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Brasil vai adotar terapia revolucionária contra certos tipos de câncer

Tratamento modifica células de defesa para destruir tumores

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 jul 2022, 17h03 - Publicado em 25 jun 2022, 08h00
LOUSA DA ALEGRIA - Emily: uma década sem câncer depois do tratamento -
LOUSA DA ALEGRIA - Emily: uma década sem câncer depois do tratamento – (@emilywhiteheadfoundation/Facebook)

A americana Emily Whitehead, de 17 anos, exibe ano a ano, orgulhosa, uma lousa na qual marca há quanto tempo está livre de câncer. Em maio, completaram-se dez anos. Aos 5, quando foi diagnosticada com leucemia linfoblástica aguda, um tipo de tumor hematológico que costuma acometer crianças, o prognóstico era dos mais desanimadores, e Emily foi submetida ao pesadelo de uma sucessão de tratamentos sem resultados, até ficar sem opção. Seus pais, Tom e Kari, decidiram então tomar uma decisão arriscada que, felizmente, mudaria completamente o cenário: inscreveram a filha na pesquisa de uma terapia experimental cujo objetivo era fazer uma das células de defesa do corpo, o linfócito T, reaprender a identificar e destruir as células cancerígenas. Era 2012, e o método havia sido usado com êxito somente em três adultos. Por sugestão dos médicos que cuidavam de Emily no Hospital Infantil da Filadélfia, nos Estados Unidos, a menina foi encaminhada aos pesquisadores, e o resto é história. Daquelas com final feliz, como se pode ver pelo sorriso largo de Emily na foto ao lado.

Emily foi a primeira criança do mundo submetida à terapia batizada de CAR-T (entenda sua forma de ação no quadro). Em 2017, o tratamento foi aprovado pela agência reguladora americana Food and Administration (FDA), sendo considerado pela instituição uma “nova fronteira em inovação médica” e um “ponto de inflexão para curar doenças intratáveis”. No Brasil, só recentemente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária liberou a CAR-T, na forma de dois tratamentos: o Carvykti, da Janssen-Cilag Farmacêutica, e o Kymriah, da Novartis Biociências. Eles são indicados para três tipos de câncer que não respondem aos recursos convencionais: a leucemia linfoblástica aguda de células B, o linfoma difuso de grandes células B e o mieloma múltiplo. Antes disso, em 2019, o mineiro Vamberto Luiz de Castro, diagnosticado com linfoma não Hodgkin de alto risco, havia sido submetido à terapia ainda em fase experimental. Tratado no Hospital das Clínicas instalado no câmpus Ribeirão Preto da Faculdade de Medicina da USP, teve ótima evolução (infelizmente, faleceu depois de voltar a Minas Gerais, vítima de um acidente doméstico).

PIONEIRO - Castro, em 2019: boa evolução, mas morte em acidente -
PIONEIRO – Castro, em 2019: boa evolução, mas morte em acidente – (Hugo Caldato/Hemocentro RP/.)

A empolgação do setor médico com o tratamento se justifica diante da alta taxa de cura em casos que antes resistiam a qualquer intervenção. “Com a CAR-T, na leucemia linfoblástica aguda a possibilidade de ficar curado é de 60% a 85%. Nos linfomas, de 50% a 60%. Os mielomas não têm cura, mas pacientes têm chance de sobrevida sem novas doenças de 80% nos quatro anos seguintes ao tratamento”, explica Nelson Hamerschlak, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “É uma revolução muito grande”, afirma. O Einstein faz parte de um grupo de hospitais brasileiros que pesquisam caminhos para baratear a terapia — sem contar internação e eventuais complicações, estima-se que ela custe atualmente algo entre 350 000 e 500 000 dólares.

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Seguindo a mesma trilha, o Instituto Butantan, em São Paulo, inaugurou duas unidades, uma na capital e outra em Ribeirão Preto, com a meta de atender até 300 pacientes por ano a um custo que gira em torno de 100 000 reais. “Imagino que, no futuro, a terapia terá potencial de cura também para tumores sólidos, como os gastrointestinais e de mama”, anima-se Dimas Covas, presidente do Butantan. Mas existe a possibilidade de que venha a apresentar efeitos adversos, até fatais, como complicações neurológicas que podem terminar em coma ou distúrbios no sistema de defesa. Emily, com a firmeza de quem ganhou a parada, é a favor de respirar fundo e tentar. “A terapia pode oferecer um raio de esperança quando as opções ou a sobrevivência parecem frágeis”, disse a VEJA. Que os pacientes brasileiros que vão receber a terapia possam se recuperar e exibir igual otimismo.

Publicado em VEJA de 29 de junho de 2022, edição nº 2795

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