Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Câncer de testículo atinge 8.300 homens e mata 350 por ano no Brasil

Doença que assustou o personagem André, na novela 'Insensato Coração', ocorre com mais frequência em homens jovens, com idade entre 20 e 40 anos

Por Tatiana Gerasimenko
19 ago 2011, 23h33

Um levantamento realizado pelo Hospital A. C. Camargo mostra que, quando descoberta em fase inicial, a doença tem cura em até 95% dos casos

Em Insensato Coração, novela da Globo que terminou sexta-feira, o personagem André, interpretado por Lázaro Ramos, descobriu que tinha câncer de testículos. A trama ficcional chamou atenção para uma doença que atinge 8.300 homens e mata 350 por ano no Brasil. Esse tipo de tumor, ao contrário do câncer de próstata, ocorre com mais frequência em homens jovens, com idade entre 20 e 40 anos, e embora seja agressivo, é de incidência média e com baixo índice de mortalidade. “Em geral, o tumor no testículo é uma massa não dolorosa que se apresenta como um nódulo ou aumento do testículo”, explica Daniel Herchenhorn, chefe da Oncologia Clínica do Inca. Segundo o médico, a dor muitas vezes é um bom sinal, já que ela descarta o diagnóstico de câncer. Quando a região fica dolorida, geralmente trata-se de algum processo inflamatório.

O constrangimento de consultar um urologista muitas vezes faz com que homens procurem ajuda quando o estágio do tumor já está avançado. Esperar para ver o que acontece com o nódulo encontrado não é uma boa ideia. Assim, como acontece com a maioria dos tumores, nesse caso também vale a regra de quanto mais precoce o diagnóstico, maiores as chances de cura. Além disso, não há muito a temer. Um levantamento realizado junto aos 940 pacientes diagnosticados com câncer de testículo e atendidos pelo Núcleo de Urologia do Hospital A. C. Camargo, de São Paulo — desde sua fundação em 1953 até 2009 — mostra que, quando descoberta em fase inicial, a doença tem cura em até 95% dos casos. Entende-se como curado o paciente que submetido ao tratamento não manifeste a progressão da doença em um prazo de cinco anos.

Em quadros avançados, que podem incluir a metástase – quando células cancerosas do tumor original migram para outras partes do corpo, formando tumores secundários -, as chances de cura se reduzem, mas continuam maiores que 70%. Estatísticas do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos confirmam os dados. A taxa de mortalidade, que era de 10,5% até o início da década de 1980, caiu para 0,7% no final de 2007. A história do ciclista americano Lance Armstrong também se tornou um exemplo: logo após ter se restabelecido de um câncer de testículo, que chegou a atingir também cérebro e pulmão, o atleta se recuperou e foi vencedor do Tour de France por sete vezes consecutivas.

Números e histórias como essas reforçam o fato de que o quadro melhorou muito nos últimos anos. “Na década de 1970, a taxa de cura nos casos em estágio inicial era de apenas 60%”, afirma Gustavo Cardoso Guimarães, cirurgião oncológico e diretor do Núcleo de Urologia do Hospital A.C. Camargo. “Isso se deve à introdução de uma terapia multidisciplinar, que aumentou muito as chances de cura.” Mais do que a retirada do tumor, em muitos casos os pacientes devem complementar o tratamento com quimioterapia, radioterapia e até mesmo uma nova cirurgia para retirar resíduos de massa tumoral. (Continue lendo a reportagem)

Continua após a publicidade

Diagnóstico e tratamento – Em 1994, então com apenas 20 anos, Lincon Lima sentiu um pequeno desconforto na região dos testículos. Não deu maior atenção, a princípio. Apenas quando sua mãe notou um volume estranho sob a roupa que ambos resolveram correr para o médico. “Levei-o ao urologista e o diagnóstico foi câncer”, conta a mãe, Geni. “Eu não queria acreditar. Procuramos outro médico. A resposta foi a mesma e era preciso fazer uma cirurgia para a retirada do testículo.”

Quando detectam a possibilidade do tumor, urologistas costumam pedir um exame de ultrassom que confirmará o diagnóstico – em 95% dos casos, maligno. Depois o paciente deverá fazer exames de sangue conhecidos como marcadores tumorais, como o lactato desidrogenase (LDH), betaHCG (tumores de testículo produzem o mesmo hormônio de gestantes) e alfafetoproteína (AFP), que darão ao médico condições de avaliar o comprometimento do órgão e a extensão da doença. A cirurgia é realizada com a presença de um patologista para avaliar o tipo de tecido encontrado. E nada impede que uma prótese seja colocada durante essa mesma cirurgia, algo importante principalmente para os pacientes mais jovens.

Preservação do esperma – Lincon, que hoje tem 37 anos, teve sorte porque não precisou fazer quimioterapia ou radioterapia. As abordagens terapêuticas dependem da forma como a doença se manifesta e são determinadas após a análise do tecido do tumor. “De qualquer maneira, uma coisa muito importante é que, antes de começar a quimioterapia ou a radioterapia, seja feito o congelamento do esperma”, ressalta Cláudio Isaac, urologista do Hospital Samaritano de São Paulo. Apesar de muitos especialistas garantirem a recuperação da fertilidade, que pode ser prejudicada pelos medicamentos usados no tratamento, as chances de um homem se tornar infértil existem.

Não faz sentido, no entanto, associar a doença à impotência. Daniel Herchenhorn explica que, durante o tratamento, muitos homens podem se sentir fragilizados em função da situação, assim como mostrou o personagem da novela global. “Mas não é um problema físico, é uma questão psicológica, desencadeada pela descoberta da doença e pelo fato de o tumor atingir uma região relacionada à virilidade”, diz.. O jovem Lincon Lima, que passou pela experiência diz: “A novela mostrou um drama exagerado. Não ter um testículo é apenas uma questão estética.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.