Engraçado nunca foi. Mas os vinte anos transcorridos entre a data em que Paulo Maluf virou réu na Justiça e o dia em que o Supremo Tribunal Federal decidiu mandá-lo para a cadeia acabaram por transformar seu caso em um quase folclore nacional. Por dez anos, Maluf, de 86, acumulou o status de réu com o de deputado federal. Ao desfilar solerte pelo Congresso, o político que se tornou símbolo do “rouba mas faz” muitas vezes recebia cumprimentos efusivos de eleitores. Quando a Procuradoria-Geral da República divulgou a lista de mais de 100 políticos acusados de corrupção, ele fez troça. Tuitou: “Não só não estou na Lava-Jato e na lista do Janot como não estou no mensalão”. Quem não riu?
Sua condenação a sete anos e nove meses em regime fechado se deu pelo desvio de 15 milhões de dólares cometido quando foi prefeito de São Paulo entre 1993 e 1997. No total, o valor embolsado chegou a 172 milhões de dólares, mas a maior parte desse dinheiro estava relacionada a crimes que prescreveram. Maluf, quer fique literalmente atrás das grades, quer seja beneficiado com a prisão domiciliar por motivos humanitários em razão da idade avançada e de sua saúde, estará pagando seu preço — ainda que tenha exibido boas condições físicas na manhã de quarta, dispensando até a bengala quando não sabia que estava sendo flagrado pelas câmeras da Rede Globo. A prisão de Maluf é um indício de que algo mudou na Justiça brasileira — e para melhor. Já era mesmo tempo de certas piadas perderem a graça.
Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562