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Eles (ainda) controlam a cena

Novos atores sobem ao palco e outro desce, mas a polarização entre Lula e Bolsonaro na disputa para 2018 só aumenta

Por Sofia Fernandes, Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 dez 2017, 06h00 - Publicado em 8 dez 2017, 06h00

Saiu um, entraram outros, um terceiro se insinuou. Nas pontas, porém, nada mudou. Melhor dizendo: os extremos se fortaleceram um pouco mais. O ex-presidente Lula e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) cresceram em cena mesmo com o aperto no palco, onde agora se espremem o tucano Geraldo Alckmin, alçado ao posto de pré-candidato em um acordo que fez voar penas no PSDB; Marina Silva, que oficializou sua pré-candidatura pela Rede; o ministro Henrique Meirelles, que se vendeu publicamente como possível candidato, para embaraço do governo; e Ciro Gomes, que continua jogando parado. Luciano Huck recolheu a fantasia — ao menos por ora.

A cristalização da polarização entre Lula e Bolsonaro ganhou nitidez com a última pesquisa do Instituto Datafolha. Os dois candidatos aumentaram seu porcentual em intenções de voto e reduziram sua rejeição. Lula mantém-se na frente, com 36%. Bolsonaro firmou-se em segundo lugar, com 18%. No levantamento anterior, em setembro, o petista tinha 35% dos votos e Bolsonaro, 17%, quando estava tecnicamente empatado com Marina Silva, que tinha 13%. Agora, Marina caiu para 10%. Alckmin e Ciro Gomes vêm empatados com 7% (na pesquisa anterior, estavam com 8% e 4%). Meirelles passou de 2% em setembro para 1% na última pesquisa. Nesse intervalo, a parcela do eleitorado que rejeita Lula caiu de 42% para 39%. A que rejeita Bolsonaro foi de 33% para 28%.

Tudo somado, o resultado do Datafolha sugere que, por enquanto, os nomes espremidos entre Lula e Bolsonaro despertam tanta empolgação no eleitor quanto missa em latim. Hoje, as chances de um deles quebrar a polarização dependem fundamentalmente de dois pontos: a capacidade de um candidato seduzir o eleitor com um discurso “de centro” e o desempenho da economia. Para o sociólogo Demétrio Magnoli, o discurso de centro só terá força se soar novo — ou seja, se mostrar conexão com movimentos da sociedade civil, se incorporar as demandas éticas dos eleitores e se o seu portador for capaz de formar uma coalizão forte, sem lastro no fisiologismo.

Até o momento, Magnoli não vê nenhum postulante que preencha os três requisitos. Marina poderia satisfazer os dois primeiros, mas não empolga a fauna partidária e se enfraquece a cada pesquisa eleitoral. Alckmin e Meirelles “operam como se estivéssemos num período de estabilidade política e as eleições de 2018 fossem ser normais, o que não é verdade”, afirma Magnoli. “A única chance de quebrar a polarização seria articular uma candidatura suprapartidária ou interpartidária, que ultrapasse o esquema de interesses de partidos, mas que não venha de fora da política.”

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Os rumos da economia também podem ditar a trajetória dos candidatos hoje favoritos — sua melhora pode desidratar os extremos. Os últimos dados de criação de emprego e crescimento do produto interno bruto (PIB) demonstram um sopro de reaquecimento depois de três anos de recessão. Essa variável, segundo especialistas, tende a arrefecer a insatisfação e o desalento do eleitorado que, por diferentes motivos, tem migrado na direção de Lula e Bolsonaro. “A melhora da economia reduz a margem da emoção do eleitor na hora de decidir o voto. O contrário disso aumenta a identificação das pessoas com ideias mais radicais”, avalia Ricardo Sennes, diretor da consultoria política Prospectiva.

Duelo de extremos – Apoiadores de Bolsonaro contra eleitores de Lula: a polarização vai às ruas (Carlos Emir/Futura Press/Estadão Conteúdo)

A retomada econômica é o principal ativo do governo para negociar o passe do PMDB nas eleições presidenciais. Ganhará o apoio do partido o candidato que defender o “legado” do presidente Michel Temer, por mais controvertido que seja (leia a coluna de Dora Kramer). No último domingo, Temer reuniu caciques aliados no Palácio da Alvorada para discutir a reforma da Previdência — mas acabou dando o primeiro passo claro em direção a 2018: propôs a formação de um bloco de sete partidos (PMDB, PP, PR, PRB, DEM, PSD e PTB) como opção de centro para uma candidatura presidencial que dê continuidade à sua gestão. Juntas, as legendas seriam capazes de somar amplo tempo de TV e ganhar musculatura para rivalizar com Lula e Bolsonaro.

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Nesse blocão, a promessa do PMDB é que todos sairiam ganhando. Detentor da máquina, o governo pode reforçar os palanques dos partidos, promovendo repasses de verbas e priorizando projetos federais em bases eleitorais estratégicas de seus aliados. Temer, da mesma maneira, não ficaria a ver navios. Aliados já discutem a possibilidade de lhe entregar um ministério — o que garantiria, em 2019, foro privilegiado ao presidente, duas vezes denunciado pelo Ministério Público. Por enquanto, Meirelles e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-­RJ), são os nomes cogitados para encabeçar o plano, que, de saída, tem um obstáculo respeitável à frente. A insatisfação dos brasileiros com a atual gestão não cessa de bater recordes — todos negativos. A situação é tão ruim que o fato de a rejeição a Temer — que continua em 71% — não ter piorado tem sido encarado pelo Planalto como boa notícia.

Não havendo um centro mudancista ou uma retomada capaz de melhorar o humor do país, a polarização só será quebrada em caso de enfraquecimento de um dos polos — mas nem mesmo se tem certeza de que Lula esteja, de fato, apostando em concorrer à Presidência (leia a coluna de Roberto Pompeu de Toledo). Afinal, seus problemas com a Justiça são crescentes. Réu em cinco ações penais e condenado em uma, ele poderá virar ficha-suja antes dos primeiros ventos eleitorais de 2018. O desembargador do Tribunal Regional da 4ª Região, João Pedro Gebran Neto, que compõe a turma incumbida de julgar os recursos da Lava-Jato de Curitiba, concluiu seu voto no recurso apresentado pelo petista no processo relativo ao tríplex no Guarujá. Se os pares de Gebran seguirem o mesmo ritmo, em março o julgamento do recurso poderá ser marcado.

Caso a condenação de Lula seja mantida em segunda instância, o PT terá de optar por arriscar-se numa batalha de liminares que permita viabilizar sua campanha ou trocar de candidato. A troca de candidato, no entanto, só pode ser feita até agosto. Nada garante, porém, que um nome escolhido na última hora pelo PT herdará os votos de Lula. Dos entrevistados pelo Datafolha, 29% admitiram votar em alguém apoiado pelo ex-­presidente. O palco está montado e o espetáculo vai começar, mas o elenco ainda não está fechado e o enredo permanece um mistério — por enquanto, sem indícios de um final feliz.

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Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2017, edição nº 2560

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