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Na alegria e na tristeza

Antigos parceiros políticos, José Maria Marin e Paulo Maluf trilharam caminhos distintos nos desvios da corrupção, mas conheceram juntos o fim da impunidade

Por Ana Clara Costa Atualizado em 31 jan 2018, 15h08 - Publicado em 29 dez 2017, 06h00

José Maria Marin jurou fidelidade eterna a Paulo Maluf quando este o escolheu como vice-governador de sua chapa para chefiar o Estado de São Paulo, em 1978. Naquela época, ambos integravam a Arena, o partido que ancorava a ditadura moribunda, e tinham em comum não só a afinidade política, mas também a acusação, por membros da própria agremiação, de fraudar a contagem de votos que os tornaria vitoriosos. Quase quarenta anos transcorreram entre a ascensão da dupla e sua derrocada. Marin, que seguiria carreira como cartola, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), é o novo hóspede da penitenciária do Brooklyn, em Nova York, que recebe terroristas e criminosos de colarinho branco. Foi parar atrás das grades acusado de ter participado de um esquema de corrupção da Fifa. Maluf está detido no Complexo da Papuda, em Brasília, em uma cela com outros três detentos.

Maluf tem 86 anos. Marin está com 85. Os dois foram presos quase ao mesmo tempo. No entanto, houve diferentes ritmos no processo de cada um, o que permite comparar a agilidade dos tribunais americanos com a morosidade da Justiça brasileira. Os malfeitos de Marin foram revelados ao Departamento de Justiça dos EUA graças a um acordo fechado pelo empresário brasileiro J. Hawilla, que, em 2014, delatou o esquema de corrupção no futebol. Marin foi preso na Suíça em maio de 2015. Ficou cinco meses em um presídio em Zurique, antes de ser extraditado para os Estados Unidos, onde cumpriu prisão domiciliar em seu apartamento na Trump Tower, na Quinta Avenida. Depois de um mês de julgamento, a corte americana condenou-o por seis dos sete crimes dos quais era acusado: três de fraude financeira; dois por lavagem de dinheiro; e um por organização criminosa. Todos se referem ao recebimento de propina de empresas de marketing esportivo em troca de contratos publicitários. Maluf, não percamos o fio condutor do tempo, foi denunciado por desviar dinheiro de obras públicas para contas em paraísos fiscais há vinte anos, pouco depois de terminar o mandato como prefeito de São Paulo. E só agora, em dezembro de 2017, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a sete anos e nove meses de prisão pelos crimes que não estavam prescritos — como uma movimentação de contas nas Ilhas Jersey em meados de 2004.

A sentença de Marin ainda não foi publicada, mas a juíza Pamela Chen já determinou que ele começasse a cumprir pena no presídio — apenas dois anos após a conclusão da investigação. A defesa de Marin recorrerá na corte de apelações, mas ele permanecerá preso durante todo o trâmite de recursos. A pena máxima do ex-dirigente pode chegar a 120 anos, e dificilmente será convertida para prisão domiciliar. Maluf está confiante na perspectiva de que seus advogados consigam, na Justiça, tirá-lo da Papuda e mandá-­lo para casa, devido à idade avançada e à saúde frágil.

Há outro modo de medir as diferentes Justiças, de lá e cá. A benevolência da legislação brasileira garante que Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, antecessor e sucessor de Marin no comando da CBF, também processados nos Estados Unidos e na Europa, continuem levando vida normal — ainda que, sob risco de serem presos, não possam deixar o Brasil. A investigação sobre Marin expôs, em especial, a participação de Del Nero no chamado “Fifagate”. Com a condenação do cartola pelos mesmos crimes dos quais Del Nero é acusado nos EUA, aumentam as chances de ele também ser banido do futebol. Del Nero vinha se segurando na presidência da CBF, mesmo suspenso, graças a um misto de corporativismo e benevolência das federações brasileiras. Mas parece inevitável que ele perca a base de apoio, depois do veredicto imposto à sua alma gêmea na semana passada. Resta saber, enfim, se fora do futebol o destino de Del Nero será parecido com o de Marin ou o de Maluf. A julgar pela dificuldade do Brasil em lidar com crimes nesse esporte — desde a CPI da Nike, em 2000, todas as investigações foram arquivadas —, a segunda opção é a mais provável.

Publicado em VEJA de 3 de janeiro de 2018, edição nº 2563

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