Ao argumentarem a favor da lei que proibia mulheres de dirigir na Arábia Saudita, clérigos islâmicos chegaram a sustentar que assumir o volante trazia efeitos psicológicos e fisiológicos negativos para elas. Seus ovários poderiam ser afetados e a pélvis, empurrada para cima. Bobagens como essas serviram por décadas para justificar o domínio masculino na sociedade. Que lufada de ar fresco não foi quando o rei saudita anunciou que, a partir de junho de 2018, elas poderão assumir a direção dos carros. E que tempestade de areia não foi quando um diretor da Uber, o serviço de transporte particular, declarou que quer contratá-las. Hoje, as mulheres do país que têm emprego gastam boa parte de seu salário em aplicativos desse tipo para ir e voltar do trabalho ou dependem de algum homem para levá-las de um lugar para outro. Também na esperança de conquistar clientes, a Ford divulgou em suas redes sociais um anúncio (no destaque) inspirado em um belo pôster de uma campanha pelos direitos das mulheres em Dubai. Neste ano, a balança pendeu um pouco mais em favor delas também em outros países árabes, como a Jordânia, a Tunísia e o Líbano, que revogaram leis que permitiam a estupradores evitar a prisão casando-se com suas vítimas. Essas mudanças são o resultado de décadas de ativismo das mulheres locais, embora ainda existam barreiras dentro de casa. Três em cada quatro homens no Oriente Médio acreditam que a função mais importante delas é cuidar da família. A esperança é que essa mentalidade mude, e que mais mulheres apareçam nos espaços públicos e no trabalho, voando cada vez mais alto — não apenas nos balanços.
Publicado em VEJA de 11 de outubro de 2017, edição nº 2551