Anticancerígeno reverte rapidamente Alzheimer em ratos, diz estudo
O medicamento fez desaparecer até 75% das placas beta-amiloides, responsáveis pelo Alzheimer, do cérebro de ratos de laboratório
Um medicamento contra o câncer restaurou rapidamente as funções cerebrais de ratos de laboratório que sofriam da doença de Alzheimer, revelou um estudo publicado nesta quinta-feira na revista Science. O anticancerígeno bexaroteno fez desaparecer até 75% das placas beta-amiloides, uma forma de proteína cujo acúmulo é uma das principais características patológicas do Alzheimer. Além disso, ele reverteu os sintomas desta doença, como a perda de memória. O resultado representa um avanço que pode resultar no desenvolvimento de um tratamento para a doença, hoje incurável.
Opinião do especialista
Ivan Okamoto
neurologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo
A pesquisa é promissora, mas outros medicamentos tiveram o mesmo – ou até maior – grau de sucesso nesta fase e depois se mostraram ineficazes. É preciso esperar os estudos clínicos, que ainda levarão muitos anos para ficar prontos, para saber se o remédio fará efeito.
A grande e boa novidade nesta pesquisa é que ela atua com a apolipoproteína. É a primeira vez que isso é feito. Por ser uma linha de pesquisa inédita, pode obter sucesso onde as outras não conseguiram.
Paralelamente, há outro problema. É preciso desenvolver formas de detectar a doença. Atualmente não há marcadores capazes de detectar precocemente o Alzheimer. Sem isso, diminuem as chances do remédio fazer efeito. Ele precisa ser administrado antes do aparecimento dos sintomas.
Após 72 horas do início do tratamento com o bexaroteno, os ratos – geneticamente modificados para desenvolver o equivalente da doença de Alzheimer – começaram a exibir comportamentos normais, explicaram os pesquisadores. “Os animais também recuperaram a memória e o olfato”, afirmou o Dr. Daniel Wesson, professor adjunto de neurociência na faculdade de Medicina Case Western, em Cleveland (Ohio), coautor do estudo. Ele notou que a perda de olfato é, geralmente, o principal sinal de Alzheimer nos humanos.
Este avanço não tem precedentes, segundo Paige Cramer, um pesquisador da Case Western que contribuiu com a pesquisa. Até agora, o melhor tratamento existente em ratos de laboratório demorava vários meses para eliminar as placas amiloides.
“Nosso próximo objetivo é verificar se a estratégia funciona da mesma maneira em humanos”, acrescentou o Dr. Gary Landreth, professor de neurociência na mesma faculdade e principal autor do estudo. “Estamos ainda nos primeiros estágios para transformar esta descoberta fundamental em um tratamento”, disse o pesquisador.
Segundo o Dr. Wesson, a equipe “espera obter os primeiros resultados de um teste clínico preliminar até o ano que vem”.
Esta pesquisa foi baseada na descoberta, em 2008, do Dr. Landreth, de que o principal veículo do colesterol no cérebro, uma proteína chamada apolipoproteína E (ApoE), também facilita a destruição das beta-amiloides. Um aumento dos níveis dessa proteína no cérebro acelera a “limpeza” das placas amiloides que se acumulam. A doença de Alzheimer se desenvolve em grande parte quando o organismo, em processo de envelhecimento, perde a capacidade de eliminar a beta-amiloide que se forma naturalmente no cérebro.
Aparentemente o bexaroteno reprograma células do cérebro para que elas “devorem” novamente os depósitos amiloides. O bexaroteno, inicialmente desenvolvido pelo laboratório americano Ligand Pharmaceuticals com o nome de marca Targretin, foi aprovado pela FDA, agência americana que regula os medicamentos, em 1999. Ele trata um raro linfoma cutâneo de células T. O laboratório japonês Eisai comprou o direito internacional de comercializar o bexaroteno em 2006.
Saiba mais
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*O conteúdo destes vídeos é um serviço de informação e não pode substituir uma consulta médica. Em caso de problemas de saúde, procure um médico.
(Com Agência France-Presse)