Um filminho com um problemão
Em 'Pequena Grande Vida', Matt Damon diminui de tamanho para fazer o dinheiro crescer. Seus planos descambam — e, com eles, a comédia de Alexander Payne
A ideia demorou a pegar. Mas ganhou impulso quando se constatou que, convertidas para os valores do micromundo, até as economias pessoais mais mixas viram fortunas. Agora, gente modesta como o fisioterapeuta laboral Paul (Matt Damon) pensa em ser reduzida para 12 centímetros de altura e viver à grande nas comunidades de minúsculos. Não foi para isso que cientistas noruegueses desenvolveram o processo; seu objetivo era diminuir proporcionalmente a demanda humana por alimento, água e energia, e também o lixo e a poluição. Mas, não importa qual seu tamanho, a América de Pequena Grande Vida (Downsizing, Estados Unidos, 2017), que estreia nesta quinta-feira, quer consumir do jeito desabrido de sempre. Largado pela mulher (Kristen Wiig) na mesa de miniaturização, Paul fica de fora da festa: o divórcio consome o que seria sua dinheirama e o condena a voltar à vidinha (literalmente, nesse caso) de funcionário-padrão. Esse azar, entretanto, acaba por mostrar a ele o outro lado desse lugar aparentemente perfeito. Ainda que diminutos, jardins e casas não se arrumam sozinhos, e Lazerlândia emprega a força de trabalho invisível de sempre: imigrantes, refugiados e asilados como a faxineira Ngoc Lan Tran (a ótima Hong Chau), reduzida à revelia por um regime repressor. Todos subsistem, desassistidos, com as tarefas que os ricos não querem executar.
No princípio cheio de humor, de achados visuais e de sátira (pontos para o milionário eurobrega vivido por Christoph Waltz), o filme de Alexander Payne logo cai, assim, na armadilha da santimônia. Falta-lhe a agudeza de outros trabalhos do diretor, como Eleição e Ruth em Questão, e sobra-lhe a conciliação idealizada de Os Descendentes. Payne tenta retratar um mundo novo, mas falha em imaginar uma ideia ou perspectiva nova que seja.
Publicado em VEJA de 21 de fevereiro de 2018, edição nº 2570