Uma omissão na extensa lista de criticados por Arthur Lira
Deputado já responsabilizou diferentes auxiliares do presidente por problemas na articulação política, mas até aqui, em público, poupa Lula
Desde o início do terceiro mandato de Lula na Presidência da República, o deputado Arthur Lira (PP-AL), comandante da Câmara, reclama da articulação política do governo. Ele alega que acordos não são cumpridos e que as disputas de poder entre ministros atrasam as nomeações e liberações de verbas combinadas com os congressistas.
O primeiro alvo das críticas de Lira foi o chefe da Casa Civil, Rui Costa. Chamado de “trator” quando começou a dar expediente em Brasília, o ministro teve sua demissão sugerida pelo presidente da Câmara a Lula ainda no primeiro semestre do ano passado, como o próprio parlamentar admitiu numa entrevista.
Hoje, os dois têm uma boa relação, tanto que a indicação de Lira para comandar a Caixa foi encaminhada a Rui Costa, e não ao ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Desafeto da vez
Principal responsável pela articulação política do governo, Padilha é agora o alvo prioritário de Lira, que o chamou recentemente de incompetente e desafeto pessoal. Se dependesse do presidente da Câmara, Padilha já teria sido substituído pelo líder do governo na Casa, deputado José Guimarães (PT-CE), mas Lula não aceita fazer a troca.
Grupo político do qual Lira é expoente, o Centrão trabalha desde sempre para assumir o Ministério da Saúde, chefiado por Nísia Trindade. O bloco parlamentar reclama de lentidão na liberação de recursos pela pasta, das regras baixadas para permitir o desembolso dos valores indicados por deputados e senadores e culpa Padilha, padrinho da indicação de Nísia, pelas dificuldades enfrentadas. A crise entre as partes está longe de terminar.
Na última semana, Lira acrescentou mais um nome à lista de criticados: o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido). O motivo foi o adiamento da sessão que analisaria os vetos presidenciais. O deputado não queria o adiamento e credita a decisão — tomada pelo do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que chefia o Legislativo — à atuação de Rodrigues.
Sujeito oculto
Um dos parlamentares mais poderosos do país, Lira quase nunca abandona a pregação contra a articulação política. O deputado muda os destinatários das queixas, mas sempre poupa, em público, Lula. Em conversas reservadas, no entanto, ele costuma dizer a aliados o que realmente pensa. Nelas, sobram reclamações sobre a tímida participação do presidente nas negociações com o Congresso e sua negligência diante dos desentendimentos entre os ministros.