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Cilene Pereira: a excelência no jornalismo de saúde

Editora de VEJA, era uma das mais respeitadas profissionais do Brasil em seu campo de atuação

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 fev 2023, 21h00 - Publicado em 13 fev 2023, 19h43

Elegância, tranquilidade e leveza. Essas eram as palavras de ordem com as quais a jornalista Cilene Pereira conduzia sua vida – e pelas quais, em textos sempre claros e precisos, em português sem excessos, informava os leitores a respeito dos temas relacionados à saúde. Ela traduzia o que parecia impenetrável – de perfeita compreensão para os leigos e surpresa para os doutores.  Em mais de trinta anos de carreira  profissional – os dois últimos em VEJA, como editora de saúde, Cilene se tornou uma das maiores referências no tema. Impôs um padrão, inspirou muitos profissionais que começavam a carreira e outros tantos que a tinham como espelho de qualidade. De facilidade no diálogo, sempre afeita a tirar dúvidas, de rara sensibilidade, desfilava uma generosidade ímpar, costurada pelo que há de fundamental no jornalismo: a ética. 

Cilene trabalhou em alguns dos principais veículos da imprensa brasileira como os jornais O Globo, Jornal do Brasil, Estadão e IstoÉ. Foi também diretora de comunicação do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, a serviço da agência de comunicação Jeffrey Group. No início da pandemia de Covid-19, Cilene teve participação silenciosa e vital – por meio dela, os jornalistas recebiam informações nítidas e sempre muito bem fundamentadas, produzidas pela excelência do Einstein, e que navegavam na contramão do negacionismo imposto pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Não fosse Cilene, saberíamos menos sobre o vírus e sobre a relevância fundamental da vacina. Em VEJA, ela chegou para ocupar o lugar de outra competentíssima editora, Adriana Dias Lopes. A pandemia caminhava para patamares mais calmos. Foi de Cilene a autoria de duas reportagens fundamentais da revista, O Início do Fim, quando enfim o Brasil alcançava um ritmo aceitável de contaminações, e O Vírus da Ignorância, em torno da irresponsabilidade de uma parte das autoridades. 

Ao escrever, Cilene defendia a vida. E como ela gostava de viver. Era portadora de uma doença genética rara, a polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), neurodegenerativa, que poderia causar perdas de movimentos e problemas cardíacos. Era condição com a qual conviveu com serenidade. De mãos dadas com o cardiologista Bruno Vaz Kerges Bueno, que a atendeu e passou a acompanhá-la durante todo o seu percurso, ajudou o especialista a investigar a origem de alguns sintomas. O vínculo profundo que se formou entre os dois foi a fagulha que deu origem à tese de doutorado de Bueno e participação do médico no projeto de pesquisa que estuda o tema no Instituto do Coração da Universidade de São Paulo, que já avaliou mais de 250 pacientes. Em 2017, Cilene fez um transplante de fígado, processo que ela também atravessou com determinação e elegância, coragem e resiliência. Recebeu um fígado de um doador e ela mesmo doou o seu. Na noite de terça-feira 7, Cilene sofreu um AVC hemorrágico. Morreu aos 57 anos, na segunda-feira, 13 de fevereiro.

Em seu último áudio, ela, que era minha editora, disse: “Vai ficar tudo bem. Sigamos”. Dentro de alguns dias, sairia de férias. Não deu tempo. Mas quis a vida que ela saísse de cena da mesma maneira calma e tranquila com que ensinou a quem teve o privilégio de conviver com ela. Vale lembrar de Cilene pelo seu olhar indizível, a maneira como entendia a relevância da precisão nas notícias de medicina e a permanente busca pela clareza. O melhor modo de homenageá-la é seguir a trilha de excelência desenhada por ela. Sigamos.

Cilene Pereira deixa os filhos Cecília, Nicolas e Catarina, e o marido, o advogado Itamar, além de milhares de amigos, admiradores, fãs, médicos e autoridades de saúde que a tinham como espelho. 

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Muitos deles revelaram a VEJA as qualidades da jornalista. 

Claudio Lottenberg, presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde (ICOS): “Cilene conciliava profissionalismo do mais alto nível e envolvimento humano genuíno”, disse “Era algo mágico conversar com ela. Eu a buscava para dirimir dúvidas e ter dela conselhos. Já sinto muita falta”. 

Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein: “Cilene era apaixonada pela área da saúde e dedicou sua brilhante vida a comunicar o tema à população, sempre propositiva e com as lentes do otimismo. Uma bandeira que encampava, a da equidade em saúde, compartilhada também por mim e pelo Einstein, teve nessa exímia jornalista uma das suas maiores defensoras. Ela deixa, com sua obra e seu exemplo, um nítido impacto em todos que conviveram com ela, assim como eu, e também na nossa sociedade”.

David Uip, médico infectologista, professor titular da Faculdade de Medicina do ABC e professor livre docente da Universidade de São Paulo (USP): “Era uma guerreira. Eu confiava integralmente na Cilene, o que é muito importante quando tratamos de assuntos complexos e saúde pública e a Cilene contribuiu muito para a saúde pública. Era honesta, digna e competente. As pessoas pensam que médico não sofre, mas estou muito triste, é uma grande perda”. 

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Paulo Hoff, professor titular da FMUSP, presidente da oncologia D’Or, titular da cadeira 58 da Academia Nacional de Medicina e presidente de honra da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC): “Como jornalista, Cilene usava seu espaço para levar informações corretas e precisas para a população, algo fundamental em uma época cheia de teorias conspiratórias e fake news na saúde e na ciência. Fará muita falta”, 

Clarissa Mathias, oncologista do Grupo Oncoclínicas e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), “Cilene Pereira era um ícone do jornalismo na cobertura de saúde e medicina. Uma editora sensível, responsável, com precisão do olhar para a relevância de cada notícia. Sua contribuição para a medicina e a preocupação em levar o conhecimento correto aos leitores é de enorme relevância. Tive a honra de ser entrevistada para uma recente matéria idealizada por ela sobre as disparidades no atendimento de saúde ao público trans, a partir de um painel sobre diversidade que organizamos no Simpósio Internacional do Grupo Oncoclinicas e Dana Farber Cancer Institute. Ela enxergava a notícia com muita clareza e beleza. Sua partida é uma grande perda para o jornalismo”. 

Ana Olmos, psicanalista de crianças, adolescentes e famílias, especialista em vínculos familiares pela AAPPG (Asociación Argentina de Psicología y Psicoterapia de Grupos), em Buenos Aires, na Argentina: “Cilene era uma jornalista perspicaz, profundamente bem informada e comprometida com o resultado da entrevista. Sempre muito ética e elegante, queria que o leitor entendesse o contexto do que estava sendo discutido. Inigualável”. 

Renato Kfouri, infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP): “Cilene era um destaque no jornalismo de saúde, área em que são poucos os jornalistas realmente especializados. A capacidade dela em dialogar com os médicos, na compreensão da ciência, da leitura e interpretação de artigos científicos era fantástica. Uma perda muito grande para o jornalismo de saúde, que hoje ganhou uma relevância muito grande no combate às fake news, graças a jornalistas como ela”. 

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