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Um a cada quatro novos deputados federais estreia na Câmara e na política

Dos 513 que tomam posse nesta sexta-feira, 118 nunca ocuparam cargo público ou eletivo; outros 132 já têm experiência, mas chegam ao Congresso pela 1ª vez

Por Ariane Ueda e José Benedito da Silva
Atualizado em 1 fev 2019, 16h04 - Publicado em 1 fev 2019, 07h00

Eles nunca foram tantos. A nova Câmara dos Deputados, que toma posse nesta sexta-feira, 1º, é a que ostenta o maior porcentual de deputados federais novatos desde a eleição de 1986, logo após a redemocratização do país – 49% dos 513 parlamentares nunca estiveram nessa função.

Mas dentro desse porcentual, há um grupo expressivo de parlamentares ainda mais novatos, que nunca ocuparam qualquer cargo público ou eletivo anteriormente – na vida política foram alçados diretamente ao Congresso Nacional. Há 116 parlamentares nessa condição, o que representa quase um a cada quatro deputados que vão assumir seus mandatos.

A onda que levou Jair Bolsonaro à Presidência da República explica parte do fenômeno. Do total de estreantes na carreira política, quase um terço deles – 38 parlamentares – são filiados ao PSL, o mesmo partido do presidente, segundo levantamento feito pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar),

Em segundo lugar, distante, com 7% desse universo, vem outro fenômeno da eleição, o Novo, legenda que estreou na última campanha elegendo oito deputados, todos novatos na carreira política. Partidos de esquerda que estiveram alinhados à candidatura de Fernando Haddad, o PT e o PCdo B, por exemplo, só elegeram um totalmente estreante cada um na última eleição.

“Isso (a renovação) significa o desejo dos eleitores, ainda que irracional. Ela não foi refletida pela busca de mudanças profundas, mas apenas pelo desejo de renovação. A renovação pela renovação, para ter gente nova”, afirma Marcos Verlaine da Silva Pinto, analista político do Diap.

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Entre os totalmente novatos, a maioria é de empresários (24), mas chama a atenção a presença de militares ou policiais (18 eleitos), mais afinados com o discurso bolsonarista, como a policial militar Katia Sastre (PR-SP), 42 anos, que ficou célebre após ser filmada matando a tiros um assaltante em frente à escola da filha em Suzano, na Grande São Paulo.

Há também gente que ganhou projeção política em movimentos de rua contra os governos petistas, como Kim Kataguiri (DEM-SP), líder do Movimento Brasil Livre (MBL), Carla Zambelli, ativista do Nas Ruas, e Alexandre Frota, ator que participou com destaque das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT).

O desejo de mudança levou até um herdeiro da antiga família real brasileira, o príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança, à Câmara dos Deputados, do mesmo PSL de Bolsonaro e também de São Paulo, como Frota, Kataguiri, Zambelli e Sastre.

O Sudeste, aliás, foi a região com a maior concentração de eleitos pela primeira vez para um cargo público: detém 42% dos parlamentares nessa condição. Em primeiro lugar aparece São Paulo, com 19 deputados federais, seguido por Rio de Janeiro (18) e Minas Gerais (11).

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Kataguiri, com 23 anos, conquistou o cargo com 465.310 votos, um desempenho expressivo até para políticos experientes. Ele considera essa renovação um desdobramento natural do processo político que o país atravessa, com participação popular cada vez maior, principalmente via redes sociais.

Ele também cita a insatisfação do eleitor com a maneira como as coisas vinham sendo feitas pela classe política. “A população pode esperar muito mais embates ideológicos do que havia nas legislaturas passadas. Debates importantes como os da reforma tributária, previdenciária e política”, afirma.

Katia Sastre, eleita com 264.013 votos, vai na mesma linha de raciocínio. Ela acredita que as urnas deram um recado muito claro: os eleitores queriam renovação, representantes próximos e disponíveis, honestos, transparentes e que falassem de igual para igual, com a mesma linguagem do eleitor.

“Isso significa, por um lado, que nós, os eleitos, temos uma responsabilidade ainda maior, porque a expectativa da população é muito alta. Por outro lado, significa que temos o aval dela para implementar uma nova mentalidade no Congresso e no governo federal. Claro que o primeiro mandato é cheio de desafios e expectativas, mas estamos dispostos a superá-los”, afirma.

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Dificuldades

A principal dificuldade daqueles que nunca estiveram em um Legislativo antes pode ser o entendimento da máquina. A Câmara possui uma dinâmica que deve continuar a mesma. Um projeto de lei precisa passar pelas comissões temáticas e de Constituição e Justiça, ser colocado em pauta, votado em dois turnos etc. A tramitação das matérias depende muito de acordos de lideranças, postos geralmente ocupados por políticos mais experientes.

