Experimentar a massa crua do bolo antes de levá-lo ao forno pode causar intoxicação alimentar, de acordo com um estudo publicado nesta quinta-feira no periódico científico The New England Journal of Medicine.
Além dos perigos que envolvem o consumo do ovo cru, ingrediente comum em massas, como a presença da salmonela, o novo relatório mostrou que as bactérias tamb��m podem sobreviver em ambientes mais áridos, como a farinha.
Farinha: a vilã
Nos Estados Unidos, de dezembro de 2015 a setembro de 2016, segundo a pesquisa, 4,5 milhões de quilos de farinha foram recolhidos depois de bactérias do tipo E. coli terem sido identificadas em 250 produtos do mercado americano, desde sacos de farinha de trigo a misturas prontas para bolos. Nesse período, cerca de 60 pessoas, entre crianças, adultos e idosos, foram hospitalizadas por intoxicação alimentar.
Depois das investigações, a FDA, agência americana responsável por regulamentar alimentos e medicamentos, descobriu que o ponto em comum entre os pacientes foi o consumo de massa crua.
“A bactéria não está uniformemente distribuída em um saco de farinha”, disse Samuel Crowe, epidemiologista dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, e principal autor do estudo ao The New York Times. “Uma pequena quantidade pode te deixar realmente doente, e infecções de E. coli e salmonela são bastante desagradáveis.”
Durante o preparo
De acordo com os pesquisadores, até mesmo a massa feita em casa pode estar comprometida pelas bactérias. Além de evitar provar a massa crua durante o preparo, os especialistas recomendam lavar as mãos com água quente e sabão antes e depois de manipular os ingredientes. Não é preciso se preocupar com o bolo, a torta ou o biscoito pronto, pois a alta temperatura do forno elimina os possíveis patógenos presentes no ovo e na farinha.
“Agora, temos um novo olhar sobre a farinha”, disse Marguerite Neill, professora de medicina da Universidade Brown, nos Estados Unidos, e especialista em doenças transmitidas por alimentos, que não teve envolvimento no estudo. “É incrível como uma substância seca e em pó, armazenada em uma prateleira por meses, pode conter bactérias, mesmo sem aparentar estrago. Ainda assim, isso é possível.”
Contaminação
Os pacientes relataram dores abdominais, febre, vômitos e diarreia, muitas vezes acompanhada de sangue. De acordo com os pesquisadores, a contaminação do trigo aconteceu antes mesmo da colheita, através do contato com fezes de animais, como gado. Isso significa que as intoxicações associadas à farinha podem ocorrer com mais frequência e que não se trata de um caso isolado.
Uma esterilização nas fábricas, entretanto, não seria possível. Segundo porta-voz da General Mills, empresa americana produtora de alimentos com cereais, o método impactaria a performance e a capacidade de fermentação da farinha. Sendo assim, o recomendado seria mesmo evitar o consumo do produto cru.
Para Jenny Scott, consultora sênior do Centro de Segurança Alimentar e Nutrição Aplicada da FDA, que ajudou a desenvolver advertências sobre o consumo de produtos com farinha crua, as crianças são as mais vulneráveis. “Quando você oferece uma colher ou recipiente com massa crua para uma criança, você está colocando-a sob risco.”