Eleito na onda do antipetismo e do conservadorismo, o presidente Jair Bolsonaro saiu do pleito de 2018 com o apoio de 15 governadores eleitos. Com a sua propensão ao confronto e a condução errática no combate à pandemia de Covid-19, os apoios foram se esfacelando ao longo dos últimos dois anos de governo a ponto de, hoje, os maiores opositores do seu governo serem alguns chefes dos estados mais populosos do país.
O mais incisivo deles é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que não esconde as ambições de concorrer à Presidência da República em 2022. Na última segunda-feira, 15, o tucano endureceu o tom, chamando Bolsonaro de “genocida” — disse que vai ajudar a levar o presidente a tribunais internacionais para ser julgado pelo “genocídio que está cometendo contra a população”. “Daqui a pouco vai faltar oxigênio, daqui a pouco vão faltar condições básicas para o país, que vive a sua maior tragédia, e temos um presidente que sorri, que anda de jet-ski, que come leitãozinho e despreza a vida. Pois eu desprezo Jair Bolsonaro e desprezo todos que, como ele, são negacionistas”, disse Doria.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que sempre prezou pela moderação nas palavras, também criticou Bolsonaro pelo que considera “uma desunaminidade e desprezo pela vida”. “É difícil entender a mente do presidente, mais difícil ainda entender o seu coração, porque é questão de desumanidade, de desprezo pela vida, isso choca quando a gente vê isso no presidente da nação”, afirmou ele no início de março. São Paulo e Rio Grande do Sul estão entre os estados que enfrentam a situação mais crítica desde o início da pandemia em 2020.
Ao lado dos dois tucanos, dois governadores petistas também têm se destacado pela posição crítica ao governo federal. O mais enfático é o da Bahia, Rui Costa (PT), que se declarou indignado com “essa postura de matar diariamente milhares de pessoas”. “São mortes que não precisariam [acontecer] se tivesse o mínimo de sensibilidade humana da Anvisa e do governo federal. Hoje eu tenho 300 pessoas pedindo desesperadamente um leito de UTI. Enquanto isso, absoluta insensibilidade e o presidente da República fazendo ‘gracinha’, mandando mensagens para sua ‘tropa de choque’ ficar atacando governadores e prefeitos”, afirmou Costa.
Alçado ao posto de representante dos demais mandatários, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), prefere tons mais moderados para se referir ao presidente e até chegou a mandar “agradecimentos” ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, após a decisão sobre a saída dele do cargo. Apesar disso, ele divulga vídeos quase diariamente cobrando uma coordenação nacional do governo federal no combate à pandemia.
Nas últimas semanas, com o agravamento da crise praticamente em todos os estados, o governo Bolsonaro também começou a ser alvo de queixas de governadores que antes eram considerados seus maiores aliados.
A VEJA, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), criticou a falta de “coordenação central” e a lentidão na compra das vacinas. “Só chegamos a esse ponto devido à falta de coordenação central desde o início da pandemia, um tratamento único para todo o Brasil, com linguagem e posição única à população. Uma comunicação mais esclarecedora e não ‘confundidora’, como aconteceu”, disse ele.
Mas também há o grupo de governadores que continuam fechados com o presidente, por motivos que vão de estratégia política à dependência econômica que alguns estados têm do governo central. Um deles é o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC). “Bolsonaro é o meu candidato. Gosto dele, acredito nele. nós estamos aqui por causa da onda bolsonarista, que teve mesmo. Seria um contrassenso não estar com ele”, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta sexta-feira.
Veja abaixo o termômetro da posição política dos governadores em relação ao presidente: