O pedreiro Amarildo e o governador Sérgio Cabral são, desde a noite de sexta-feira, mais conhecidos na cidade de São Paulo. Amarildo Souza Lima é o morador da favela da Rocinha desaparecido desde o dia 14, quando foi abordado por policiais militares da UPP, elevado à condição de mártir dos protestos de rua no Rio. Cabral, o governador cuja aprovação despencou a míseros 12% da população do estado – de acordo com a pesquisa CNI/Ibope divulgada esta semana – está nas cordas e recebeu, no protesto que terminou em pancadaria e vandalismo na capital paulista, algo inédito: um linchamento público em um estado onde não governa.
Muitas bênçãos do papa e de todos os credos serão necessárias até que o governador peemedebista sorria em público novamente. Os protestos que haviam cessado no resto do país ressurgem como forma de “solidariedade” aos manifestantes do Rio. O do Masp foi o primeiro, e o de maior visibilidade, mas outros se desenham em Belo Horizonte e capitais que tiveram levantes no início em junho. O roteiro do protesto repetiu o dos atos no Rio: uma “manifestação pacífica” que os organizadores – sem líder – depois lamentam, pela ação de uma “minoria violenta”, no caso, os “black blocs”, que ninguém – nem a polícia – tem conseguido conter. O resultado foi a sequência de banditismo, com depredação de 13 agências bancárias, a estação Trianon-Masp do metrô, uma revenda de veículos e um furgão da TV Record.
Imagina no Leblon: o desfiladeiro de Sérgio Cabral
Na última semana, o governador tentou mais uma vez reconectar-se com a população. Recebeu a família do pedreiro desaparecido e ofereceu proteção, para o caso de serem alvo de algum tipo de ameaça. E tentou passar para os ombro de seu secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a responsabilidade sobre o que acontece com a polícia – outro alvo frequente das manifestações. “Delego a meu secretário de Segurança”, disse o governador, ao responder sobre as acusações que pairam sobre a PM, entre elas a de usar homens infiltrados nas manifestações – o que a corporação confirma, como tática para identificar criminosos entre os manifestantes, mas que não deixa de irritar os manifestantes.
O movimento em relação a Beltrame tem objetivo de anular uma equação na qual o governador tem sido perdedor. Quando a polícia pacifica, é de Beltrame; quando erra, mata ou age com truculência, é de Cabral.
De braços cruzados para trás, como a quem responde a um interrogatório, Beltrame deu entrevista logo depois justificando o uso de agentes infiltrados nas manifestações, algo que, sabidamente, já foi usado em operações contra o tráfico, contra policiais corruptos e outros tipos de crime.
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Cariocas – Criticar o governador e atribuir a ele todo tipo de malfeito é um esporte do estado, mas parece acentuado na capital. A Jornada Mundial da Juventude, evento-problema do momento, com falhas de planejamento que obrigaram o cancelamento de toda a agenda prevista para o Campo da Fé, em Guaratiba, o encontro da multidão católica causa transtornos em todas as áreas. Engarrafamentos, interdição de quase todo o bairro de Copacabana, críticas aos gastos públicos e ameaça de ações movidas pelo Ministério Público. O gestor público mais envolvido na jornada é Eduardo Paes, o prefeito, que fica com a conta de toda a operação de emergência para trazer da Zona Oeste para a Zona Sul um evento de 2 milhões de pessoas neste fim de semana.
Mas não é Paes o apedrejado. Em Copacabana, uma manifestação contra os gastos com a Jornada também mirava em Cabral – um detalhe: estado e prefeitura doaram para o evento quantias rigorosamente iguais, de 26 milhões de reais cada, apesar de o município certamente amargar prejuízo maior com os imprevistos.