PT decide votar contra Cunha no Conselho de Ética
Até agora, partido atuava para salvar o presidente da Câmara – num esforço para livrar Dilma Rousseff do pedido de impeachment
A bancada do PT na Câmara dos Deputados fechou questão nesta quarta-feira pela continuidade das investigações contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Dessa forma, se algum dos três membros da legenda no Conselho de Ética votar por encerrar o processo contra Cunha, poderá sofrer sanções da sigla. O movimento se dá diante da pressão de eleitores e militantes sobre a bancada – e representa um recuo nos esforços que o Planalto e o próprio partido empenhavam até aqui para salvar o deputado. A decisão da bancada foi anunciada um dia depois do presidente do PT, o lulista Rui Falcão, pedir que os deputados do partido votassem contra o presidente da Câmara.
Os votos dos três petistas no Conselho de Ética são vistos como decisivos para definir o futuro político do chefe da Câmara nos próximos meses – e haviam se transformado em verdadeira moeda de troca entre Cunha e o Planalto: o partido ajudaria a evitar o avanço do processo de cassação, e o peemedebista arquivaria o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff. A decisão dificulta o esforço de Cunha para barrar o processo já na primeira etapa e evitar qualquer tipo de investigação contra ele.
Membros do PT se reuniram nesta tarde com o líder Sibá Machado (AC) na liderança do partido. Até a sessão do conselho de ontem, os petistas não escondiam o temor de votar contra Cunha e serem retaliados com a abertura de um processo de impeachment contra Dilma Rousseff. O Palácio do Planalto também entrou em campo para tentar poupar Cunha – e, por consequência, a presidente da República. “Eu não tenho medo dessas coisas [chantagem], eu não vim aqui para passear. Quem achar que vai me chantagear está perdendo tempo”, disse Sibá Machado após a reunião.
Na mesma linha, o deputado Léo de Brito (PT-AC), membro do conselho, disse que o partido não pode ceder a qualquer tipo de chantagem política e acredita que não haverá retaliação ao posicionamento anunciado nesta quarta. “Se tiver, vai ficar claro que existia uma moeda de troca relacionada ao Conselho de Ética”, afirmou. O petista, por outro lado, admitiu que teme as consequências da decisão. “O temor existe porque nós não sabemos o que pode vir da cabeça do presidente da Casa. É uma situação imprevisível, e nós temos de estar preparados para qualquer coisa”, disse.
Como a bancada fechou questão pela votação favorável ao parecer do deputado Fausto Pinato (PRB-SP), se qualquer um dos três parlamentares não seguir a orientação partidária, pode sofrer punições internas.
O Conselho de Ética se reuniu novamente nesta tarde. No entanto, a votação do relatório foi novamente adiada, já que há uma sessão do Congresso Nacional em andamento no plenário, o que inviabiliza qualquer outro tipo de deliberação. Na terça-feira, o grupo se reuniu ao longo de seis horas, mas sucessivas manobras de aliados de Cunha impediram a votação do parecer. A sessão de hoje foi encerrada sem nem ter sido aberta para discussões. Para a semana que vem, o presidente do colegiado, José Carlos de Araújo (PSB-BA) planeja acabar com a flexibilização da norma que estendeu o tempo das discussões.