Pessoas de meios socioeconômicos mais baixos têm três vezes mais probabilidade de desenvolver demência de início precoce, de acordo com pesquisadores da Universidade Huazhong de Ciência e Tecnologia. O estudo, publicado na revista Lancet Healthy Longevity, utilizou dados do UK BioBank, incluindo mais de 440 mil participantes com idades entre 37 e 73 anos.
A análise focou em dois grupos: demência de início precoce em indivíduos com menos de 60 anos e sem sintomas prevalentes, e demência de início tardio em pessoas com 65 anos ou mais. Os dados, coletados entre 2007 e 2010, e acompanhados até 2022, consideraram fatores socioeconômicos, como renda familiar, qualificações educativas, situação profissional e estilo de vida dos participantes.
Além da conclusão acima, os resultados destacaram que, surpreendentemente, menos de 12% dos casos podiam ser explicados por hábitos, sugerindo que mesmo um estilo de vida mais saudável não amenizava significativamente o risco neste grupo.
De acordo com o levantamento, o estilo de vida influi mais quando associado ao status socioeconômico: pessoas de origem socioeconômica mais baixa com hábitos de vida pouco saudáveis tinham um risco 440% maior de demência de início precoce em comparação com aquelas com situação mais elevada e que mantinham um estilo de vida saudável.
A relação entre status socioeconômico, estilo de vida e demência de início precoce mostrou ser mais forte do que na demência de início tardio. Entretanto, é importante notar que a amostra era predominantemente de origem europeia, limitando a generalização dos resultados para outras etnias.
A demência é um grupo de sintomas cognitivos e sociais que interfere nas funções diárias, afetando mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo – número que aumenta a cada 3 segundos. Embora nenhum estudo amplo tenha sido realizado, a prevalência de demência de início precoce é estimada em 40 a 100 por 100.000 indivíduos em países desenvolvidos.
Fatores de Risco no Brasil
A baixa escolaridade (considerando até oito anos de estudo) é o principal fator modificável de declínio cognitivo no país, estando ligado a 7,7% dos casos, seguido da hipertensão (7,6%) e da perda auditiva (6,8%). Associados esses fatores contribuem para 22% dos casos, de acordo com um estudo liderado pela Universidade de São Paulo (USP), que mapeou o impacto do modo de vida no declínio cognitivo dos brasileiros.
No entanto, nas regiões mais ricas do Brasil e entre os brancos, há uma inversão: a hipertensão é o principal fator, vestígio da desigualdade social assombrosa que vivemos no país.
Por serem “modificáveis”, o trabalho também revela que quase metade dos casos de demência no Brasil (48,2%) poderia ser prevenida ou, pelo menos, ter seu início retardado com o controle de 12 condições reconhecidamente associadas tanto ao Alzheimer quanto ao declínio cognitivo em geral: os três principais já citados, além de obesidade, diabetes, consumo excessivo de álcool, lesões traumáticas no cérebro, sedentarismo, depressão, tabagismo, isolamento social e exposição ao ar poluído.
Nos países desenvolvidos, os fatores de maior peso são perda auditiva, baixa educação e tabagismo.