Conversas e impressões da Operação Lava Jato trocadas entre o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Jorge Zelada e seu sócio, o empresário Raul Schmidt Fellipe Filho, mostram como o ex-dirigente da petroleira analisava os rumos da investigação sobre o maior escândalo de corrupção do país – que, meses depois, levaria ele próprio para a cadeia por suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro. Dez dias depois da prisão do ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, em 14 de novembro de 2014, Schmidt, investigado na Lava Jato por suspeitas de ter recebido propina em contratos de navios-sonda da Samsung Heavy Industries, alegava que a detenção de Duque era uma “tortura”.
“Você não imagina como estou sofrendo por nosso amigo e irmão. Torço para que tudo se resolva rapidamente. Na verdade, fica tão difícil expressar o que estou e tenho sentido. Parte de mim está aí. O carinho que eu sinto pelo Duque é tão grande que estou surpreendido. Acho que nunca estive tão triste em toda a minha vida”, exagerou o empresário. “Experiência igual, nem pensar, imaginar como ele está agora, é uma tortura pra mim”, disse.
Mais comedido, Zelada respondeu em um serviço de mensagens instantâneas: “Compartilho exatamente. O advogado foi hoje para Curitiba. A ver o que ele diz”.
No início deste ano, com Duque já solto por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), mas com os investigadores da Lava Jato ampliando cada vez mais as apurações voltadas a prováveis nichos de corrupção, como contratos do setor elétrico e mediações de lobistas ligados a próceres petistas como o ex-ministro José Dirceu, Jorge Zelada resumiu as impressões sobre o destino da Lava Jato. “Acho que a pancadaria volta”, disse a Raul em mensagem de 2 de janeiro.
Em maio, menos de depois meses antes de ele próprio ser preso por ordem do juiz Sergio Moro na 15ª fase das investigações, o ex-gerente arrisca uma previsão: “Tentando manter a normalidade. Não há consequências ainda”. Na época, ainda havia algum grau de comemoração pelo estado de Renato Duque, ex-diretor que poderia revelar em detalhes o intrincado esquema de corrupção na Petrobras e incriminar ex-diretores e autoridades políticas. Em 1º de junho, questionado por Raul sobre “notícias do Renato”, Zelada responde com algum otimismo: “sim, está firme”. Pouco tempo depois Duque começou a negociar, ainda sem sucesso, um acordo de delação premiada.
Zelada foi o quarto ex-diretor da Petrobras a responder formalmente a uma ação penal por conta do escândalo do petrolão – antes dele, também se tornaram réus os ex-diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Renato Duque (Serviços) e Nestor Cerveró (Área Internacional). A principal suspeita contra Jorge Zelada, sucessor de Nestor Cerveró na petroleira, é a de ter recebido propina para beneficiar a empresa americana Vantage Drilling no contrato de afretamento do navio-sonda Titanium Explorer.
Segundo a acusação do MP, pelo menos 31 milhões de dólares do esquema foram parar nas mãos de Zelada, de Musa e do PMDB, responsável pelo apadrinhamento político do ex-dirigente. Apesar da denúncia, ainda não há referências diretas a políticos peemedebistas que possam ter recebido propina nesses contratos envolvendo navios-sondas.