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As raízes de 13 milhões de DNAs

Cientistas reúnem onze gerações de pessoas numa única árvore genealógica. As informações ajudam a compreender o passado e o presente da humanidade

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 mar 2018, 06h00 - Publicado em 30 mar 2018, 06h00

A descoberta da molécula do DNA, em 1953, que levaria os biólogos Francis Crick e James Watson ao Nobel de Medicina, foi o mais extraordinário avanço para entendermos de onde viemos, um atalho para medir os passos inaugurais da história da humanidade. Em 2001, depois que se concluiu o primeiro sequenciamento dos genes humanos, os pesquisadores começaram a usar esse notável levantamento para compreender quais características são hereditárias. Sabe-se, hoje, que não apenas atributos mais evidentes, como a cor dos olhos, são transmitidos geneticamente. Também pode vir de pai para filho a predisposição a doenças como Parkinson e câncer, ou à obesidade, assim como a tendência a se sair melhor em determinado esporte. No mês passado, foi anunciada outra vitória nesse campo do conhecimento humano: um estudo da Universidade Colúmbia, em Nova York, compilou as informações genéticas de 13 milhões de pessoas, de onze gerações, em uma mesma árvore genealógica. O maior mapeamento genético já realizado, um feito de proporções homéricas, pode levar a conclusões surpreendentes acerca da evolução humana.

O trabalho foi possível graças à reunião de 86 milhões de perfis cadastrados no site israelense Geni, no qual pessoas oferecem voluntariamente algumas de suas informações genéticas em troca de dados que possam levar à descoberta de parentes distantes. Como a página é mais usada por europeus e cidadãos de países da América do Norte, 85% dos indivíduos participantes moram ou moraram nesses continentes. Foram considerados, então, apenas aqueles ligados por algum traço mínimo de relação genômica. Chegou-­se assim ao número de 5 milhões de famílias interconectadas, totalizando os 13 milhões de pessoas de onze gerações — a mais antiga data de 1492. Esti­ma-se que, caso se quisesse achar uma raiz comum a todas as linhagens incluídas, seria preciso voltar mais 65 gerações até o antepassado único — um objetivo hoje inviável cientificamente, pois ainda não é possível coletar informações de DNAs tão antigos. Os geneticistas envolvidos, no entanto, sonham chegar um dia a esse parente comum a todos os 13 milhões nomeados no levantamento.

Disse a VEJA a geneticista Joanna Kaplanis, líder do estudo da Colúmbia e membro e pesquisadora do Centro de Genoma de Nova York: “Agora abrimos à comunidade científica os dados que conseguimos, para explorar o que se pode descobrir com eles”. Joanna e sua equipe já chegaram a algumas conclusões curiosas. Em uma delas, percebeu-se em que momento da civilização se deu um boom na variedade genética das populações. Foi em cerca de 1750. Antes desse longínquo período, os habitantes da América do Norte costumavam se casar com pessoas que moravam a no máximo 10 quilômetros de distância. A partir de então, conforme eles aprimoravam tecnologias como as de transporte urbano, o limite se estendeu, até alcançar uma média de 100 quilômetros em 1950. Esse movimento em busca de parceiros fora da vizinhança levou à diversificação genética.Fundamentalmente, proporcionou encontros entre etnias distintas e fez desaparecer — ou ao menos transformou em tabu — o casamento entre membros de uma mesma família, algo que era bastante comum até então.

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Os cientistas conseguiram ainda avaliar, com a profusão de dados que reuniram, se a longevidade seria também transmitida como uma herança genética. Os resultados trouxeram um dado novo: mostraram que a genética contribui com cerca de 16% dos elementos que levam a uma vida duradoura. “Ao contrário do que acadêmicos achavam antes, concluímos, com esse compêndio, que ter uma rotina saudável é muito mais decisivo para a sobrevivência do que possuir genes privilegiados”, ressalta a geneticista Joanna. O levantamento agora deve servir de base para a abertura de novíssimas avenidas de investigação. Diz Joanna: “As informações cruas podem impulsionar buscas por uma infinidade de respostas. Pode-se usá-las, por exemplo, para analisar como se deram conflitos sociais, as curvas das taxas de fertilidade, as epidemias. É um vasto território de investigação”.

Publicado em VEJA de 4 de abril de 2018, edição nº 2576

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