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A nova ordem global

Aclimatação dos ritmos jamaicanos à latinidade de Porto Rico, o reggaeton ganhou o mundo com 'Despacito' — e já se mistura até ao sertanejo universitário

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 nov 2017, 06h00 - Publicado em 3 nov 2017, 06h00
(Arte/VEJA)

O Mofongo, acepipe típico da culinária porto-riquenha, é feito de banana-da-terra amassada e combinada a outros ingredientes variáveis: carne de porco ou gado, caldo de frango, camarão. A música desse território caribenho produziu um mexido similar. Batizado de reggaeton, ele tem como base o reggae eletrônico — criação de outra ilha caribenha, a Jamaica — misturado ao hip-hop. Ao contrário do regionalíssimo mofongo, o reggaeton já ultrapassou sua terra natal. Tornou­­-se o principal produto de exportação musical de Porto Rico depois da explosão do Menudo, no início dos anos 80, graças, sobretudo, a Despacito, dueto do cantor Luis Fonsi com o rapper Daddy Yankee que liderou a parada de 59 países e cujo vídeo teve mais de 4 bilhões de visualizações. O ritmo globalizou-se: foi adotado por vários países de língua espanhola — e, mais recentemente, inglesa, com a adesão de Justin Bieber e Ed Sheeran. No Brasil, o flerte com o reggaeton chega via Colômbia, país vizinho que abraçou o mofongo musical com entusiasmo. Dois astros do gênero têm feito sucesso por aqui: Maluma, conhecido por parcerias com Anitta e o sertanejo Lucas Lucco, e que na próxima semana se apresenta em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília; e J. Balvin, também parceiro de Anitta. Seu Mi Gente — com participação de Beyoncé — substituiu Despacito nas paradas latinas dos Estados Unidos. “Ouço reggaeton desde criança, mas a Colômbia não tem tradição local no ritmo. Estamos construindo isso agora”, diz J. Balvin.

Quando surgiu em Porto Rico, no início dos anos 90, o ritmo então chamado de “reggae em espanhol” era mais próximo de seus antepassados jamaicanos: as batidas eletrônicas eram brutais e as letras falavam de sexo e violência. O termo reggaeton foi criado no início do século XXI, quando o gênero já estava mais aclimatado à terra do mofongo. Gasolina, sucesso que Daddy Yankee emplacou em 2004, ainda trazia uma letra carregada de insinuações sexuais. Despacito, mais suave, já é o reggaeton fast-food.

O reggaeton ensaiou entrar no Brasil em 1997, quando o grupo de samba Art Popular usou Pu Tun Tun, do panamenho El General, como inspiração da batucada Requebrabum. “Percebi que a batida do reggaeton tinha semelhanças com as palmas do partido-alto”, explica o cantor e compositor Leandro Lehart. Como na mistura cabe virtualmente tudo, o gênero se adapta até ao sertanejo universitário. A dupla paranaense Pedro Paulo & Alex faz reggaeton caipira: “Sou um caubói que usa chapéu, mas coloco bandana e arrebento na break dance. Tem de ter a vibe”, diz Pedro Paulo.

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Maluma, depois de Anitta, buscou outro parceiro brasileiro, Nego do Borel — os dois cantam no novo single Corazón. Ivete Sangalo e Claudia Leitte temperaram a animação baiana com o ritmo latino, e Wesley Safadão flerta com o gênero. Massificado e diluído, o ritmo porto-­riquenho de raízes jamaicanas está se tornando obrigatório para artistas latino-americanos com ambições internacionais. Mas é o tipo de fenômeno que corre o risco de se esgotar depois de um punhado de hits. Esse mexido pode ficar enjoativo.

Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2017, edição nº 2555

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