Apesar do início da campanha de vacinação, as curvas de casos e mortes pela Covid-19 continuam a subir em grande parte do país. Consequentemente, o número de pacientes internados também. No estado de São Paulo, houve uma pequena melhora nesse índice. Outros estados que apresentaram melhora na taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19, segundo dados do Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 Fiocruz, foram: Maranhão, Pará, Amapá, Tocantins e Paraíba (de 77% para 70%). Mas a situação ainda é grave.
A chamada segunda onda da pandemia é também caracterizada pela alteração do perfil de pacientes hospitalizados. Até o início deste ano, a proporção de pessoas com idade a partir de 60 anos entre os internados sempre foi muito superior a todo o resto da população. Agora, isso mudou. Segundo um levantamento do Observatório Covid-19 da Fiocruz, nos primeiros meses de 2021, a média de idade dos pacientes internados vem diminuindo progressivamente.
Mais jovens
Na primeira semana epidemiológica do ano, a média de idade das internações por Covid-19 foi de 62 anos e de 71 anos para novo óbitos 71 anos. Na semana 10, essas médias caíram para 58 e 66 anos , respectivamente. Isso aconteceu porque nesse período houve um aumento importante de casos de Covid-19 na faixa etária de 20 a 49 anos.
Entre janeiro e o início de março, foi registrado um aumento de 316% no número de casos de Covid-19 no país. No mesmo período, as faixas etárias de 30 a 39 anos, 40 a 49 anos e 50 a 59 anos aumentaram respectivamente, 565%, 626% e 525%.
A proporção dessas faixas etárias nos óbitos pela doença também cresceu mais do que o número geral, mas de forma menos expressiva. Para este mesmo período (janeiro a março) o número de mortes por Covid-19 aumentou 223,10%. A faixa de 30 a 39 anos teve aumento de 352,62%, entre 40 e 49 anos, houve incremento de 419,23% e de 50 a 59 anos, 317,08%.
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Mais tempo no hospital
A redução da idade média dos pacientes internados pela doença impacta em outro fator: o aumento no período que essas pessoas permanecem hospitalizadas.” Tínhamos antes média de 7 a 10 dias de internação, agora está em 14 a 17 dias de internação no mínimo em UTI”, disse o secretário de secretário de Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, em coletiva de imprensa realizada no início de março.
Segundo a Fiocruz, isso acontece porque pessoas mais jovens têm menos comorbidades, o que leva a uma “evolução mais lenta dos casos graves e fatais”, o que se reflete em maior tempo de permanência nas internações em terapia intensiva.
Comportamento e novas variantes
Um fato importante importante é que essas tendências – pacientes mais jovens e que permanecem mais tempo internados – não é exclusiva do país. Isso também é observado em outros países que enfrentam ou enfrentaram novas ondas da doença, como Estados Unidos e Reino Unido.
Acredita-se que os fatores por trás desse novo perfil sejam as novas variantes, que são mais transmissíveis, e a falta de isolamento social. Estudos sugerem que a P1, variante identificada em Manaus, é até dez vezes mais contagiosa que a anterior, e mais resistente a anticorpos de pessoas que já contraíram a doença. Além disso, em geral são pessoas jovens que estão em maior circulação e situações de aglomeração, o que aumenta o risco de contaminação, em comparação com quem está em casa isolado.
Em menor grau, a vacinação também pode desempenhar um papel nessa tendência. Como a imunização em todos os países começou por pessoas com idade mais avançada, que também apresentam maior risco de complicações da doença, a tendência é que as hospitalizações e casos graves nestes grupos diminua a medida que a taxa de vacinação avança.