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Brasil na Copa: entenda como seu corpo vivencia a experiência

Segundo pesquisa, durante jogos de futebol muito intensos, como os da Copa do Mundo, ocorre aumento no número de ataques cardíacos e derrames

Por Da Redação
Atualizado em 25 jun 2018, 20h50 - Publicado em 25 jun 2018, 17h47

Durante os jogos de futebol, há um aumento no número de ataques cardíacos e derrames, aponta estudo publicado na revista The New England Journal of Medicine. Segundo a BBC, os resultados revelaram que ocorrências emergenciais no coração entre torcedores alemães na Copa do Mundo de 2006 aumentaram cerca de 2,66 vezes.

A pesquisa ainda apontou, durante as partidas da seleção da Alemanha, o registro de mais episódios de infarto, angina e arritmia cardíaca tanto em homens quanto em mulheres embora os primeiros tenham sido mais afetados. “Há um aumento enorme de ataques cardíacos e derrames (acidentes vasculares cerebrais) durante os jogos. Se estiver muito nervoso, levante, saia, tome um copo d’água”, disse Fernando Costa, segundo a BBC, cardiologista do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo.

Durante as partidas do Brasil, a realidade não foi muito diferente: as ocorrências de infarto aumentavam de 4% a 8% entre brasileiros, indicou estudo de 2013 realizado pela Universidade de São Paulo (USP). Em entrevista à BBC News Brasil, Sérgio Timerman, especialista em ressuscitação do Instituto do Coração (InCor), também em São Paulo, ressaltou que, apesar de o estudo alemão ser maior e ser necessário considerar as variações culturais, os índices servem para o Brasil, já que as doenças cardiovasculares têm prevalência semelhante em ambos os países.

Futebol na cabeça, no coração… e na barriga

De acordo com Timerman, ainda que pareça exagero principalmente para as pessoas que não levam o futebol tão a sério , estudos têm mostrado que emoções fortes são gatilhos significativos, sobretudo para quem já tem alguma doença cardíaca.

Para especialistas, o sistema cardiovascular é o mais afetado em situações de ansiedade, angústia e stress prolongados, uma vez que ativam os hormônios, responsáveis por preparar o corpo para momentos de ataque ou fuga. Isso ocorre também durante as partidas decisivas em que, por mais que os jogadores se esforcem, a bola teima em não entrar no gol. “Quando você está ansioso frente a uma situação de risco, de o Brasil perder, ser desclassificado, você simula esse mesmo efeito”, explicou Cleo Otaviano Mesa Junior, endocrinologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Os primeiros hormônios liberados são adrenalina e noradrenalina, produzidos por gânglios ao lado da coluna e pela glândula suprarrenal, que fica acima dos rins. Eles fazem com que o coração acelere, a boca fique seca, aumente a sudorese e a pressão arterial. Ao lado deles, o cortisol, também conhecido como hormônio do estresse, ativa as reservas de glicose e aumenta a pressão sanguínea para que os órgãos vitais (cérebro, coração e pulmão) trabalhem melhor e mais rapidamente. Por causa disso, indivíduos com diabetes podem apresentar picos de glicemia temporários ao longo dos jogos; esse aumento na liberação de glicose no sangue dá mais energia para o cérebro, que precisa ficar mais atento.

Estas intervenções emocionais e hormonais, fazem com que o coração que bombeia o sangue para os órgãos vitais diminua o fluxo de sangue para o sistema digestivo ou urinário, por exemplo. “Pode observar que, na hora da ansiedade, muitas pessoas perdem a fome e não têm nem vontade de urinar”, comentou Mesa Junior. As dores de barriga também fazem parte do pacote, já que os movimentos intestinais podem ser acelerados por causa da adrenalina, embora a digestão dos alimentos não seja prioritária.

Aguenta, coração

Devido ao controle do fluxo de sangue estimulado pela adrenalina, os vasos sanguíneos acabam sendo comprimidos e os resultados perceptíveis são mãos frias, além da aparência pálida e ansiosa. Outra reação do corpo é deixar o sangue mais espesso, aumentando ainda mais a resistência nos vasos, o que, em pessoas propensas a doenças cardíacas, pode causar bloqueio do fluxo sanguíneo nas artérias do coração e, consequentemente, um AVC ou uma arritmia cardíaca.

“Mas o mais comum, e o mais problemático, é que esse pico de pressão arterial rompa alguma das placas de gordura que nós temos dentro das artérias cardíacas do cérebro. Se uma dessas placas se rompe, ela pode fechar um vaso e provocar até morte súbita”, explicou Fernando Costa. As placas de gordura se acumulam dentro dos vasos por causa de hábitos como fumar, consumir de álcool ou gordura, mas também podem ser consequência de herança genética ou doenças como diabetes. Outro problema é a mudança alimentar: durantes os jogos da Copa as pessoas acabam tomando mais cerveja e café, e comendo muita gordura, o que pode aumentar o trabalho do coração.

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Nem depois do gol o organismo relaxa. A adrenalina também é liberada nesse momento, aumentando a pressão, podendo causar desmaios em algumas pessoas. Além disso, outros neurotransmissores são liberados pelo sistema nervoso central, como a dopamina e a serotonina, que ativam a sensação de prazer e alegria. Entretanto, elas ficam mais concentradas no cérebro. Para Sérgio Timerman, o aumento de adrenalina na hora do gol não é tão agudo, e pode ser até positivo para o organismo, desde que se mantenha constante.

Emoção ou problema cardíaco?

Sintomas como coração acelerado provavelmente indicam apenas emoção. No entanto, se a taquicardia persistir e vier associada a sintomas de ansiedade, como aumento do suor, boca seca, mãos frias, além de pressão no peito, suor frio, náuseas ou ânsias de vômito, pode ser um sinal de ataque de arritmia.

Caso a ansiedade venha também acompanhada de dor de cabeça, paralisia ou fraqueza muscular em um braço ou perna, alterações na fala ou pontos brilhantes na visão (chamados de escotomas), a possibilidade é de um AVC. “Na dúvida, largue o jogo e procure um pronto-socorro imediatamente para fazer uma avaliação. Há uma chance de a pessoa ser tratada com medicamentos e reverter o processo”, alertou Fernando Costa.

Saiba como torcer

Segundo os especialistas, por mais que pareça uma tarefa impossível, é necessário manter a calma durante as partidas. Além disso é importante evitar hábitos que podem ser danosos, como consumir cigarro, cerveja, gordura e cafeína. Já para quem faz uso de medicação controlada, é importante não esquecer de tomar os remédios corretamente e evitar ambientes com um público muito ansioso. “Em locais públicos, as pessoas ficam cada vez mais ansiosas e vão contaminando umas às outras. Tem gente que entra em uma espécie de transe”, comentou Costa.

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Quando o locutor do jogo é exagerado ou dramático, isso também se torna um fator que pode aumentar a ansiedade ou o nervosismo. A solução é reduzir o volume da TV. “As emissoras deveriam pedir calma, parar um minuto para ajudar as pessoas a relaxarem. Mas elas aumentam a quantidade de estresse durante o jogo”, completou.

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