“A vontade de trabalhar dos novatos pode ser maior, mas o desempenho dificilmente será melhor. Além do desconhecimento da parte burocrática, é preciso estabelecer um relacionamento com os colegas, o que leva um pouco de tempo. A instituição tem sua cultura – e alterar cultura, em condições normais de temperatura e pressão, é algo que leva tempo. Um lugar com 513 parlamentares tem uma inércia própria que as vontades individuais dificilmente alteram”, acredita o cientista político Rubens Figueiredo.

Perfil

Entre os totalmente novatos, chama a atenção também o alto porcentual de homens: são 78% do total contra 22% de mulheres. Entre elas está a cientista política e astrofísica Tabata Amaral (PDT-SP), eleita com 264.450 votos na primeira eleição que disputou.

Integrante de um partido de centro-esquerda, que apoiou a candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência da República, ela deve fazer parte da minoria que não se alinhará automaticamente a Bolsonaro.

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“Sei que vou encontrar um Congresso muito dividido, mas estou segura de que o diálogo é o melhor caminho. Pretendo conversar, não apenas com os parlamentares de todos os partidos, mas também com a população”, afirma a deputada, eleita com outros parlamentares alinhados ao Movimento Acredito, que prega a renovação nas práticas políticas.

Para ela, o embate ideológico entre direita e esquerda, que tem dividido o país nas últimas eleições, e o modo tradicional de fazer política devem ser as maiores dificuldades dos totalmente novatos na política. “Sem dúvida a polarização e as antigas práticas (serão as dificuldades). Meu desafio é sair das discussões rasas e polarizadas e propor pautas que realmente sejam do interesse da população”, defende.

Com a educação como pauta prioritária, ela disse que foi um desafio se lançar na política. “Hesitei muito em me candidatar, resolvi na última hora. Trabalho há muitos anos com educação, graças às oportunidades que tive, e a motivação veio do sentimento de que só com vontade política as coisas realmente acontecem. Ou jogamos a toalha ou tentamos mudar a política”,afirma.

Para o igualmente novato Túlio Gadêlha (PDT-PE), 31 anos, também alinhado à centro-esquerda, a onda conservadora pode potencializar retrocessos e estreitar os espaços de debate na Câmara. “Por outro lado, percebo que o caminho de muitos dos novos deputados ainda está em disputa. Isso significa que teremos o diálogo como instrumento estratégico de conquista das frentes progressistas”, diz.

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Derrocada

Os “superpartidos”, como eram o PT, PMDB e PSDB nas legislaturas anteriores, perderam espaço na nova Câmara. Todos perderam deputados: os petistas foram de 61 para 54, os emedebistas recuaram de 51 para 34 e os tucanos sofreram o maior baque – tinham 49, agora têm 29.

As composições na Câmara agora deverão envolver um número muito maior de legendas – são 29 na atual legislatura contra 24 na que acabou de se encerrar . “Como o verniz ideológico da maioria é alinhado com a plataforma que elegeu Bolsonaro, algumas propostas podem ser aprovadas com maior facilidade. A Câmara deu uma guinada para a direita, os candidatos identificados com Bolsonaro e o antipetismo tiveram grande votação”, diz Figueiredo.


