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A febre do leite dourado

Chega ao Brasil o hábito americano de consumir bebidas à base de cúrcuma. Propriedades da especiaria podem ser benéficas — mas estão longe de fazer milagres

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 Maio 2018, 06h00 - Publicado em 4 Maio 2018, 06h00

Vitaminas que prometem corpo esbelto e ânimo no cotidiano vêm e vão como ondas no mar. Se não existissem, seria preciso inventá-las. A estrela da hora são as bebidas à base de cúrcuma, vendidas nos Estados Unidos em quantidades garrafais. É o golden milk, ou leite dourado. Em doses pequenas ou maiores, misturado com leite, o preparo de cor alaranjada é consumido sobretudo por quem pratica esportes, está em busca de disposição, bem-estar e, é claro, emagrecimento. O modismo já começou a desembarcar no Brasil. Aqui é possível comprar a mistura pronta em lojas de produtos naturais. Os consumidores dizem que os efeitos do leite dourado podem ser reais. A atriz americana Gwyneth Paltrow, a socialite Kourtney Kardashian e a estilista Victoria Beckham, entre outras, publicaram recentemente nas redes sociais os benefícios experimentados e receitas com o ingrediente. Diz a nutricionista Patricia Davidson Haiat, do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional: “A cúrcuma tem um potencial enorme para a saúde por ser uma das especiarias mais ricas em qualidades medicinais”.

Também conhecida como açafrão-da-terra, a cúrcuma é uma raiz cultivada desde a Antiguidade na Ásia. Ela é usada especialmente como tempero, dando um sabor picante e ao mesmo tempo adocicado aos alimentos. No leite, o sabor forte se dissipa. Os estudos de benefícios para a saúde ganharam velocidade na última década. Na maior base de dados científicos do mundo, o PubMed, há 4 438 pesquisas publicadas sobre a cúrcuma — o dobro em relação ao número de trabalhos sobre outros temperos. Seu poder está em sua substância mais abundante, a curcumina. Concentram-se nela pelo menos quatro propriedades essenciais para o funcionamento do organismo. Trata-se de um poderoso antioxidante, capaz de reduzir os danos causados pelos radicais livres — partículas que danificam a membrana celular, alteram o DNA e provocam a morte das células —, o que traria como consequência mais disposição. Ela é termogênica, característica que ajuda na aceleração do metabolismo — associada ao emagrecimento. É analgésica, contribuindo para o bem-estar. E, por fim, é anti-inflamatória, com poder de impactar no tratamento de doenças.

A curcumina é um dos anti-inflamatórios mais potentes já estudados. Tem efeito comparável ao dos corticoides, uma classe de medicamentos com essa ação controlada e estabelecida. Essa sua propriedade foi alvo de um trabalho publicado em março deste ano no The American Journal of Geriatric Psychiatry, que mostrou o papel da especiaria no combate a uma das doenças de origem neurológica mais complexas e de difícil tratamento — o Alzheimer. Em pacientes com problemas de memória, o consumo de cúrcuma ao longo de dezoito meses reduziu os sintomas e diminuiu o nível de duas proteínas cerebrais associadas ao Alzheimer, a tau e a beta-­amiloide. Os resultados do estudo foram atingidos com o equivalente a uma colher de chá diária de cúrcuma. Para os efeitos procurados por pessoas saudáveis, essa porção também seria suficiente. A ingestão de uma quantidade maior, frise-se, não controlada por um médico, pode ser arriscada, provocando agressões ao estômago e alergias. A cúrcuma faz bem — mas está longe de ser milagrosa, e em dose exagerada faz mal.

Publicado em VEJA de 9 de maio de 2018, edição nº 2581

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