A obesidade sempre foi considerada um fator de risco para o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, sendo o de mama um dos mais afetados. Isso se deve ao processo crônico inflamatório que ela desencadeia no organismo, aliada aos níveis elevados de insulina que aumentam o metabolismo e fazem o pâncreas trabalhar muito mais.
“O desenvolvimento do câncer ocorre quando as células de defesa, além de atacar as de gordura, atacam as células de defesa do organismo. Isso favorece tanto o desenvolvimento quanto o crescimento do tumor”, explica Aline Vieira, oncologista do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP) e do Hospital São Marcelino Champagnat. Estudos também indicam que o alto índice de massa corporal reduz os benefícios da quimioterapia no tratamento e aumenta o risco de recidiva do tumor.
Além disso, a obesidade piora o prognóstico – tanto antes quanto depois da menopausa. As taxas de sobrevivência caem significativamente em mulheres com distribuição abdominal de gordura. O risco aumenta com cada unidade de Índice de Massa Corporal (IMC).
Nesse cenário, a cirurgia bariátrica é cajadada para dois coelhos. Em um estudo de coorte pareado feito com mais de 69 mil mulheres canadenses, o risco de incidência de câncer de mama em um ano foi 40% maior entre as participantes que não fizeram cirurgia bariátrica em comparação às que fizeram. A diferença permaneceu elevada ao longo dos cinco anos de acompanhamento.
“Isso revelou que existem outros fatores [envolvidos na neoplasia mamária] além da perda ponderal. Este efeito foi duradouro e mostrou o impacto da cirurgia, e nem sequer exploramos ainda todas as suas repercussões”, disse Aristithes G. Doumouras, professor assistente de cirurgia na McMaster University no Canadá e autor do estudo, publicado on-line no periódico JAMA Surgery.
Bariátrica
No que diz respeito à cirurgia bariátrica, pesquisas mais recentes sugerem que ela pode ter um efeito protetor, reduzindo o risco de desenvolvimento de câncer de mama em mulheres, além de ajudar na perda de peso e diminuir a possibilidade do surgimento de outras doenças. Um estudo publicado em 2020 na revista científica Annals of Surgery mostrou uma redução na incidência do câncer de mama após a cirurgia para redução de peso. A pesquisa acompanhou mais de 100 mil mulheres obesas ao longo de dez anos e descobriu que aquelas que fizeram cirurgia bariátrica reduziram em 33% o risco de desenvolver câncer.
Segundo o cirurgião bariátrico do Hospital São Marcelino Champagnat, Caetano Marchesini, o bypass gástrico é o procedimento mais associado à perda de peso e tem apresentado resultados significativos na redução dos casos de câncer de mama. “Estudos científicos demonstram uma correlação positiva entre a cirurgia bariátrica e a diminuição do risco de desenvolvimento desse tipo de câncer”, explica o cirurgião.
“A obesidade está fortemente relacionada ao aumento da produção de hormônios femininos, o que pode promover o crescimento de células cancerígenas. Além disso, outras doenças também relacionadas à obesidade, como a resistência à insulina e diabetes tipo 2, síndrome metabólica, inflamação crônica e alterações hormonais, podem interferir no câncer de mama. No entanto, a relação entre obesidade e câncer de mama é complexa e ainda não está completamente compreendida”, ressalta Marchesini.
Ainda sim, mesmo com as novas possibilidades e avanços no tratamento com a cirurgia bariátrica, o autoexame das mamas e visitas regulares ao ginecologista são fundamentais para a detecção precoce da doença. Além disso, a manutenção do peso e estilo de vida saudável ajudam a evitar o surgimento do câncer e diversas doenças.