Uma das atividades preferidas do presidente Donald Trump é atacar a imprensa que publica reportagens críticas a sua gestão. Seguindo seu raciocínio, notícias negativas só podem ser falsas (fake news, no jargão que Trump popularizou). Na quinta-feira 29, o republicano extrapolou ao chamar de “louca” uma âncora de TV e dizer que ela visitou um de seus campos de golfe sangrando no rosto em decorrência de uma cirurgia plástica. A despeito do bullying presidencial, a imprensa não se intimida e continua empenhada em desvendar os problemas da gestão, com incrível sucesso. Frequentemente, as encrencas têm vínculo com a Rússia, que, segundo o FBI, a polícia federal americana, atuou a favor do republicano nas eleições de 2016.
No domingo 25, o jornal The Washington Post revelou que a empresa de Jared Kushner, genro e assessor de Trump, fechou um financiamento de 285 milhões de dólares com o Deutsche Bank um mês antes da eleição. À época, o Deutsche negociava um acordo nos Estados Unidos para encerrar um caso de lavagem de dinheiro na Rússia. Na terça-feira, a notícia foi que Paul Manafort, ex-chefe da campanha presidencial de Trump, registrou com atraso, no Departamento de Justiça, sua atuação como consultor político para um partido ucraniano pró-Moscou entre 2012 e 2014.
Como notícias boas têm sido raras, Trump comemorou a liberação, pela Suprema Corte, da aplicação parcial de seu veto à entrada no país de viajantes vindos de seis países muçulmanos, medida que estava suspensa pela Justiça desde fevereiro. Como o efeito prático da suspensão é pequeno, a imprensa americana gastou mais tempo tripudiando sobre uma descoberta singular: cinco hotéis de Trump ostentam, na parede, uma capa da revista Time, de 2009, que o cobre de elogios. A capa, porém, é falsa. É fake news.
Publicado em VEJA de 5 de julho de 2017, edição nº 2537