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Brasil, o reality show

A causa secreta da política do medalhão que ainda rege o país

Por João Cezar de Castro Rocha
Atualizado em 16 fev 2018, 06h00 - Publicado em 16 fev 2018, 06h00

• No palácio de Versalhes, na corte de Luís XIV, o espetáculo começava cedo. O despertar do Rei Sol era aplau­dido por um número seleto de cortesãos. Presenciar as abluções matinais do rei era distinção rara, que esclarecia a posição privilegiada dos súditos nos hierárquicos salões do labiríntico palácio.

• A coluna de Josias de Souza pu­blicou uma declaração ousada de Fernando Henrique Cardoso em apoio à candidatura presidencial de um apresentador de programa de auditório: “Eu gosto do Huck. Sou amigo dele e da família. […] Ele tem boas intenções”. Ora, existe algum amigo nosso que não as tenha em abundância?

• Janjão está pres­tes a completar 21 anos! Naturalmente, seu pai almeja tudo para o filho: por que não tornar-­se um medalhão? Generoso, fornece a receita infalível: não pensar por conta própria; caprichar na pose de homem sério; nunca recorrer à ironia, perigosa em sua ambiguidade, antes abusar da chalaça, a fim de provocar gargalhadas ruidosas. Uma vez diplomado medalhão, por que não ingressar na política?

• Além de ser aplaudido no reality show dos aposentos reais, Luís XIV principiou o processo de centralização da política e da economia. Por isso, Alexis de Tocqueville, em seu clássico estudo sobre a Revolução Francesa, pôde identificar mais continuidade do que ruptura: os revolucionários do século XVIII teriam rematado a obra do Rei Sol, fortalecendo o Estado por meio de uma centralização ainda mais vigorosa. Luís XIV tinha um projeto para a França, e não apenas um desejo de autopromoção.

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• A cordialidade, ensinou Sergio Buarque de Holanda, apresenta um sério obstáculo à modernização da sociedade brasileira, pois favorece sempre o círculo de amizades, em detrimento do interesse público. Como se o Brasil de 2018 se reduzisse a uma encenação involuntariamente anacrônica das aquarelas de Jean-Baptiste Debret.

• O filme chileno No não foi bem compreendido. Em tese, tratava-se de celebrar a histórica derrota do ditador Augusto Pinochet no plebiscito de 1988, que, pelo contrário, deveria tê-lo consagrado. Porém, se visto com olhos bem abertos, o filme, à revelia de seus realizadores, denuncia o aqui e agora. Pelo avesso, a vitória do “não” ao ditador significou a derrota constrangedora da política para a lógica do espetáculo. Derrota ecumênica: à direita, à esquerda e ao centro do arco-íris ideológico, os marqueteiros viraram os protagonistas da pólis pós-política.

• No tabuleiro das articulações tupiniquins, o enxadrista FHC arrisca um gambito. Apoiar Luciano Huck não sacrificaria o governador de São Paulo e o próprio PSDB? Talvez não… No fundo, o alvo do ex-presidente é um ex-­prefeito, ex-governador e ex-ministro.

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• Seria indelicado sugerir ao ex-­presidente e a Luciano Huck a leitura de Machado de Assis? Poderiam começar por dois contos, textos curtos: A Causa Secreta e Teoria do Medalhão.

• Xeque-mate?

Publicado em VEJA de 21 de fevereiro de 2018, edição nº 2570

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