Um cronista da violência
Morre, aos 53 anos, o letrista e baterista Marcelo Yuka, fundador do grupo O Rappa
“As grades do condomínio / São pra trazer proteção / Mas também trazem a dúvida / Se é você quem está nessa prisão.” Versos incisivos como os de Minha Alma eram a marca de Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Sant’ana, o Marcelo Yuka. O baterista, letrista e fundador do grupo O Rappa foi um dos melhores cronistas das mazelas sociais e da violência explosiva nos morros e periferias do Rio de Janeiro. Expressou sua crítica por meio do reggae, gênero que saiu dos guetos jamaicanos e é dotado de um natural espírito combativo. Yuka nasceu no Campo Grande, bairro da Zona Oeste carioca, e morou por alguns anos em Angra dos Reis, mas embrenhou-se na música na Baixada Fluminense, onde formou o grupo KMD5. Com o Rappa, seu projeto posterior, veio o sucesso, e Yuca firmou-se como um dos músicos mais socialmente engajados do país. Em 2000, ele levou nove tiros ao tentar socorrer uma mulher durante um assalto. Em decorrência da tragédia, ficou paraplégico. Depois de expulsá-lo covardemente, em 2001, O Rappa perdeu muito de seu poder de fogo. Com sua saída da banda, Yuka criou o grupo F.U.R.T.O. e lançou um disco-solo, Canções para Depois do Ódio, em 2017. Em paralelo à música, o artista intensificou suas atividades sociais e disputou as eleições para a prefeitura do Rio como vice de Marcelo Freixo, do PSOL. No início do mês, foi internado por causa de um acidente vascular cerebral, e sua saúde se deteriorou desde então. Morreu na sexta-feira 18, aos 53 anos, de infecção generalizada, no Rio.
O “Inimitável”
Era esse o apelido do cantor paulista José Marciano, um sinônimo de música sertaneja — sobretudo por seu timbre peculiar, rouco, que lhe permitia chegar a alturas inimagináveis com um agudo incomum para a primeira voz das duplas caipiras. Coautor, com Darci Rossi (1947-2017), de Fio de Cabelo, hit de Chitãozinho e Xororó, Marciano começou a carreira em 1973, ao lado de João Mineiro (1937-2012), com quem gravou sucessos como Ainda Ontem Chorei de Saudade. Morreu na sexta-feira 18, aos 67 anos, vítima de um infarto, em São Caetano do Sul.
O “Aspira”
Será difícil lembrar-se do ator carioca Caio Junqueira sem que venha à mente sua atuação como Neto, o “aspira 06” do Capitão Nascimento (Wagner Moura) em Tropa de Elite (2007), filme de José Padilha. De carreira precoce, já aos 9 anos trabalhou no seriado Tamanho Família, da TV Manchete. Não sairia mais das telas. Na Globo, fez parte de diversas produções, e em 2018 esteve em O Mecanismo (2018), série de Padilha na Netflix. Na quarta-feira 16, Junqueira dirigia em alta velocidade no Aterro do Flamengo quando bateu em uma árvore e o carro capotou. Morreu na quarta-feira 23, aos 42 anos.
Publicado em VEJA de 30 de janeiro de 2019, edição nº 2619