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O desafio de Ciro

Ele quer se aproximar do “PIB”. Não vai ser fácil

Por André Lahoz Mendonça de Barros
Atualizado em 11 Maio 2018, 06h00 - Publicado em 11 Maio 2018, 06h00

“A NOIVA mais disputada desta eleição.” Foi assim que um cacique do PR definiu o empresário Josué Alencar, recém-chegado a seu partido, ante a cobiça para que seja candidato a vice-presidente em outubro. Há aí certo exagero: Joaquim Barbosa, ao sair da disputa, é de longe a noiva mais vistosa — e provavelmente inalcançável. Mas Josué tem lá seu charme. É filho de José Alencar, o empresário vice de Lula. É de Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral e espécie de síntese do Brasil. E é empresário — além de ter uma fortuna, aporta uma imagem de confiabilidade, cara a políticos mais à esquerda.

Josué estava nos planos de Lula. Passou a ser cobiçado por Ciro Gomes. Mas talvez o casamento acabe sendo com outro empresário, Benjamin Steinbruch. Ciro tenta controlar sua conhecida destemperança e quer se aproximar do “PIB”. Um homem de negócios seria um reforço à imagem que Ciro tenta projetar: um político de esquerda que respeita os cânones da economia. Se convencer, terá provavelmente a oportunidade de sua vida. O eleitorado flertou com ele em 2002, mas seu descontrole jogou tudo por terra — abrindo espaço para a era Lula, a cujo desfecho acabamos de assistir.

O convencimento, porém, não será simples. Nas últimas eleições, candidatos de esquerda ou centro-esquerda tiveram entre 40% e 55% dos votos no primeiro turno. É aí que Ciro e PT vão disputar. Ciro e Fernando Haddad estiveram juntos recentemente, mas as reações iradas no PT evidenciaram que uma união agora é dificílima.

E resta o medo que Ciro desperta nos investidores. Seu partido, o PDT, é o maior inimigo da reforma trabalhista, um raro avanço institucional num país amante do atraso. Ciro se aproximou da linha de pensamento batizada de Novo Desenvolvimentismo. A figura maior é a do ex-ministro Luiz Carlos Bresser-­Pereira, que esteve no encontro entre Ciro e Haddad. Nelson Marconi, outro desenvolvimentista de carteirinha, é um de seus principais assessores. Não deixa de surpreender a defesa dessa visão depois do fiasco de Dilma. Mas Marconi sugere uma diferença entre o seu desenvolvimentismo e o do passado recente: em sua variante, a política fiscal será rígida, ao contrário da gastança de Dilma. Trata-se de um ponto a comemorar.

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Coincidem, porém, na essência: a noção de que cabe ao governo gerar o crescimento. Os dois principais preços da economia, segundo Marconi, vêm sendo pessimamente administrados nas últimas décadas: os juros são altos e o câmbio é baixo. O próximo presidente terá de inverter: baixar os juros e desvalorizar o câmbio. Outro ponto central nessa visão é a disparidade de rentabilidade entre os setores: dão mais lucro aqueles que geram poucos empregos ou empregos ruins. O governo precisa incentivar os setores “certos”, que ele, claro, saberá apontar.

É da dinâmica eleitoral que candidatos busquem amenizar o discurso. A combinação de Bresser e PDT, contudo, torna a aproximação de Ciro com o mercado uma tarefa de Hércules. A não ser com os “empresários” que não resistem a um telefonema de Brasília: com esses até Guilherme Boulos já pode contar.

Publicado em VEJA de 16 de maio de 2018, edição nº 2582

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