Quebra de sigilo de Marconi rompe calmaria da CPI
Relator da Comissão Parlamentar de Inquérito, o petista Odair Cunha perguntou se tucano abria mão de dados telefônicos. Oposição protestou
Demorou mais de cinco horas, mas o clima esquentou durante o depoimento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), à CPI do Cachoeira. O relator Odair Cunha (PT-MG) perguntou ao tucano se ele abria mão dos sigilos telefônico. Mal conseguiu concluir a frase: a oposição reagiu imediatamente e acusou o petista de tentar burlar a pauta de votações da CPI: a quebra dos sigilos de Perillo aguarda votação do colegiado, ainda sem consenso entre os parlamentares.
O bate-boca se generalizou. “Virou inquisição?”, protestou o senador Mário Couto (PSDB-SP). A manifestação dos oposicionistas chegou a interromper a sessão por alguns instantes. Quando retomou a palavra, Odair Cunha piorou a situação: “O governador Marconi Perillo é investigado”, disse ele. A tensão explodiu: tucanos chegaram a se erguer de suas cadeiras e, aos gritos, pedir que Odair se retratasse.
Depois de ser corrigido pelo presidente da CPI, senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), Odair recuou e reconheceu que Perillo era apenas testemunha. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) ironizou: “Depois que levou um puxão de orelha…”. Odair não gostou: “Vossa excelência me respeite”.
Depois da confusão, Perillo rejeitou o pedido de Odair e não ofereceu os sigilos à comissão: “Não vejo, sinceramente, motivos suficientes, justificativas plausíveis, fundamentação para que haja quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico”, afirmou. O governador, até então sereno, também criticou a postura do relator da CPI: “Espero, senhor relator, que essa manifestação incisiva de vossa excelência não seja a antecipação daquilo que o senhor deseja que conste no relatorio final da CPI. Espero que o senhor nao esteja agindo por interesses terceiros, mas de acordo com a consciencia de vossa excelência”.
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) traduziu, em seguida, a frase de Perillo: disse que Odair estava seguindo ordens do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, interessados em jogar uma nuvem de fumaça sobre o julgamento do mensalão.
Até a confusão, a CPI transcorria num clima ameno. As perguntas ao governador se limitaram aos fatos já noticiados. Bem municiado, Marconi Perillo respondeu aos questionamentos e foi elogiado por oposicionistas. O PT não pressionou o tucano – provavelmente esperando que, nesta quarta-feira, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), receba benefício semelhante do PSDB.
Defesa – O depoimento de Perillo teve início às 10h30. O governador negou ter qualquer proximidade com Carlinhos Cachoeira, disse que seu governo não atendeu os interesses da quadrilha e afirmou que não pode responder pelas declarações de terceiros que citaram seu nome. “Nunca mantive qualquer relação de proximidade com o senhor Carlos Augusto Almeida Ramos”, disse. O governador destacou o fato de que, em 30.000 horas de gravações, foi detectada apenas uma conversa telefônica entre ele e o contraventor. Foi em 3 de maio do ano passado, quando Perillo desejou feliz aniversário a Cachoeira. “Eu não estava ligando para o contraventor, mas para um empresário do ramo de medicamentos”, disse o tucano à CPI.
Marconi Perillo apresentou documentos à CPI do Cachoeira em uma tentativa de comprovar que a venda da sua casa no Condomínio Alphaville, em Goiânia, foi regular e não envolveu a participação do contraventor Carlinhos Cachoeira. O tucano encaminhou ao colegiado anúncios de oferta da casa publicados em classificados de um jornal de Goiânia, a escritura do imóvel, cópia dos cheques que pagaram a transação e extratos bancários com a comprovação dos depósitos na conta do político goiano.
Acompanhe ao vivo o depoimento de Marconi Perillo à CPI do Cachoeira: