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O passado do futuro

Os que são sempre muito mais iguais que todos

Por João Cezar de Castro Rocha
Atualizado em 29 jul 2017, 06h00 - Publicado em 29 jul 2017, 06h00
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  • – O FABIANO de Vidas Secas foi humilhado por soldados ciosos de sua autoridade — tanto mais ostensiva quanto menos efetiva. Amargando uma noite na cadeia, sonha com vinganças e retaliações.

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    – As Ordenações Filipinas, conjunto de leis compilado no reinado de Felipe II, foram promulgadas em 1603. No Brasil, tiveram vigência até 1830, e, em certos aspectos do Código Civil, introduzido em 1916, ainda tinham voz. Fernand Braudel certamente aí veria um modelo de longue durée.

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    – O juiz do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin negou habeas-corpus a uma mulher que roubara um desodorante e outras miudezas, cujo valor não atingia 50 reais. Sereno, o severo juiz justificou a sentença: a ré era reincidente. Ora, faça as contas: de grão em grão, uma cidadã ordinária se transforma na maior produtora de proteína animal do mundo.

    – Consultemos as Ordenações Filipinas, Livro V, Título XV. Sua fórmula evoca uma novela de Boccaccio: “Do que entra em Mosteiro, ou tira Freira, ou dorme com ela, ou a recolhe em casa”.

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    Crime gravíssimo — diria José Dias, jurista acidental. Em casos assim, uma pena exemplar se impõe: “E o homem, a que for provado, que tirou alguma freira de algum Mosteiro (…), se for peão, morra por isso. E, se for de mor qualidade, pague cem cruzados, e mais será degradado para sempre para o Brasil”.

    Imagine viver numa época em que uns poucos felizardos são sempre muito mais iguais que todos os outros! Não se confunda: em 2017, os donos do mundo, inimputáveis, são enviados para o Inferno de Wall Street — e, claro, nunca ouviram falar no Guesa Errante.

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    – A delação Mega-Sena da virada de Joesley e Wesley Batista estarreceu o país. Seu diálogo com o senador Aécio Neves é de tão baixo nível que desafia o Simão Bacamarte que existe em cada um de nós, diagnosticando a esquizofrenia que estrutura o sistema político brasileiro: dupla personalidade é fichinha ante o conluio mafioso a que fomos expostos. Seus sussurros com o presidente da República são politicamente pornográficos: privilégios indevidos em bancos públicos; corrupção ativa de juízes; generosas mesadas vitalícias, mais conhecidas como “vale-silêncio” — e outras pérolas de igual quilate. Afinal, em suas confissões, só se serve carne de primeira.

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    – Numa vereda, Fabiano cruzou com o soldado amarelo. Mais forte, poderia matá-lo com facilidade. No entanto, algo segurou o seu braço: “Governo é governo”.

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    – O criterioso juiz Edson Fachin homologou o acordo de delação conto de fadas de Joesley e Wesley Batista. Compreende-se: seria sem dúvida precipitado considerar os dois irmãos reincidentes apenas porque ao longo de quase duas décadas patrocinaram com incomum generosidade a carreira elogiável de aproximadamente 2 000 políticos.

    – O que será que será quando os milhões de Fabianos deixarem de respeitar a autoridade de um governo-pura-desfaça­tez?

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    Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2017, edição nº 2541

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