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Rodrigo Maia: ‘Bolsonaro fala a nichos. A sociedade tem outra pauta’

Em entrevista a VEJA, deputado diz que o presidente ‘foca muito esses temas que são mais do cotidiano e não olha para uma agenda de longo prazo’

Por Da Redação Atualizado em 25 jun 2019, 16h40 - Publicado em 21 jun 2019, 07h00

O deputado Rodrigo Maia falou a VEJA, na quarta-feira 19, na residência oficial do presidente da Câmara. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Depois de quase seis meses de governo, o senhor consegue dizer qual é a agenda do presidente Jair Bolsonaro para o país? O presidente tem uma agenda muito voltada para os segmentos da sociedade que o levaram ao Palácio do Planalto. Ele fala a nichos bem específicos. Fala ao caminhoneiro, ao pessoal das armas, aos evangélicos, aos militares. Foca muito esses temas que são mais do cotidiano e não olha para uma agenda de longo prazo. Já a sociedade tem outra pauta. Está preocupada com o desemprego, a conta de luz, a violência nos bairros. A gente precisa ter responsabilidade com a recomposição dos serviços públicos e a geração do emprego. É essa a intenção da agenda que está sendo proposta pelo Congresso.

O governo não está preocupado com isso? O presidente representa setores da sociedade com estabilidade no emprego, como as Forças Armadas e os policiais militares. Bolsonaro nunca falou aos brasileiros mais simples. O ministro Paulo Guedes menos ainda. Acho que está faltando alguém que consiga elaborar uma política para a base da sociedade, para as famílias que ganham dois ou três salários mínimos. A situação social no Brasil é de tamanha calamidade, a ponto de eu chamá-la de colapso social, que não dá para ficar perdendo tempo com uma agenda transversal. Quero priorizar uma agenda para o emprego e para a redução de desigualdade.

O senhor não teme que sua iniciativa seja interpretada como uma disputa de poder? Não há aqui nenhuma intenção de que a Câmara e o Senado ocupem o espaço do governo, até porque muitos temas são de exclusividade do Poder Executivo. A democracia é um espaço onde se constroem maiorias. As vitórias absolutas existem em ambientes autoritários. Queremos trabalhar de forma integrada com o governo. Onde houver convergência, ótimo, mas também atua­remos com independência. E independência, como a própria palavra diz, não é submissão.

Há convergência sobre a necessidade de uma reforma da Previdência, mas o governo não gostou das mudanças feitas pela Câmara no texto. O ministro Paulo Guedes nunca participou da política. Ele sempre foi um operador de mercado, e operador de mercado atua sozinho, ganha e perde sozinho. Quando você legisla, legisla em nome de terceiros e representa setores da sociedade que muitas vezes pensam de forma diferente da do ministro e do presidente. Nós respeitamos as opiniões dos dois e achamos importante o governo participar dos esforços pela aprovação da matéria, mas a reforma será majoritariamente o texto construído pelos líderes de partido, até porque a articulação política do governo é precária. Se o governo insistir na antipolítica e bater toda vez que o resultado da votação não for 100% o que ele quer, paciência, a gente vive numa democracia, graças a Deus. Podem fazer o discurso que quiserem, mas o Parlamento tem autonomia para, de maneira respeitosa e harmônica, organizar a pauta.

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Quantos votos o governo tem hoje na Câmara? Com o governo trabalhando bem, telefonando para deputado e fazendo política, deve ter entre 100 e 150 votos. No osso, pode ser que tenha menos.

A mudança da articulação política da Casa Civil para a Secretaria de Governo pode melhorar esses números? O problema da articulação política não é do ministro, mas do governo. O presidente Bolsonaro fez grandes ministérios e delegou poderes a esses ministros, acreditando que eles conseguiriam organizar a administração. A gente sabe que isso não é tão fácil sem a participação direta do presidente.

A reclamação do ministro Guedes, então, não faz sentido?  Eu não entendi. O texto apresentado pelo relator é inimaginável para um governo que não tem base e para um tema tão difícil. Não sei se o que incomodou o Guedes foi a retirada do regime de capitalização ou o fato de ele pensar que poderia ter uma vitória absoluta no Congresso. As vitórias, como eu disse, são construídas em conjunto.

Por que o senhor reagiu à crítica dele? Respondi em nome do Parlamento, e a minha voz não mudou de tom em nenhum momento. Se a reforma da Previdência for aprovada, o protagonismo será do presidente da República e dos deputados, que foram eleitos. O ministro não foi eleito, foi escolhido. A Câmara e o Senado estão conseguindo gerar um mínimo de estabilidade necessária, enquanto o Executivo fabrica as próprias crises.

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Antes das votações que considera prioritárias, o governo costuma estimular as redes sociais a pressionar os parlamentares. Essa estratégia incomoda o senhor? Não dá para ficar preocupado com redes sociais. Se elas estivessem certas, o decreto de armas não teria caído no Senado, como aconteceu. A representação média da sociedade não está nas redes sociais, mas no Parlamento. É ali que se constroem as maiorias, sem vitórias absolutas. A pressão faz parte da democracia. O que não é democrático é ameaçar, agredir verbalmente. É até interessante. Eles (os bolsonaristas) divulgam os nossos números de celular sem nossa autorização, mas alegaram que houve invasão de privacidade quando revelaram as conversas do ministro Sergio Moro.

Publicado em VEJA de 26 de junho de 2019, edição nº 2640


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