notícia: dados divulgados na semana passada mostram que, nos últimos quinze anos, o número de crianças e adolescentes com diabetes tipo 2 nos Estados Unidos deu um triste salto de 55%. É muita coisa. Não há estatística brasileira consolidada, mas a tendência de crescimento por aqui é semelhante, segundo especialistas ouvidos por VEJA. “Quanto antes a doença aparecer, maior será o tempo de ação no organismo e, portanto, mais precoces podem ser os danos”, diz o endocrinologista Sergio Atala Dib, coordenador do Centro de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O diabetes surge de um defeito em um processo vital: o metabolismo da glicose, um tipo de açúcar. Combustível para os mais de 100 milhões de células do organismo, a glicose é obtida a partir dos alimentos, especialmente os carboidratos. Depois de ingeridos, pães, massas, doces e tubérculos como a batata são transformados basicamente em glicose. Pela corrente sanguínea, ela chega às células. Para entrar em cada uma delas e fornecer a energia necessária ao bom funcionamento do corpo humano, a glicose precisa de uma espécie de chave — o hormônio insulina. Produzida pelo pâncreas, numa pessoa sadia a insulina acompanha os altos e baixos das taxas de glicose a que o organismo está sujeito. Por falta completa ou parcial de insulina, esse açúcar não tem como entrar nas células e fica concentrado no sangue. A harmonia é fundamental. Muito açúcar no sangue pode provocar danos graves aos vasos sanguíneos e comprometer todos os órgãos e tecidos. O vilão: o excesso de peso.

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Entre os jovens, há uma outra tradução para o problema, resumida a duas palavras, um verbo no infinitivo e um advérbio: comer mal. Oito em cada dez crianças diagnosticadas com a disfunção estão acima do peso. Os quilos a mais aumentam o risco da resistência à insulina. Afora os cerca de 10% de casos associados exclusivamente à hereditariedade, a culpa da obesidade não é da genética nem de um metabolismo lento. A juventude está cada vez mais gorda porque tem desrespeitado o cotidiano saudável. Exagera-se nos hambúrgueres, nas bebidas açucaradas e nos carboidratos simples, como farinha de trigo branca, além de bebidas alcoólicas. São alimentos que multiplicam, abruptamente, a produção de insulina no organismo, desafinando a orquestra, que precisa estar consonante.

E, antes que se aponte o dedo para a meninada, convém saber a gênese do descontrole: os pais. Os próprios pais, sim. A rotina de uma criança ou de um pré-adolescente é controlada. Cerca de 70% da ingestão calórica de um garoto ou uma garota de até 12 anos, revelam as pesquisas, acontece dentro de casa. O simples ritual de reunir a família em torno de uma mesa na hora das refeições já ajudaria no controle da alimentação dos jovens. Pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, mostraram que crianças e adolescentes que se sentam à mesa com adultos frequentemente têm uma alimentação mais balanceada e menos risco de desenvolver distúrbios como anorexia e bulimia. O trabalho, conduzido com 183 000 voluntários com idade entre 3 e 17 anos, comprovou que três refeições por semana em família reduzem os índices de obesidade e garantem uma alimentação saudável — houve diminuição de 12% no sobrepeso e o consumo de alimentos ricos em calorias caiu 20%. Some-se o sedentarismo, e inevitavelmente a conta chega. Quatro em cada cinco adolescentes de 11 a 17 anos são sedentários. Não praticam os sessenta minutos diários de atividade física recomendados para a faixa etária. “Recentemente, descobriu-se que o sono de má qualidade também favorece a doença por desregular hormônios importantes”, diz o endocrinologista infantil Ricardo Arrais, do Departamento Científico de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Uma rotina saudável reduz em até 75% o risco de diabetes. Detectado o problema, assustador, há um remédio que antecede a todos os outros: o bom-senso.


É PRÁTICO, MAS…

DÓI NO BOLSO – O aplicador de insulina em pó: novo e caro demais (./.)

Em fevereiro, as farmácias brasileiras começaram a receber o primeiro tipo de insulina em pó do mercado. Com o nome comercial de Afrezza, o medicamento é usado por meio de inalação. O tempo para começar a agir é de quinze minutos, semelhante ao de muitos tipos de insulina injetável. O produto dispensa refrigeração, como ocorre com as injeções — portanto, é mais prático. Mas ainda assim alguns especialistas receiam indicar o remédio. O temor tem fundamento. Em 2007, a comercialização da primeira insulina inalável no mercado, a Exubera, foi suspensa menos de dois anos após seu lançamento. A substância se acumulava nos brônquios, os canais de passagem de ar nos pulmões, aumentando o risco de crescimento de células tumorais preexistentes. O fracasso fez com que a aprovação da Afrezza passasse por uma análise extremamente rigorosa na FDA, a agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos. A nova versão é contraindicada a pacientes com problemas pulmonares e menores de 18 anos. O preço é um obstáculo adicional. O custo de um mês de tratamento pode chegar a mais de 3 280 reais, o triplo do da insulina tradicional.

Publicado em VEJA de 4 de março de 2020, edição nº 2676

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