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O lobo e o cordeiro

Juiz deixa a Corte Interamericana de Direitos Humanos após ter sido acusado de espancar a esposa e de assediar sexualmente empregadas domésticas

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 Maio 2018, 06h00 - Publicado em 18 Maio 2018, 06h00

Em meados de 2004, o Brasil buscava uma saída honrosa para superar um vexame internacional: três anos antes, o país fora condenado pela Organização dos Estados Americanos por ter se calado diante do caso da farmacêutica Maria da Penha Fernandes. Ela lutava, havia quase duas décadas, pela punição de seu ex-companheiro depois de ter sido torturada e ficado paraplégica ao levar um tiro. Diante da pressão, um grupo de renomados especialistas se uniu para formular propostas, que acabaram dando origem à chamada Lei Maria da Penha — um marco no combate à violência doméstica. Um dos especialistas ouvidos foi o advogado Roberto Caldas.

(Sasha Maslov/The New York Times/Fotoarena)

Na segunda-feira 14, Caldas renunciou ao cargo de juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos depois que uma reportagem de VEJA revelou que ele era alvo de acusações de violência doméstica e assédio sexual. Michella Marys, a ex-mulher do magistrado, denunciou o juiz por protagonizar ao longo de uma década as mesmas cenas de brutalidade que ele sempre combateu publicamente. À polícia, ela contou que foi atingida várias vezes com socos e pontapés, era xingada de “vagabunda e ordinária” e que, numa discussão, o marido ainda ameaçou pegar uma faca para matá-la. Caldas também é acusado de assediar sexualmente duas babás que trabalhavam em sua residência. A divulgação do caso levou ao chão uma carreira de trinta anos. Além de perder o cargo na corte, ele foi afastado do escritório de advocacia que ajudou a fundar.

Caso parecido - Maria da Penha, que deu nome à Lei: “Quem vai acreditar?” (Marcos Stenmeyer/.)

Roberto Caldas admite o destempero verbal, mas nega qualquer agressão física e acusa a ex-mulher de armação. À frente do caso, a delegada Sandra Gomes afirma que há provas robustas contra o jurista, o que permitirá a conclusão das investigações já nos próximos dias. “Infelizmente, a cultura da violência contra a mulher ainda está arraigada na sociedade”, diz ela. O dado mais incômodo dessa história é que Caldas parecia um aliado da causa feminista no repúdio à violência, mas era, na verdade, um lobo em pele de cordeiro. Caso semelhante acontece, neste momento, com o procurador-geral de Nova York, Eric Schneiderman, que renunciou ao cargo depois que uma reportagem da revista New Yorker denunciou como ele agrediu quatro mulheres. Schneiderman também era um ativo militante em ações para barrar a violência contra a mulher.

Em entrevista a VEJA, Maria da Penha disse que o caso de Michella soa ainda mais grave pelo papel pró-mulheres adotado por Caldas. Ela também vê muitas semelhanças com a própria história: “O meu agressor não demonstrava em público o que era. Foi uma surpresa para quem não o conhecia. Eu tinha um enorme medo de denunciá-lo. Afinal, quem vai acreditar?”. Maria da Penha e Roberto Caldas se encontraram pela última vez no fim de 2015. O advogado fez questão de parabenizá-la pelo empenho.

Publicado em VEJA de 23 de maio de 2018, edição nº 2583

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