Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Perdidos e sem espaço

Políticos não acharam o caminho do diálogo com o eleitor

Por Dora Kramer Atualizado em 4 Maio 2018, 06h00 - Publicado em 4 Maio 2018, 06h00

O presidente Michel Temer erra até quando acerta. Em tese, a presença de um governante em locais de tragédia para demonstrar solidariedade às vítimas é um dado positivo. Na prática, depende do governante. Se benquisto, tudo bem. Se malvisto, arrisca-se, como aconteceu com Temer na tentativa de se mostrar sensível ao incêndio e desabamento de um prédio no centro de São Paulo, de ser posto a correr da cena com um quente e dois fervendo.

Tido como bamba nas artes da política de bastidores, o presidente não entende nada de “rua”. Nunca foi a especialidade dele, conforme demonstrado por suas votações para deputado. Na última, em 2006, Temer ficou em 54º lugar entre os mais votados e só entrou na lista dos setenta eleitos na bancada paulista com ajuda dos votos de legenda para o PMDB. Isso antes de se transformar no presidente mais mal avaliado desde o advento das pesquisas de opinião.

De onde não teria sido difícil aquilatar a imprudência da visita ao desastre do edifício ocupado por sem-teto, não fosse a completa falta de conexão entre o planalto e a planície. Justiça se faça ao presidente e assessoria: não estão sozinhos nessa desconexão entre a pequenez da cabeça dos políticos e a enormidade da descrença da população.

No quesito sem noção, a turma do governo tem a companhia de Lula e do PT, tradicionalmente localizados no extremo oposto da escala de identificação popular. Tidos como bambas nas artes da política de massas, os petistas vêm errando feio desde a decisão de tocar a vida sem autocrítica, operando no modo negação, até a avaliação de que seriam acompanhados na tática do confronto por grandes mobilizações de rua em defesa do partido.

Políticos e sociedade falam idiomas completamente diferentes, desconhecidos entre si. Como se um se expressasse em javanês e o outro entendesse em norueguês. Tomemos a versão segundo a qual o eleitor anseia pelo surgimento de uma candidatura de “centro”, entendida como opção menos radical, mais “normal”, para funcionar como contraponto à polarização dos grupos mais ativos no debate político-eleitoral.

Continua após a publicidade

Até agora todos os nomes mais identificados com esse perfil têm sido um fiasco. O exemplo mais eloquente é Geraldo Alckmin. Não faz mal a ninguém, tampouco empolga a maioria, que espera por alguém que possa fazer o bem. Em outras palavras, “dar um jeito no Brasil”, “organizar a bagunça”, e assim por diante.

Nessa concepção é que se encaixam perfis (segundo a percepção popular) assemelhados ao de xerife, como o de Jair Bolsonaro e o de Joaquim Barbosa, que tendem a fazer sucesso junto ao público. E aqui há um traço de semelhança entre as eleições de 1989 e 2018, ambas marcadas pela indefinição, embora em contextos bem diferentes.

Naquela ocasião, entre os 22 candidatos havia muitos ligados à norma (nesse sentido que chamo de normal) da tradição, mas chegaram ao segundo turno os dois mais distantes do padrão, Lula e Collor, que viriam a demonstrar (um mais cedo que o outro) que nem sempre a excepcionalidade é a melhor qualidade quando o caso é governar uma nação.

Publicado em VEJA de 9 de maio de 2018, edição nº 2581

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.