Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Aumento global de cesáreas preocupa especialistas

Entre os países com números mais alarmantes está o Brasil, onde 55,5% dos nascimentos são por cesariana

Por Da Redação
Atualizado em 15 out 2018, 20h24 - Publicado em 15 out 2018, 18h18
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Nos últimos anos, mais de 21% dos nascimentos em todo o mundo aconteceram por intermédio do parto cesariano – quase o dobro do que ocorria na década de 1990, aponta uma série de estudos publicada no periódico The Lancet. Nos 169 países analisados, a proporção de cesáreas cresceu de 16 milhões de nascimentos em 2000 para 29,7 milhões em 2015. O procedimento pode ser uma intervenção fundamental quando o assunto é a segurança da mãe e do bebê, mas os novos dados indicam que ele vem sendo deliberadamente utilizado mesmo quando o parto natural não põe em risco a vida da gestante e/ou da criança.

    Publicidade

    Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um conjunto de recomendações para reduzir o número de cesáreas desnecessárias. Segundo a entidade, respeitando a necessidade da utilização, esse tipo de procedimento deveria corresponder a cerca de 10% a 15% dos partos – valor abaixo do descoberto pela pesquisa.

    Publicidade

    Entre os países com números mais alarmantes está o Brasil, onde 55,5% dos nascimentos são por cesariana – taxa registrada também no Egito. Esse percentual só é menor do que o da República Dominicana (58%). “Nos países emergentes ou de renda baixa e média, as mulheres ricas recorrem a cesárea cinco vezes mais do que as mulheres pobres”, explicou Ties Boerma, professor da Universidade de Manitoba, no Canadá, à CNNEm países desenvolvidos, os índices são menores: No Reino Unido e nos Estados Unidos foram registrados 26% e 32%, respectivamente. 

    Segundo especialistas, é preciso aumentar a conscientização entre mulheres, familiares e profissionais de saúde sobre os riscos potenciais da cesárea quando realizada sem razões médicas aparentes. “Para a mãe, a próxima gravidez apresenta maior risco de parto prematuro”, alertou Jane Sandall, coautora de um dos estudos, ao The Guardian. Ela ainda mencionou que é necessário entender porque, apesar de muitas mulheres desejarem o parto natural, no final da gestação elas optam pelo procedimento cirúrgico.

    Publicidade

    Riscos

    Além dos riscos oferecidos para as gestações seguintes, a cesariana ainda representa maior probabilidade de coágulos sanguíneos nas pernas da mãe, complicações em decorrência do uso do anestésico ou aumento de infecções. Já para o bebê, os riscos envolvem prejuízos ao desenvolvimento do sistema imunológico. O procedimento foi associado a uma alteração na composição do microbiota intestinal do bebê, além de aumentar o risco de obesidade e asma.

    Continua após a publicidade

    “Cesarianas causam uma recuperação mais complicada para a mãe e provocam cicatrizes no útero, o que está associado a sangramentos, crescimento anormal da placenta, gravidez ectópica (quando o bebê se forma fora do útero), natimortos e partos antes da hora nas gestações seguintes”, destacou Jane à BBCApesar disso, os pesquisadores ressaltam que os perigos são geralmente pequenos e dependem do lugar do mundo em que a operação está acontecendo.

    Publicidade

    Momento da escolha

    Outro ponto destacado por eles foi o fato de que pouco estudos analisaram os efeitos psicológicos da opção pelo parto cesariano. “Para muitas mulheres, pode ser o medo do parto ou ela foi tratada de uma maneira desrespeitosa durante os cuidados anteriores, fazendo com que escolhesse a cesariana como forma de recuperar o controle”, explicou Jane.  

    Os relatórios sugerem que, além do medo das dores do parto, outros fatores podem influenciar na decisão da mãe, como preocupações com a vida sexual depois do nascimento do bebê e a idealização da cesariana como sendo mais segura. No caso dos médicos, a sugestão do procedimento ou aceitação do pedido estão relacionados ao medo de ser processado: no Brasil, por exemplo, os obstetras são os especialistas mais processados depois de cirurgiões plásticos. Outros motivos apontados pela pesquisa são: maior recompensa financeira e horários de trabalho conturbados.

    Publicidade

    Jane ainda alerta para o fato de que as mulheres nem sempre recebem o apoio que precisam e, portanto, cabe ao médico fornecer informações precisas sobre o parto normal para dissipar os principais temores. Para ela, o trabalho do especialista é esclarecer dúvidas e não dizer o que gestante deve fazer.

    Parto normal = pobreza

    No Brasil, existe uma divisão entre as práticas das maternidades públicas e privadas. O parto natural é mais comum na rede pública, utilizada em geral por mulheres com menor poder aquisitivo. Já a cesárea é a opção de quem tem plano de saúde, uma vez que muitas operadoras cobrem apenas este tipo de parto. Para ter o procedimento convencional em uma clínica particular é preciso pagar um custo extra ou o custo total do parto vaginal.

    Publicidade

    “No Brasil, existe a crença de que o parto normal é algo que os pobres fazem. Aqueles que têm capacidade financeira escolhem cesarianas”, comentou César Eduardo Fernandes, presidente da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), ao Guardian. 

    A escolha da intervenção cirúrgica pelo médico e/ou pela paciente também está relacionada à conveniência: a cesárea leva, em média, uma hora; já o parto vaginal pode levar o dia inteiro, dependendo do caso. Segundo Silvana Granada, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a maioria dos partos cesarianos no Brasil é agendada com antecedência – e não quando a mulher entra em trabalho de parto – e normalmente é programada para ocorrer no horário de trabalho da mulher.

    Para contornar o problema, em 2016, o governo federal aprovou uma resolução aconselhando que o procedimento seja planejado apenas para gestações de alto risco e somente após a 39ª semana. Estudos recentes realizados pela Fiocruz indicam que o número está reduzindo por causa da medida. “Está ficando melhor. Mas ainda temos muito a melhorar para ter um parto mais adequado, em que a mulher é a protagonista e não o profissional de saúde”, relatou Silvana. 

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.