Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

A voz e o rosto de Bergman

Morre, aos 83 anos, a atriz Bibi Anderson

Por Da Redação Atualizado em 19 abr 2019, 07h00 - Publicado em 19 abr 2019, 07h00

Em 1971, numa entrevista concedida à televisão americana, a atriz sueca Bibi Andersson foi indagada sobre o que achava de seu “chefe”, o cineasta Ingmar Bergman, timidamente sentado a seu lado. Bibi mal teve tempo de ensaiar uma resposta, ajeitou o vestido florido e foi interrompida pelo próprio Bergman: “Não, ela é que é minha chefe — em cena, é ela”. Os dois fizeram uma das duplas mais fascinantes da história do cinema, ao longo de treze filmes. Bibi era, nas telas, a quintessência do que Bergman sentia e levava ao celuloide. Eles começaram a trabalhar juntos em um comercial para uma marca popular de sabão, ela ainda adolescente, ele dando os voos iniciais. Nos primeiros filmes, nos anos 50, Bibi encarnava a pureza, a delicadeza, a juventude — depois, já na década de 60, numa extraordinária mudança, traduzia complexidade, desilusão e dor. Em O Sétimo Selo (1957), na pele de uma jovem mãe medieval, quando aparecia era acompanhada do sol a brilhar e do canto franciscano dos pássaros. Em Morangos Silvestres (também de 1957), viveu duplo papel: a donzela virginal prima do protagonista, um professor já idoso, com quem tivera um compromisso no passado, sempre a colher frutas, e a feliz caroneira de beira de estrada que o faz lembrar do amor perdido. E então veio o susto, a ruidosa transformação com Persona (1966) — e a moça suave virou um vulcão.

Na figura de Alma, a enfermeira contratada para acompanhar uma atriz decadente (Liv Ullmann), que tivera um colapso e já não podia falar, o mundo descobriu outra Bibi Andersson, cuja virada pode ser resumida, e apenas resumida, tantas eram suas nuances, ao cabelo curto como o das francesas da nouvelle vague.

As duas mulheres, na ficção, começam a desenvolver no intenso drama uma relação forte, de grande intimidade e marcada pelo erotismo. “Quando li o roteiro de Persona, não fiquei lisonjeada. Não entendi por que eu tinha de interpretar aquele tipo de personalidade insegura e fraca quando estava lutando tanto para ter certeza de mim mesma e encobrir minhas inseguranças”, disse ela à revista American Film em 1977. Fluente em inglês, Bibi trabalharia também para outros grandes diretores americanos, como John Huston e Robert Altman, mas nunca mais descolaria sua imagem de Bergman e daquele dueto insinuante com Liv Ullmann em Persona. Em 2009, sofreu um derrame cerebral e não se recuperou. Morreu aos 83 anos, no dia 14, em Estocolmo, na Suécia.

Publicado em VEJA de 24 de abril de 2019, edição nº 2631

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.