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Em cenário polarizado, nomes como Rodrigo Garcia abrem frestas para centro

No maior colégio eleitoral do país, o governador carrega a responsabilidade de manter a hegemonia histórica do PSDB e de derrotar o bolsonarismo e o petismo

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 jul 2022, 08h00

A polarização eleitoral no Brasil, que concentra três em cada quatro votos para presidente da República em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), tragou todos os postulantes a encabeçar a terceira via ao Palácio do Planalto que colocaram seu nome no jogo nos últimos meses. Como consequência, a pobre dicotomia político-eleitoral também caminha para dar o tom em disputas regionais, onde aliados aos dois líderes da corrida presidencial protagonizam as disputas aos governos locais. Mas há alguns estados nos quais o centro consegue vislumbrar alguma fresta para avançar e derrotar os extremos da política nacional. O caso mais emblemático é o de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, com 22% dos votantes, onde o governador Rodrigo Garcia carrega não só a responsabilidade de manter uma hegemonia histórica de 28 anos do PSDB como de derrotar o bolsonarismo e o petismo e criar um contrapeso político no principal estado da federação a qualquer um que se torne presidente.

A tarefa não é fácil, mas as pesquisas recentes permitem algum otimismo aos tucanos. No Datafolha de junho, Garcia aparece empatado em 13% com Tarcísio de Freitas (Republicanos), o candidato de Bolsonaro. A liderança é de Fernando Haddad (PT), o nome de Lula, com 34%. Pesquisa Quaest, divulgada na quinta 7, mostrou situação semelhante. Em comparação ao levantamento do mesmo instituto realizado em março, Garcia subiu de 6% para 12%. Enquanto isso, no mesmo período, Haddad e Tarcísio ficaram praticamente nos mesmos lugares, oscilando dentro da margem de erro. O governador, com apenas três meses no cargo, tem alguns trunfos, entre eles o fato de ainda ser desconhecido de boa parte dos paulistas — por isso, tem percorrido o estado, feito reuniões com prefeitos e entregado um extenso pacote de obras e serviços. Também conta a favor o fato de ter baixa rejeição eleitoral (só 16% dizem que não votam nele de jeito nenhum, contra 35% de Haddad) e ao governo (apenas 15% consideram ruim/péssimo, contra 24% de ótimo/bom e 47% de regular).

Além de se tornar mais conhecido, outra estratégia é impedir que a polarização dê o tom na disputa estadual — coisa com a qual sonham Haddad e Tarcísio. O mantra da campanha é que o melhor candidato não é o de direita ou o de esquerda: é aquele que resolve os problemas. Devido à rejeição de João Doria entre o eleitorado, a despeito dos resultados positivos da gestão do ex-governador, Garcia evita citar o antecessor e vai bater na tecla de que não tem padrinho político. O alvo prioritário é Tarcísio, o candidato com quem deverá brigar por uma vaga no segundo turno. Garcia tem reforçado que Freitas não conhece o estado que pretende governar — ele morou no Rio de Janeiro e Brasília — e que fez muito pouco por São Paulo quando era ministro da Infraestrutura de Bolsonaro. “Vou mostrar, sim, que ele não vive aqui, não conhece os problemas e que não tem proposta para resolvê-los”, afirmou Garcia a VEJA. Carioca e com domicílio eleitoral transferido há pouco para São José dos Campos, no interior, Tarcísio diz que conhece, sim, o estado, e que este foi construído por imigrantes.

ALEGRIA - ACM Neto: chance de encerrar ciclo do PT na Bahia no primeiro turno -
ALEGRIA - ACM Neto: chance de encerrar ciclo do PT na Bahia no primeiro turno – (Valter Pontes/.)

Garcia também tenta avançar sobre o voto bolsonarista. O governador investe no eleitor mais à direita ao tratar de segurança pública, por exemplo, com investimento no aumento do policiamento ostensivo nas ruas, com a chamada Operação Sufoco, e dizendo que a polícia de São Paulo “não fará cafuné em bandido”. No campo político, tenta construir alianças que poderão lhe render metade do tempo de TV no horário eleitoral. Acaba de chegar a um acordo com o União Brasil e terá dez partidos na sua chapa — mostrando uma capacidade de articulação que faltou à terceira via nacional. Combinado desde o início com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), o vice de Garcia pode ser Edson Aparecido, ex-tucano recém-chegado ao MDB. A opção tem um motivo: pesquisas internas mostram que na capital a sua intenção de voto está longe da registrada no interior. Outra opção forte para a vaga é o ex-ministro Henrique Meirelles (União Brasil).

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A terceira via regional também pode ter sucesso em outros estados, como Bahia e Rio Grande do Sul, onde seus principais rivais também são nomes do bolsonarismo e do petismo. Situação mais confortável é a do ex-­prefeito ACM Neto (União Brasil), que lidera com mais de 50% das intenções de voto e pode levar o governo no primeiro turno, encerrando um ciclo petista que já dura quatro mandatos. Na disputa gaúcha, Eduardo Leite (PSDB) aparece na frente, mas seguido muito de perto pelo bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL). Ele terá, assim como Garcia, de provar ao eleitorado que fez uma boa gestão. “Os políticos que quiserem escapar da polarização terão de mostrar as realizações que fizeram. O problema é que a polarização simplifica o debate, o que só é favorável para aqueles que polarizam”, afirma Rodrigo Prando, professor de política e sociologia do Mackenzie.

Em 2018, o furacão bolsonarista ajudou a eleger muitos governadores, mas houve contrapontos importantes nos estados, como o reduto de esquerda no Nordeste e, posteriormente, São Paulo, de onde Doria liderou uma cruzada pela ciência contra o negacionismo na pandemia. Agora, candidatos como Garcia têm a missão de escapar da tentativa de repetição nas campanhas regionais da polarização entre bolsonarismo e petismo. O centro depende dessas conquistas regionais para sobreviver e, depois, sonhar com a volta do protagonismo perdido no cenário nacional.

Publicado em VEJA de 13 de julho de 2022, edição nº 2797

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