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O que foi mais difícil de contar em seu livro, Mãe Coragem? Eu tinha três filhos e vivia com muita dificuldade, sem dinheiro para alimentá-los. A quarta gravidez não foi programada. Significava mais uma boca para sustentar. Resolvi abortar. Tomei muitos chás, mas não resolveu. Fui ao médico, decidida. O doutor foi ríspido comigo e não deixou. “Essa criança vai te dar muita alegria”, ele disse. Fui para casa, chorei e pensei no que o médico tinha dito. Eu me arrependo de ter tentado o aborto, e me arrependi mais quando vi aquele bebezinho lindo em meus braços, perfeito. Ele iluminou minha vida.
Como é sua relação com Cristiano? Moramos perto, mas ele me liga a todo momento. Temos sempre a mesma conversa antes dos jogos: “Filho, a mãe te deseja boa sorte, e eu te amo”. Ele responde: “Obrigado, mãe, a senhora está no meu coração”. Dou parabéns a ele quando faz gol e o critico muito quando joga mal.
É um filho obediente? Se tiver de chamar a atenção dele, chamo, brigo, e ele abaixa a cabeça e cala a boca na hora. É um menino humilde, sabe ouvir e falar, não é mandão, gosta de ajudar o próximo e tem orgulho da família. Quando começou a ganhar dinheiro, a primeira coisa que fez foi comprar uma casa para mim. Ele é e sempre foi vaidoso. Fica constantemente arrumando o cabelo para trás e se preocupa com o corpo e a pele desde criança.
A senhora se incomodou quando um adversário o chamou de maricas? Não, porque ele não é. E, se fosse, eu teria o mesmo amor.
Seu filho tem 33 anos. Ele fala de aposentadoria? Comenta comigo que vai jogar mais três anos. Quando ele encerrar a carreira, eu gostaria de vê-lo como ator de cinema. Ele se dá muito bem nisso, e até falou que gostaria de fazer um filme.
A sua filha vai abrir um restaurante no Brasil, em Gramado. Como será? Será um restaurante com culinária portuguesa, chamado Dona Dolores. O bacalhau é prato obrigatório na minha casa. Ronaldo gosta principalmente do bacalhau à brás.
A senhora acredita que ele ganhará a Copa do Mundo? Acredito que Portugal passará dos três primeiros jogos. Ganhar a Copa, eu já não sei. Sei que meu filho vai dar um show.
Publicado em VEJA de 30 de maio de 2018, edição nº 2584