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Beber todos os dias é um péssimo negócio para o cérebro

Estudo com dados de mais de 36 mil adultos associa doses de álcool a mudanças na estrutura e volume do órgão, às deficiências cognitivas e ao envelhecimento

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 mar 2022, 17h18 - Publicado em 7 mar 2022, 16h50

A bebida e o cérebro definitivamente não têm uma relação saudável. Essa é a conclusão de um estudo da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, que associa as pessoas que bebem muito a alterações na estrutura e tamanho do cérebro, e consequentemente, a deficiências cognitivas. Segundo a pesquisa, publicada na revista Nature Communications, o consumo de álcool, mesmo em níveis que a maioria consideraria modestos – algumas cervejas ou taças de vinho por semana – também pode trazer riscos para o órgão. Uma análise de dados de mais de 36.000 adultos indicou que o consumo leve a moderado de álcool está diretamente associado a reduções no volume total do cérebro.

O estudo, revisado por pares, também revela que pessoas que passam de um a dois drinques por dia, podem ter mudanças equivalentes ao envelhecimento de dois anos. Em pessoas com 50 anos ou mais, por exemplo, à medida que o consumo médio aumenta de uma unidade de álcool (cerca de meia cerveja) por dia para duas unidades (um litro de cerveja ou um copo de vinho), há mudanças no cérebro. Passar de duas para três unidades de álcool nessa mesma idade, equivale a envelhecer três anos e meio. “O fato de termos uma amostra tão grande nos permite encontrar padrões sutis entre beber o equivalente a meia cerveja e uma cerveja por dia”, diz Gideon Nave, autor do estudo e membro do corpo docente da Penn’s Wharton.

“Essas descobertas contrastam com as diretrizes científicas e governamentais sobre limites seguros de consumo de bebida alcóolica”, diz Henry Kranzler, diretor do Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo, da Pensilvânia. “Embora se recomende que as mulheres, por exemplo, não consumam mais de uma bebida por dia, os limites para os homens são o dobro disso. Uma quantidade que excede o nível de consumo associado com a diminuição do volume do cérebro”, completa o pesquisador.

Outros levantamentos, que examinaram a ligação entre beber e a saúde do cérebro, porém, apontaram resultados ambíguos. Embora existam fortes evidências de que o consumo excessivo de álcool causa mudanças na estrutura do órgão, incluindo significativas reduções na massa cinzenta e branca, outros sugerem que níveis moderados de consumo de álcool podem não ter impacto ou pode até beneficiar o cérebro em adultos mais velhos. Essas investigações anteriores, no entanto, não tinham grandes conjuntos de dados com informações genéticas e médicas como este da Universidade da Pensilvânia e pesquisadores especialistas em achar e estabelecer padrões. Neste caso, eles empregaram dados biomédicos, analisando especificamente ressonâncias magnéticas cerebrais de mais de 36.000 adultos do Biobank – bando de dados do Reino Unido, que podem ser usadas para calcular o volume de massa branca e cinzenta, em diferentes regiões do cérebro. “Ter esse conjunto de dados é como ter um microscópio ou um telescópio com uma lente mais poderosa”, diz Nave. “Você obtém uma resolução melhor e começa a ver padrões e associações que não conseguia antes”.

De acordo com os cientistas, era fundamental, por exemplo, controlar as variáveis ​​de confusão que poderiam obscurecer essa relação para obter uma compreensão das possíveis conexões entre a bebida e o cérebro. Assim, a equipe controlou idade, altura, destreza manual, sexo, tabagismo, status socioeconômico, ascendência genética e município de residência. Eles também corrigiram os dados de volume cerebral para o tamanho geral da cabeça. Os participantes voluntários responderam perguntas da pesquisa sobre seus níveis de consumo de álcool, de abstenção completa, em uma média de quatro ou mais unidades de álcool por dia. Quando os pesquisadores agruparam os participantes por níveis de consumo médio, surgiu um padrão pequeno, mas aparente: o volume de matéria cinzenta e branca, que poderia ser previsto pelas outras características do indivíduo, foi reduzido. “Não é linear. Mas quando mais bebe, pior fica”, afirma Remi Daviet, da Universidade de Wisconsin-Madison e coautor do estudo.

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Mesmo retirando os que mais bebiam ​​das análises, as associações permaneceram. O volume cerebral mais baixo, porém, não estava localizado em nenhuma região do cérebro. Para dar uma ideia do impacto, os pesquisadores compararam as reduções no tamanho do cérebro ligadas à bebida aos processos que ocorrem com o envelhecimento. Com base em modelos, cada unidade adicional de álcool consumida por dia refletiu em um efeito maior de envelhecimento no cérebro. Enquanto ir de zero a uma média diária de uma unidade de álcool foi associado a meio ano de envelhecimento, a diferença entre zero e quatro bebidas foi de mais de 10 anos.

Em pesquisas futuras, os autores esperam usar o Biobank do Reino Unido e outros grandes conjuntos de dados para ajudar a responder perguntas adicionais relacionadas ao álcool. “Este estudo analisou o consumo médio, mas estamos curiosos para saber se beber uma cerveja por dia é melhor do que não beber nenhuma durante a semana, e depois sete no fim de semana”, diz Nave. Eles também querem definir a causa em vez da correlação, o que pode ser possível com novos conjuntos de dados biomédicos longitudinais que acompanham os jovens à medida que envelhecem. “Queremos ser capazes de observar esses efeitos ao longo do tempo e, junto com a genética, separar as relações causais”, diz o pesquisador.

Os cientistas ressaltam que o estudo analisou apenas correlações, mas dizem que as descobertas podem levar pessoas que bebem a reconsiderar o quanto consomem de álcool. “Há algumas evidências de que o efeito da bebida no cérebro é exponencial”, diz Daviet. “Então, uma bebida adicional em um dia pode ter mais impacto do que qualquer uma das bebidas anteriores naquele dia. Isso significa que reduzir a bebida no final da noite pode ter um grande efeito em termos de envelhecimento cerebral”.

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