Adriana Ventura
49 anos
NOVO-SP
Administrador

Adriano do Baldy
49 anos
PP-GO
Administrador de empresas

Alê Silva
44 anos
PSL-MG
Advogada

Alex Santana
46 anos
PDT-BA
Corretor de imóveis

Alexandre Frota
55 anos
PSL-SP
Ator

Alexis Fonteyne
51 anos
Novo-SP
Empresário

André Janones
34 anos
Avante-MG
Advogado

Aroldo Martins
57 anos
PRB-PR
Comunicólogo

Bia Kicis
57 anos
PRP-DF
Advogada

Bibo Nunes
61 anos
PSL-RS
Jornalista e apresentador de TV

Bosco Costa
68 anos
PR-SE
Administrador

Cabo Junio Amaral
31 anos
PSL-MG
Policial militar

Capitão Alberto Neto
36 anos
PRB-AM
Policial militar

Carla Zambelli
38 anos
PSL-SP
Gerente

Carlos Veras
37 anos
PT-PE
Agricultor

Caroline de Toni
32 anos
PSL-SC
Advogada

Célio Moura
65 anos
PT-TO
Advogado

Chris Tonietto
27 anos
PSL-RJ
Advogada

Coronel Luiz Armando Schroeder Reis
61 anos
PSL-SC
Militar reformado

Coronel João Chrisóstomo
59 anos
PSL-RO
Engenheiro

Coronel Márcio Tadeu Anhaia de Lemos
53 anos
PSL-SP
Militar

Daniel Silveira
36 anos
PSL-RJ
Policial militar

Daniela Moté Carneiro
42 anos
MDB-RJ
Professora

Antônio Furtado
46 anos
PSL-RJ
Delegado

Marcelo Freitas
42 anos
PSL-MG
Delegado da PF

Pablo Oliva
42 anos
PSL-AM
Delegado da PF

Denis Bezerra
38 anos
PSB-CE
Advogado

Frederico de Castro Escaleira
41 anos
Patri-MG
Bombeiro militar

Jaziel Pereira de Souza
57 anos
PR-CE
Médico

Luiz Osvaldo
34 anos
PSL-MS
Advogado

Luiz Antonio de Souza Teixeira
45 anos
PP-RJ
Médico

Zacarias Calil
65 anos
DEM-GO
Médico

Vanda Milani
65 anos
SDD-AC
Juíza

Marina Santos
38 anos
PTC-PI
Médica

Soraya Manato
57 anos
PSL-ES
Médica

Eduardo Bismarck
37 anos
PDT-CE
Advogado

Emanuel Pinheiro da Silva Primo
23 anos
PTB-MT
Empresário

Enrico Misasi
24 anos
PV-SP
Advogado

Fábio Schiochet
30 anos
PSL-SC
Empresário

Felício Laterça
51 anos
PSL-RJ
Servidor público federal

Felipe Rigoni
27 anos
PSB-ES
Engenheiro

Fernando Monteiro
42 anos
PP-PE
Empresário

Fernando Rodolfo
35 anos
PHS-PE
Jornalista

Flavia Arruda
38 anos
PR-DF
Empresária e professora

Flávio Nogueira
65 anos
PDT-PI
Médico

Flordelis dos Santos de Souza
57 anos
PSD-RJ
Administradora

General Girão Monteiro Filho
63 anos
PSL-RN
Militar

General Roberto Peternelli
64 anos
PSL-SP
Militar

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37 anos
Novo-SC
Advogado

Glaustin da Fokus
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PSC-GO
Empresário

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PSL-SP
Administradora

Gutemberg Reis
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MDB-RJ
Empresário

Haroldo Cathedral
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PSD-RR
Empresário

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PSL-CE
Administrador

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PRB-SC
Jornalista

Helio Fernando Barbosa Lopes
49 anos
PSL-RJ
Subtenente do Exército

Hercílio Coelho Diniz
55 anos
MDB-MG
Empresário

Idilvan Alencar
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PDT-CE
Servidor público estadual

Igor Timo
36 anos
Pode-MG
Empresário

Jaqueline Cassol
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PP-RO
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João Campos
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PSB-PE
Engenheiro

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Bacharel em Direito

Joenia Wapichana
45 anos
Rede-RR
Advogada

Joice Hasselmann
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PSL-SP
Jornalista

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Empresário

Junior Marreca Filho
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Patri-MA
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Kim Kataguiri
22 anos
DEM-SP
Ativista e Conferencista

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Contadora

Lourival Gomes
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PSL-RJ
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Lucas Gonzalez
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Novo-MG
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DEM-DF
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Luiz Lima
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PSL-RJ
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Luiz Philippe O. Bragança
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PSL-RJ
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PSDB-AC
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PCdoB-MA
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Empresário

Marcos Aurélio Sampaio
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Pastor

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PPS-DF
Empresária

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Novo-RJ
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Paulo Martins
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PSC-PR
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Pedro Bezerra
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PTB-CE
Sociólogo

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PR-SP
Policial militar

Luiz Flavio Gomes
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PSB-SP
Advogado e professor

Dayane Pimentel
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Professora

Joziel Ferreira Carlos
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PSL-RJ
Militar reformado

Rosa Neide
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PT-MT
Professora

Rosana Valle
49 anos
PSB-SP
Jornalista

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PSL-RS
Servidor público

Sargento Gilson Fahur
55 anos
PSD-PR
Policial militar

Gurgel Soares
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PSL-RJ
Policial civil

Tabata Amaral
25 anos
PDT-SP
Cientista política e astrofísica

Tenente Guilherme Derrite
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PP-SP
Policial militar

Tiago Dimas
30 anos
SDD-TO
Empresário

Tiago Mitraud
32 anos
Novo-MG
Administrador

Loester Gomes de Souza
36 anos
PSL-MS
Empresário

Túlio Gadêlha
31 anos
PDT-PE
Servidor público federal

Vavá Martins
36 anos
PRB-PA
Radialista

Nelci Coguetto Vermelho
59 anos
PSD-PR
Advogado

Vilson Luiz da Silva
61 anos
PSB-MG
Agricultor

Vinicius Poit
32 anos
Novo-SP
Administrador

Wladimir Garotinho
33 anos
PRP-RJ
Empresário

José Mário Schreiner
57 anos
DEM-GO
Técnico em agronomia e agrimensura

José Vitor Aguiar
34 anos
PMN-MG
Engenheiro
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